Artigo de Saúde Pública®
Nº 80 / Maio de 2009
09 Incontinência urinária afecta um terço das grávidas
- Prof.ª Teresa Mascarenhas
É certo que a maternidade constitui uma das maiores alegrias na vida de uma mulher. Contudo, esta é também a altura em que sintomas menos agradáveis podem surgir, nomeadamente casos de incontinência urinária (IU). Saiba o que pode fazer.
Durante e após a gravidez, o corpo das mulheres sofre grandes alterações e nem todas produzem os resultados esperados. Nesta fase, o períneo é submetido a duras provas, provocando algumas fraquezas urinárias nas jovens mães, sendo que é sobretudo nos últimos três meses de gravidez que algumas mulheres dão conta de ligeiras perdas de urina. A razão é simples: o peso do bebé aumenta e os esfíncteres tornam-se mais frágeis, relaxando mais facilmente.
A Prof.ª Teresa Mascarenhas, ginecologista e presidente da Secção Portuguesa de Uroginecologia da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPUG), explica ainda que estes casos evoluem com o tempo de gravidez e é no terceiro trimestre que se regista uma maior prevalência. E são várias as razões para essa evolução:
«Em primeiro lugar, o peso do útero aumenta sobre o pavimento pélvico e bexiga. Por outro lado, todo o ambiente hormonal favorece esta situação, uma vez que, ao preparar a mulher para um parto vaginal, provoca um relaxamento de todas as estruturas musculares do pavimento pélvico.»
Estudos realizados revelam que a percentagem de mulheres incontinentes no terceiro trimestre de gravidez pode ascender aos 70%. Contudo, garante a ginecologista, «a maior parte dos casos é transitório, uma vez que os factores que levaram ao seu surgimento durante a gravidez desaparecem no pós-parto».
Assim, confirma, «seis meses após o parto, a normalidade deve estar completamente reposta, embora saibamos que nem sempre assim acontece»., pois, se há casos em que a IU desaparece por completo, outros há em que não.
«Se pegarmos numa população em que a prevalência era de 0% antes da gravidez, de certeza que no pós-parto não iremos ter 0%. Em média, temos 20% de mulheres incontinentes no pós-parto.» Então, relembra a médica, «não é só a gravidez que deve ser referenciada como factor de risco, mas também o parto, sobretudo o parto vaginal, que é, de facto, o principal factor de risco».
Quanto à prevenção deste género de casos, a médica afirma que não devem existir preocupações exageradas, sobretudo porque a maioria dos casos é, de facto, transitória no período pós-parto.
De qualquer modo, adianta, «nessa fase poderão já ser feitos alguns exercícios de fisioterapia e de reeducação muscular do pavimento pélvico, para que as mulheres tenham um melhor controlo dessas estruturas».
Mas é essencialmente nos casos de pós-parto em que se mantém a incontinência que se deve centrar maior atenção. A detecção precoce é essencial e permite oferecer às mulheres, logo de início, uma reeducação muscular que lhes devolva o controlo perineal. A solução é muitas vezes simples e, como reconhece Teresa Mascarenhas, prevenir é a solução:
«Mesmo que não tenham incontinência, as mulheres no pós-parto devem ser vistas por um especialista, no sentido de analisar a força muscular do pavimento pélvico. Poderemos até não ter ainda uma mulher com IU, mas é possível detectar já uma falha na força muscular e iniciar, desde logo, tratamento. Impõe-se, então, que a mulher no pós-parto seja vista pelo seu médico ginecologista numa visão de profilaxia da disfunção do pavimento pélvico que conduz a IU.»
Para terminar, a ginecologista afirma que «é necessário desdramatizar esta situação como sendo um episódio irreversível e que exige tratamento através de procedimentos complicados, uma vez que não é assim», garante.
«Com procedimentos minimamente invasivos podemos tratar mulheres sem grande incómodo», conclui.
Texto: Bruno Miguel Dias