A cura da infecção por VIH é possível?

Prof. Dr. Francisco Antunes, Director do Serviço de Doenças Infecciosas do Hosp. de St. Maria e membro do Grupo Clínico da CNLCS

Desde a descrição dos primeiros casos de SIDA, 16 anos atrás, a compreensão dos mecanismos de patogenicidade, a disponibilidade de meios técnicos para monitorizar a replicação de VIH «in vivo» e o impressionante avanço no âmbito da terapêutica, com maior número e mais potentes inibidores da replicação vírica, tornam possível, pela primeira vez, encarar a possibilidade de se interromper definitivamente a replicação viral, com a consequente cura virológica.O principal obstáculo para se atingir este objectivo reside no facto de o VIH desenvolver variantes resistentes aos antiretrovíricos a que é exposto.Os fármacos actualmente disponíveis (e os que se desenham no horizonte próximo), os resultados recentes da investigação biológica da replicação de VIH e o conhecimento dos fundamentos moleculares da resistência aos antivíricos permitem encarar novas estratégias de tratamento, mais precoces e mais agressivas, por forma a retardar (ou mesmo evitar) a emergência de mutantes resistentes e conseguir-se a completa (ou quase completa) supressão de VIH em pelo menos alguns indivíduos infectados.

ANTIRETROVÍRICOS

Fármacos disponíveis ou em vias de licenciamento
 
I. Inibidores nucleósidos da transcriptase reversa
Zidovudina
Didanosina
Zalcitabina
Stavudina
Lamivudina
 
II. Inibidores da protease
Saquinavir
Indinavir
Ritonavir
Nelfinavir
 
III. Inibidores não nucleósidos da transcriptase reversa
Nevirapina
Delavirdina
Loviride

RECOMENDAÇÕES DE ACORDO COM ARN-VIH

Parâmetro ...........................................................................................Recomendação

Nível ARN-VIH sugerindo início de tratamento----------------------------> 5.000-10.000 cópias/ml e CD4/estádio clínico sugerindo progressão
> 30.000-50.000 independentemente CD4/estádio clínico

Nível ARN-VIH após início de tratamento--------------------------------Não detectável ou < 5.000 cópias/ml

Mínima descida em ARN-VIH indicadora de actividade antivírica---------Descida > 0,5 log

Modificação em ARN-VIH sugerindo falência terapêutica antivírica-----Retorno ao (ou entre 0,3-0,5 log) valor anterior ao do início da terapêutica

Frequência sugerida de determinação ARN-VIH-------------------------No início: 2 determinações (2-4 semanas intervalo)
Todos 3-4 meses ou em conjugação com CD4
Menor intervalo desde que decisões críticas devam ser tomadas
3-4 semanas após o início/modificação terapêutica

Nature Medicine, 2(6): 625-629, 1996

 

ESQUEMAS DE TRATAMENTO RECOMENDADOS

Monoterapia

ddI (ou d4T)

Combinação - análogos nucleósidos

AZT + 3TC
AZT + ddI
AZT + ddC (AZT «naive»)
d4T + ddI ou AZT

Combinação - inibidores protease

IP + AZT + 3TC
IP + AZT, ddI, ddC ou d4T
IP + AZT + ddI ou d4T

 

A carga viral

aspectos técnicos

Dr.ª Francisca Avillez e Dr.ª Helena Valle, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge

Com a saída do Despacho 280/96 do Ministério da Saúde assistiu-se a uma solicitação crescente por parte dos clínicos da quantificação do ARN do VIH. Actualmente, são vários os laboratórios, quer hospitalares, quer de outras instituições de saúde, que se encontram aptos a realizar esta nova metodologia.Nestes centros, são actualmente utilizados 3 métodos com princípios e características diferentes (Quadro I e II).Os três métodos utilizam como amostra o plasma humano e as condições de colheita e transporte encontram-se descritas no Quadro III.

QUADRO 1 - PRINCÍPIO DOS MÉTODOS

Amplicor HIV1 Monitor (Roche Diagnostics)
---RT-PCR (Transcrição reversa e amplificação)
---Detecção em microplaca por colorimetrial
 
Quantiplex HIV-RNA (Chiron Diagnostics)
---Amplificação por sinal da hibridação molecular
---Detecção por Quimioluminiscêncial
 
NASBA HIV1-RNA QT (Organon Teknika)
---Amplificação isométrica
---Detecção por electroquimioluminiscência

 

QUADRO 2 - Características dos métodos
 
-------------------------------- AMPLICOR.........QUANTIPLEX...............NASBA
Sensibilidade (cópias/ml)..............200-400............................500....................4000 (amost.-100ul) 400 (amost.-1000ul)
Volume de amostra (ul)...................200................................2000..............100 (p/4000 cópias/ml) 1000 (p/400 cópias/ml)
Nº de amostras testadas por série..9 ou 21...........................42*...............................10 ou 20
Tempo de execução.........................8h.....................6h+inc. nocturna+3h.....................6h
Subtipos detectados.........................B...................................A-F....................................A-H
*cada amostra é testada em duplicado
 
QUADRO 3 - Amostras
 
Colheita
---Sangue colhido em EDTA (ou citrato)
---Volume depende do método utilizado
 
Conservação
---Sangue total »»» temperatura ambiente, máximo 6h ou 4h, dependendo do método a utilizar
---Plasma »»» -70ºC
 
Transporte
---Sangue total »»» temperatura ambiente
---Plasma »»» gelo seco

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