Artigo de Saúde Pública®
Nº 70 / Maio de 2008
15 Antes e depois das parafarmácias
Quase três anos depois do surgimento dos primeiros
estabelecimentos de venda de medicamentos não sujeitos
a receita médica, os protagonistas do sector fazem um balanço e antecipam as mudanças que deverão ocorrer. O futuro passa pela criação de serviços associados às parafarmácias e pela realização de campanhas direccionadas para o consumidor.
Em finais de 2007, Portugal contava já com 613 parafarmácias. O valor de mercado desta área de negócio atingiu, nessa altura, os 7%. Os números são da empresa de consultadoria IMS e foram apresentados no Jantar-Colóquio da Markinfar, em Abril, sobre o mercado dos OTC (fármacos de venda livre). O encontro contou com a presença de vários especialistas que avaliaram o impacto da entrada dos medicamentos não sujeitos a receita médica no Mass Market (supermercados e hipermercados).
A Dr.ª Filomena Santos, directora de consumo para a área da Saúde da IMS, frisou que as parafarmácias ligadas às grandes cadeias de distribuição começam a ter «mais poder de negociação». A oradora sublinhou que «os preços são ainda variáveis nos diferentes canais. No Reino Unido, por exemplo, as companhias farmacêuticas já pressionam os proprietários no sentido da manutenção dos preços».
Ao contrário de outros países da Europa, Portugal tem algumas restrições: «os produtos estão visíveis, mas são intocáveis. Os OTC só podem ser adquiridos atrás do balcão e, em Itália, isso já não acontece», sublinhou Filomena Santos.
O bom desempenho dos estabelecimentos de medicamentos de venda livre foi confirmado pela Dr.ª Helena Proença, directora da área de OTC da Nycomed. De acordo com a especialista, «as parafarmácias associadas aos hipermercados estão a vender quatro vezes mais do que as farmácias. Estas últimas perdem quota de mercado e, face a isso, já começam a reagir. Prova disso é o lançamento do Cartão Farmácias Portuguesas».
A opinião dos principais grupos
Para o Dr. Paulo Monteiro, director de Nutrição, Saúde e Bem-estar do grupo Auchan, «o contexto no mercado da saúde alterou-se significativamente. Por um lado, e no que respeita à inovação, a idade dourada da indústria farmacêutica chegou ao fim. Por outro, as companhias vão ter de confrontar-se com o surgimento de mais parafarmácias e com o aumento da concorrência, também entre farmácias».
O orador afirmou que o grupo detém actualmente 11 parafarmácias, adiantando que as empresas farmacêuticas «têm de passar a ter um olhar descomplexado» sobre esta nova realidade. As áreas de Saúde e Bem-estar, na moderna distribuição, marcarão a diferença ao realizarem «acções de formação para os consumidores, rastreios e até actividades sinérgicas que envolvam as outras secções dos hipermercados, em particular aquelas associadas à alimentação saudável».
Paulo Monteiro acredita em mudanças mais profundas:
«Trabalhamos para que, daqui a dois anos, quando os clientes estiveram a preencher a sua habitual lista de compras, incluam de uma forma bastante natural produtos da área da Saúde. Esse será, para nós, o grande aferidor da confiança conquistada.»
Também o Dr. José Aguiar, director executivo da Área Saúde da Sonae Distribuição, partilha este sentimento. O grupo tem já 72 estabelecimentos para a venda de medicamentos sem receita médica e pretende chegar aos 100 até ao final do ano. «Queremos apostar na distribuição online de fármacos e temos planos para abrir lojas com vários serviços associados», disse.
O orador considera ainda que «o preço fixo imposto pelas companhias deve passar a ser praticado em função das vendas».
Em jeito de balanço, e tendo em conta que a Sonae foi quem lançou a primeira parafarmácia no país, em Outubro de 2005, José Aguiar realçou que «temos laboratórios que estão connosco desde o primeiro dia e outros que continuam de costas voltadas. Já no passado, durante o lançamento de lojas como a Worten e a SportZone, algumas empresas mostraram-se apreensivas. O tempo mostrou que não existiam razões para isso».
Texto: Abílio Ribeiro