Artigo de Saúde Pública®
Nº 78 / Março de 2009
09 Cerca de 25% das crianças em idade escolar têm problemas visuais
Entrevista com o Dr. Fernando Lopes Fernandes, oftalmologista.
As alterações visuais deveriam ser detectadas ainda numa fase precoce. Afinal, uma boa visão na infância vai influenciar directamente a apreensão cognitiva e, consequentemente, todos os processos intelectuais e pedagógicos.
Os primeiros exames oculares devem ser feitos logo ao nascer, aos 6 meses, entre os 2 e os 4 anos e aos 6 anos (fase de pré-alfabetização). «O exame oftalmológico da criança é extremamente importante, pois, estima-se que até 10% das que se encontram em idade pré-escolar e cerca de 25% dos menores em idade escolar têm problemas visuais», explica o Dr. Fernando Lopes Fernandes, oftalmologista.
Em idades posteriores está indicado fazerem-se avaliações de dois em dois anos, se não existir qualquer necessidade de correcção. Mas «a criança que necessita de óculos, ou a quem foi detectada qualquer outra anomalia, deverá ser observada anualmente ou com a periodicidade entendida como adequada pelo oftalmologista».
De acordo com o especialista, apesar da sua importância, os rastreios nas escolas «não são conclusivos como os efectuados pelo oftalmologista», sendo frequente encontrar «crianças em idade escolar com problemas visuais de resolução mais difícil, devido ao facto de não terem sido observadas e tratadas atempadamente».
Vigilância regular não tem idade fixa para começar
Para desfazer quaisquer dúvidas, Fernando Lopes Fernandes sustenta que não há idade fixa para começar a fazer vigilância com regularidade. Mas há, pelo menos, recomendações que podem ajudar a orientar os pais. Ou seja, «examinar a criança sempre antes de iniciar o primeiro ano escolar ou a qualquer momento, se for detectada alguma anomalia nos seus olhos».
Por outro lado, este médico também defende a realização de consultas regulares durante os primeiros anos de vida, «quando os pais apresentarem problemas oculares como estrabismo, baixa visão, graduação alta, anomalia hereditária, ou ainda por indicação do pediatra».
Uma particular atenção devem merecer, pelas razões óbvias, as crianças diabéticas, que correm risco de cegueira mais tarde, isto se não forem vigiadas e tratadas convenientemente desde cedo. Após o diagnóstico de diabetes numa criança, as directrizes de diferentes associações recomendam um exame regular para despiste de sinais de retinopatia.
«Devem começar aproximadamente aos 10 anos ou três a cinco anos após o diagnóstico de diabetes e a partir dessa altura no intervalo determinado pelo oftalmologista», sublinha Fernando Lopes Fernandes.
Principais problemas oftalmológicos a rastrear
• presença de erros refractivos,
• ambliopia,
• estrabismo,
• insuficiência de convergência,
• alterações na acomodação,
• alterações nos olhos e pálpebras relacionadas com alergias, doenças infecciosas locais ou sinais suspeitos de doenças sistémicas,
• cataratas e glaucoma, mais raros, mas de graves consequências.
Indicações mais comuns que justificam uma visita ao oftalmologista
De acordo com o oftalmologista Fernando Lopes Fernandes, todas as atenções devem estar concentradas nos seguintes sinais de alarme:
• olhos vermelhos,
• secreção,
• pupila branca ou sem reflexo,
• lacrimejo constante,
• olhos grandes, estrábicos, esbranquiçados.
• suspeitas de alteração visual se a criança se aproxima da televisão ou dos livros, pestaneja frequentemente, esfrega ou franze os olhos quando está a fixar, inclina a cabeça quando tenta ver melhor ou se existir história familiar de problemas oculares.
• uma criança que vê mal pode tornar-se desinteressada e com deficiente aproveitamento escolar. Quando estiverem presentes dificuldades na aprendizagem, leitura ou escrita, os seus olhos devem ser examinados para excluir uma causa visual.