Artigo de Saúde Pública®
Nº 68 / Março de 2008
27 Saúde Animal -
«Coração de verme»
Doença potencialmente fatal pode ser prevenida
«Doença do verme do coração» é um outro nome dado a uma doença que afecta especialmente a população canina, a dirofilariose. Os sintomas podem passar despercebidos e a doença pode somente ser descoberta quando certos órgãos vitais já foram atingidos.
Cansaço, perda de peso, tosse crónica, apatia, colapso após exercício, dificuldades respiratórias e ausência de latido. Se o seu companheiro de quatro patas apresentar algum destes sintomas é motivo para se preocupar. Pode tratar-se da sintomatologia típica de uma doença originada pelo parasita Dirofilaria immitis. Denomina-se dirofilariose canina e atinge, sobretudo, os cães.
«A dirofilariose é transmitida por mosquitos infectados com larvas de dirofilaria. Ao picar o cão, o mosquito inocula as formas larvares com a saliva. No animal, estas amadurecem até atingirem a idade adulta. Deslocam-se, alojam-se no coração e artérias pulmonares adjacentes e alimentam-se de nutrientes, que retiram do sangue dos animais», explicou o Dr. Claudio Genchi, da Faculdade de Medicina Veterinária de Milão (Itália).
Também conhecida como «larva do coração» ou «verme do coração», a dirofilariose desenvolve-se silenciosamente, podendo causar a morte.
As larvas (Dirofilaria immitis) transmitidas pela picada do mosquito infectado desenvolvem-se, podendo atingir um comprimento de 35 centímetros. Nos casos mais graves, o coração pode acolher centenas de larvas!
É necessário ter em conta que, na esmagadora maioria dos casos, é muito difícil detectar os sintomas da infecção. Não raras vezes é descoberta já numa fase avançada.
Os cães que gozam de uma vida bastante activa no exterior têm maiores probabilidades de serem «atacados» pelo «verme do coração». Afinal, estão mais expostos às picadas dos mosquitos. Os locais repletos de vegetação e onde existe água parada são de evitar, na medida em que atraem bastante os insectos. A título de exemplo, o Vale do Tejo é uma zona endémica.
O ser humano pode ser infectado
O especialista italiano advertiu que «esta patologia é uma zoonose, ou seja, pode ser transmitida aos humanos», funcionando estes como hospedeiros acidentais.
As precauções devem, pois, ser redobradas caso o animal apresente algum dos sintomas referidos. Afinal, a doença desenvolve-se silenciosamente. Todavia, tem uma diferente actuação no ser humano.
«No homem, as larvas não se desenvolvem até à fase adulta. Mas deslocam-se pelo organismo, podendo originar nódulos em vários órgãos, dependendo da localização do parasita», explicou Claudio Genchi.
Os nódulos a que o especialista se referiu não são nefastos. Contudo, podem ser confundidos com quistos ou tumores. Consequentemente, a fim de determinar que «tumor» é aquele, o indivíduo poderá ter de ser submetido a uma panóplia de exames complementares de diagnóstico (biopsia, por exemplo), ou até mesmo a cirurgias traumáticas.
Um cão doente pode transmitir a patologia aos cães saudáveis. A doença pode, deste modo, ser disseminada por uma área considerável.
Segundo Claudio Genchi, «as alterações de temperatura (aquecimento global) e a densidade das populações canina e vectorial são factores que facilitam a transmissão da dirofilariose. Por exemplo, foram detectadas mais de 70 espécies de mosquitos susceptíveis de desenvolver a larva».
Tratamento e prevenção
A doença do verme do coração tem tratamento. Porém, existe a hipótese de ser descoberta numa fase em que existem lesões tão graves que pouco ou nada há a fazer em prol da vida do canídeo. Se se instalou insuficiência cardíaca, poderá ocorrer falência do fígado e dos rins e surgir aumento de volume abdominal e líquido nos pulmões. Assim, nada como estar atento, especialmente aos sintomas enumerados inicialmente.
Este é o panorama mais negro. Não pense, contudo, que se for detectada a tempo é fácil. A terapêutica é muito cara e tem associado repouso absoluto durante várias semanas.
O ditado popular «mais vale prevenir que remediar» é mandatório. A prevenção é a atitude mais acertada para que a picada do mosquito não derive em larvas que, por sua vez, aos poucos, vão ocupando o coração e as artérias pulmonares do canino.
A atitude preventiva começa com a realização de um teste de sangue, de forma a determinar se o cão é positivo ou negativo. Se for negativo, a administração de um comprimido por mês é suficiente, ou em alternativa uma injecção anual. Existem disponíveis no mercado comprimidos com um nível de palatibilidade muito elevado, o que permite a sua administração regular como se de um «biscoito» se tratasse. Esta medida vai evitar que o animal de companhia contraia a doença.
Todavia, a escolha mais acertada será consultar um médico veterinário. Apenas este profissional poderá diagnosticar se o «melhor amigo do homem» foi contaminado e fornecer todas as informações necessárias.
Texto: SOFIA FILIPE