Artigo de Saúde Pública®
Nº 68 / Março de 2008
02 Obstipação: um problema frequente
- Dr. Paulo Souto
- Dr.ª Elsa Feliciano
A obstipação, habitualmente designada por prisão de ventre, é uma queixa muito vulgar, que pode causar grande mal-estar e levar as pessoas a procurar ajuda junto de um médico.
Na maior parte dos indivíduos saudáveis, a frequência das evacuações é inferior a três vezes por dia e superior a três vezes por semana, mas «não existe um padrão de funcionamento intestinal igual para toda a gente», explica o Dr. Paulo Souto, vogal do Núcleo de Motilidade Digestiva (NMD) da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) e assistente hospitalar de Gastrenterologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC).
Habitualmente, considera-se que uma pessoa tem problemas relacionados com obstipação quando sente dificuldade em evacuar. Ou seja, quando dois ou mais dos sintomas seguintes: «evacua de forma espontânea e completa menos de três vezes por semana, as fezes são excessivamente duras, sente uma sensação de evacuação incompleta ou ocorre um esforço excessivo em mais de 25% das ocasiões».
O especialista revela que «o aparecimento de prisão de ventre pode dever-se a doenças que afectam de forma secundária o intestino. Falo, por exemplo, de patologias neurológicas, como é o caso da esclerose múltipla, e de doenças metabólicas, das quais destaco o hipotiroidismo e a diabetes. Importa ainda sublinhar que «pode ser provocada ou agravada pela toma de diversos medicamentos».
Para além destas patologias, «a obstipação também pode ocorrer devido a diversos problemas ligados ao próprio intestino, pelo que, no caso de aparecimento recente de sintomas, devem ser efectuados estudos para excluir a existência de doenças colo-rectais».
Relativamente à população mais afectada, Paulo Souto refere que «as pessoas com mais de 65 anos são as que mais sofrem de prisão de ventre e o sexo feminino é o mais afectado».
A baixa ingestão de água, o reduzido aporte de fibras e a prática de maus hábitos de vida, comuns nas populações com estilo de vida ocidental, «são os factores de risco que mais contribuem para o aparecimento desta situação. A população deve “fugir” do sedentarismo, do stress e da prática de uma má alimentação».
Sempre que uma determinada pessoa sente que algo não está bem «tem a obrigação de se dirigir ao seu médico, que excluirá algumas das causas do problema e avaliará o tipo de obstipação, de modo a adaptar o tratamento à situação presente. O recurso a um especialista poderá ser necessário».
No que diz respeito à intervenção terapêutica, o médico garante que «a prisão de ventre deve ser resolvida através da modificação do estilo de vida e dos hábitos alimentares. As pessoas devem ingerir mais água e alimentos ricos em fibras, assim como praticar exercício físico regular», informa Paulo Souto, dizendo também que «a utilização de laxantes deve ser criteriosa, já que o uso crónico destes fármacos, de venda livre e amplamente publicitados, e/ou de outros produtos naturais, não está isenta de efeitos secundários, podendo levar ao agravamento da situação».
Qualidade de vida influencia aparecimento de obstipação
«As pessoas que sofrem de obstipação devem adoptar estilos de vida mais saudáveis, com bons hábitos alimentares e mais actividade física», aconselha a nutricionista Elsa Feliciano.
Actualmente, estão bem identificados os factores de risco que mais contribuem para o aparecimento ou agravamento da obstipação. Alimentação pobre em fibras, ingestão de água inferior ao recomendado e falta de exercício físico regular são os mais importantes. No entanto, as viagens, a gravidez, a idade avançada, a polifarmácia, a utilização abusiva de laxantes e algumas cirurgias também podem estar implicadas neste problema.
Tendo por base alguns destes pontos, Elsa Feliciano aproveita a oportunidade para mencionar que, «por norma, a obstipação aparece porque as pessoas vivem cada vez mais em stress e com menos tempo para se preocuparem com a prática de hábitos de vida saudáveis. Hoje em dia, passamos o dia a correr de um lado para o outro e descuramos os cuidados com a alimentação e com o exercício físico».
Habitualmente, a obstipação não é um problema grave de saúde. Muitas pessoas conseguem resolver a situação se alterarem os seus próprios estilos de vida. «Sabemos que este tipo de problema afecta praticamente toda a população em algum momento da sua vida», diz a nutricionista.
Para além dos cuidados com a alimentação e com o exercício físico, as pessoas também devem ingerir água diariamente nas quantidades recomendadas.
Embora não haja nenhum estudo representativo do consumo de água pela população portuguesa, há cerca de três anos, o Observatório Nacional de Saúde realizou um pequeno inquérito e os resultados publicados mostraram que, «hoje em dia, ao contrário do que é desejável, as pessoas bebem pouca água. Houve um aumento do consumo de outro tipo de bebidas, mas a ingestão de água não atinge 1,5 litro por dia e por pessoa».
É necessário ter a noção de que a água é um elemento «extremamente importante para a saúde porque facilita o processo de hidratação do organismo e é essencial para o aparelho digestivo. Os resíduos alimentares, nomeadamente as fibras, necessitam de estar bem hidratados para se deslocarem mais facilmente ao longo de todo o intestino», esclarece a nutricionista, acrescentando:
Para tentar resolver o problema, «devemos aumentar o consumo de fruta, legumes, leguminosas e cereais completos, pois, estes alimentos são os principais fornecedores de fibras».
As fibras, tanto as solúveis como as insolúveis, têm um papel muito importante ao nível do aparelho intestinal, pelo que as devemos incluir na nossa alimentação diária. «As fibras insolúveis estão presentes em maior quantidade nos cereais completos, nas leguminosas, nas cascas dos frutos e nos talos dos legumes. Por sua vez, as fibras solúveis encontram-se sobretudo nos frutos e nas partes mais tenras dos produtos hortícolas».
Ritmo Luso é uma bebida que contém água e fibras, reunindo num único produto dois dos ingredientes que podem ajudar a melhorar os problemas de regulação do trânsito intestinal. Elsa Feliciano afirma ainda que, «nos dias de hoje, as pessoas com obstipação, para além de melhorarem o seu estilo de vida, também podem utilizar esta bebida, pois, pode contribuir para o aumento do consumo de água e de fibras e ajudar a resolver o problema».
Texto: Paula Pereira