Artigo de Saúde Pública®
Nº 75 / Dezembro de 2008
09 Olho seco: problemas associados
- Dr. João de Deus
Actualmente, estima-se que cerca de 20% da população do mundo ocidental sofra de olho seco. Trata-se de uma situação que se caracteriza essencialmente pela diminuição da lubrificação ocular.
O Dr. João de Deus, oftalmologista, fala sobre o olho seco, das causas que lhe estão inerentes e da forma como deve ser tratado.
O especialista esclarece que é «um processo patológico em que todas as funções fisiológicas da lágrima estão comprometidas e, por conseguinte, pode ocorrer diminuição da produção ou alteração da composição química da mesma».
Ainda de acordo com o mesmo especialista, «o filme lacrimal é constituído por três camadas, nomeadamente, uma de muco, que está em contacto directo com a superfície ocular e que é responsável pela adesão da lágrima ao olho; uma camada aquosa, intermédia, que assegura a maioria das funções; e uma camada lipídica muito fina, que se encontra em contacto com o ar e cuja principal função é evitar que a lágrima evapore».
O oftalmologista salienta também que «as razões que condicionam esta percentagem relacionam-se com as causas que lhe estão subjacentes. Ou seja, a idade, principalmente, no sexo feminino, onde após a menopausa há menor produção lipídica, o efeito secundário da utilização de determinados fármacos de uso relativamente generalizado – antidepressivos, anti-histamínicos, anticonceptivos orais – ou ainda doenças auto-imunes, como o lúpus, a artrite reumatóide ou a síndrome de Sjögren».
No entanto, hoje em dia, também é fundamental chamar a atenção para o facto de que existem outros elementos que facultam o aparecimento da doença. «Uma contribuição importante para se atingirem aqueles valores está relacionada com novos elementos civilizacionais, como o ar condicionado e o uso excessivo do computador.»
O uso de lentes de contacto também «condiciona olho seco porque, sendo a maior parte destas hidrófilas, competem com a camada aquosa e conduzem a maior evaporação», alerta João de Deus, acrescentando que «as implicações diárias na vida destes doentes dependem do quadro sintomatológico que apresentam e que podem variar desde formas mais leves a outras mais graves».
No que diz respeito ao quadro clínico, as pessoas devem prestar atenção para situações específicas como «o ardor, a irritação, o olho vermelho, a visão turva que melhora com o pestanejar, o desconforto quando existe leitura prolongada ou focagem de monitores (TV e computador) e, por vezes, paradoxalmente, lacrimejo excessivo, que se deve a situações de rápida evaporação por defeito da camada lipídica, em que a resposta orgânica é aumentar a secreção do componente aquoso», descreve o oftalmologista.
O olho seco não tem carácter sazonal, mas surge, habitualmente, de forma mais efectiva no Verão, devido ao aumento da temperatura ambiente, maior secura do ar, presença de vento e utilização mais assídua do ar condicionado.
Antes de terminar, João de Deus enfatiza que, em termos terapêuticos, tudo depende da causa que lhe está subjacente. «Nos casos de diminuição da produção da camada aquosa, é indicado o uso de terapêuticas com moléculas de hidrogel, pois melhora a viscosidade, retendo a mistura que realizam com a própria lágrima.»
«A utilização de novas terapêuticas à base de lipossomas, que vão integrar-se na referida camada, faz parte da recente abordagem do tratamento do olho seco», destaca o especialista, concluindo que, «nos casos mais graves, o recurso à terapêutica anti-inflamatória ou mesmo à ciclosporina pode revelar-se necessário como coadjuvante para inverter o curso da situação, assim como a oclusão dos pontos lacrimais, evitando a drenagem da lágrima».
Texto: Paula Pereira