Artigo de Saúde Pública®
Nº 64 / Novembro de 2007
23 Saúde Animal - Ataque às pulgas
Desparasitar o animal de companhia e limpar algumas zonas estratégicas são duas medidas preventivas contra as pulgas. No que diz respeito à desparasitação, nem todos os produtos são eficazes. O segredo reside nos alvos e na rapidez da actuação.
Os animais de companhia podem, a qualquer momento, ser «assaltados» por pulgas e, doravante, sofrer uma redução na qualidade de vida. E não se pense que ataques destes se devem única e exclusivamente à falta de higiene. Pelo contrário. Acontecem fortuitamente. Por exemplo, durante um agradável passeio num jardim.
São insectos com aproximadamente 2 mm, têm um formato achatado e três pares de patas, sendo o último par mais desenvolvido, conferindo-lhes capacidade de salto. Eis a caracterização das pulgas.
Estes parasitas, por norma, circulam muito rapidamente à superfície da pele do animal de companhia e no intervalo dos pêlos. Como as patas possuem garras, não caem quando o hospedeiro se movimenta ou se coça porque sente as suas picadas.
Apesar de haver pulgas mais específicas do cão (Ctenocephalides canis), do gato (Ctenocephalides felis) e dos humanos (Pulex irritans), dá-se com frequência a transmissão cruzada. Ou seja, facilmente trocam de hospedeiro.
As espécies mais comuns na Europa são a Ctenocephalides canis e a Ctenocephalides felis e o ciclo biológico começa com a cópula, que acontece sobre o hospedeiro. Após a fecundação, ocorre a ovopostura, que incomoda bastante o animal. Ao coçar-se, provoca a queda de ovos. Estes, depois de eclodirem no solo, passam por metamorfoses até se transformarem em insectos adultos.
Medidas preventivas
Desde que na fase adulta (alcançada quando as condições de humidade e temperatura são as ideais), já conseguem «atacar», regra geral, quando o animal de companhia circula num local contaminado. No quintal ou num jardim público, por exemplo.
Se os donos não adoptarem medidas preventivas e estratégias de controlo, a situação pode agravar-se consideravelmente ao ponto de afectar os humanos.
Esta temática foi abordada pelo Prof. Michel Franc, da Escola Nacional de Veterinária de Toulouse (França), no 5.º Simpósio de Parasitologia e Doenças Transmitidas por Artrópodes, organizado pela Merial, empresa do ramo da saúde animal.
Para este especialista, cuja comunicação se denominava «Biologia e epidemiologia da pulga e estratégias de controlo», «o insucesso da prevenção deve-se ao uso inapropriado de um produto associado à lacuna do conhecimento do ciclo biológico, assim como à falta de informação acerca dos produtos mais adequados».
«A C. felis sobrevive entre uma e duas semanas em cães e gatos e a C. canis entre três e cinco semanas nos cães. É possível prevenir o ataque de pulgas fazendo um tratamento preventivo do hospedeiro, que trave o ciclo biológico daqueles insectos», referiu Michel Franc, indicando que um mito muito frequente «é pensar-se que todos os produtos são eficazes. É muito importante a rapidez na actuação contra os ovos e as larvas».
O professor da Escola Nacional de Veterinária de Toulouse apresentou os resultados de um estudo comparativo, que envolveu 20 felinos, divididos por grupos, nos quais foram usadas diferentes métodos de controlo.
A eficácia do fipronil (Frontline) contra infestações pela C. felis foi comprovada nesta pesquisa realizada em 2007.
A infestação não ocorre apenas nos espaços exteriores. Segundo Michel Franc, «os animais de companhia podem sofrer ataques em casas que estiveram desabitadas ou depois das férias». Aliás, as alcatifas são um dos locais ideais para o crescimento de uma «comunidade» de pulgas!
Desparasitação e limpeza
Proteger o companheiro de quatro patas destes pequenos seres depende da prevenção, nomeadamente através de medidas de controlo.
A desparasitação (interna e externa) será o primeiro passo na prevenção. Deverá ser periódica e há que ter especial atenção à duração do efeito do produto.
É também essencial actuar no meio ambiente. Como? De acordo com Michel Franc, «limpando zonas onde facilmente as pulgas se desenvolvem e propagam. As camas dos animais, os cobertores, os soalhos, os tapetes, as alcatifas, os sofás, as camas dos donos, bem como a zona exterior da casa devem estar devidamente limpos. Em certos casos, recomenda-se inclusive o uso de insecticidas».
Se por qualquer motivo, a prevenção não resultou e o animal está com pulgas, deve ser feita uma terapêutica. Dependendo do estado, pode ser dirigida unicamente para erradicar os parasitas ou associada a outros fármacos destinados ao tratamento de eventuais infecções ou reacções cutâneas.
Sofia Filipe