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Cancro do colo do útero: prevenção é eficaz e essencial O cancro do colo do útero, também chamado cancro «cervical», é, na população feminina mundial,o segundo cancro mais frequente e, nos países Aparece após o início da actividade sexual, sobretudo a partir dos 40 anos, e o seu risco mantém-se durante toda a vida da mulher. É um cancro que está muito associado com os hábitos sexuais da mulher e do(s) seu(s) parceiro(s), pois a idade de início e número de relações sexuais, a higiene sexual, o número e a actividade sexual dos parceiros, sobretudo quando não associados com o uso de preservativos, parecem ter um importante papel no seu aparecimento. É um tumor que tem associada uma causa infecciosa, nomeadamente a infecção por algumas estirpes de papiloma vírus humano (HPV). Outro factor de risco que tem sido implicado é o tabagismo, provavelmente através da sua acção sistémica nas células do epitélio cervical. Um dos actuais problemas na génese deste tumor é o seu grande peso, nos casos de prostituição e de consumo de droga em jovens, quer pela promiscuidade sexual inerente, quer pela imunodeficiência induzida pelos hábitos toxicómanos. No entanto, e sobretudo nos países mais desenvolvidos, a sua frequência tem vindo a diminuir, sendo hoje um cancro pouco mortal. Tal deve-se a factores como o rastreio do cancro cervical, desde há muitos anos nos países nórdicos, e ao hábito cada vez mais comum de consulta ginecológica periódica com colheita de citologia cervical. É um cancro que se desenvolve lentamente, desde o aparecimento de lesões pré-cancerosas (lesões que são por vezes reversíveis, até sem tratamento), até ao aparecimento de carcinomas in situ e, finalmente, ao cancro invasivo. Este processo demora geralmente anos, o que evidencia o alto grau de potencialidade de cura deste tumor. No entanto, esta neoplasia geralmente não dá sintomas antes da evolução para cancro invasivo e apenas se manifesta, muitas vezes tardiamente, através de sangramento entre os períodos menstruais, após as relações sexuais e, por vezes, corrimento vaginal. A chave da sua prevenção está no hábito repetido de realizar citologias cervicais, o chamado teste de Papanicolau, exame simples, indolor, feito aquando dos exames ginecológicos de rotina ou da consulta no médico de família. Este exame deve ser repetido, pelo menos, de três em três anos, se não houver lesão, ou se a existência de qualquer infecção não obrigar à sua repetição após o seu tratamento. Havendo qualquer alteração na citologia, então deverá fazer-se uma colposcopia, um exame muito simples que consiste em pincelar o colo do útero com uma solução tipo vinagre, que vai colorir as células anormais de branco ou amarelo e as células normais de castanho, sendo a sua visualização feita por um colposcópio, aparelho semelhante a um microscópio, seguido ou não de uma biopsia e eventual tratamento. Estes hábitos preventivos, caso seguidos por toda a população feminina, reduziriam enormemente o aparecimento de cancros invasivos e, caso estes se desenvolvessem, seriam diagnosticados num estádio precoce do seu desenvolvimento, com garantia quase total de cura. A eficácia destas medidas preventivas é tal que, caso fossem seguidas por todas as mulheres, se reduziria muito o aparecimento de cancro cervical e o número de mortes por esta doença seria quase insignificante. A prevenção deste tumor é, deste modo, um exemplo da necessidade de uma atenção muito grande da nossa parte e da responsabilidade que todos temos na protecção da nossa saúde.
Espaço da responsabilidade da Liga Portuguesa Contra o Cancro
Texto Prof. Doutor Vítor Rodrigues* * Professor Associado da Faculdade de Medicina de Coimbra in MEDICINA & SAÚDE® Nº 41, Março 2001 |