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Artigo de Saúde Pública®

Nº 63 / Outubro de 2007






12 (Con)viver com um cancro: viver mais e o melhor possível
O conhecimento sobre os tumores e o desenvolvimento de novos medicamentos contrinuem para que um cancro seja equiparado a uma outra doença, com a qual se pode ainda ter qualidade de vida
Os tumores constituem, actualmente, um dos principais problemas dos países desenvolvidos. Ainda assim, a doença oncológica acarreta um profundo estigma de morte na sociedade, o que não é de todo verdade.

O conhecimento sobre os tumores e o desenvolvimento de novos medicamentos contribuem para que um cancro seja equiparado a uma outra doença, com a qual se pode ainda ter qualidade de vida.

O cancro é uma doença como outra qualquer», afirma o Dr. Mário Passos Pereira, director da Unidade de Hemato-Oncologia do Hospital Central do Funchal. É deste modo que este especialista começa por desmistificar a doença oncológica, salientando, contudo, que «o cancro tem as suas
especificidades até porque é praticamente uma patologia própria do desenvolvimento do ser humano». Vamos perceber porquê…

As nossas células não são as mesmas que tínhamos quando nascemos. Todo o nosso organismo é constituído por elementos celulares que são substituídos por outros iguais, ao fim do tempo de vida de cada um deles.

«Estas substituições são determinadas por procedimentos biológicos e moleculares que pouco a pouco vamos conhecendo. Quando há alterações dos mecanismos, que levam as células mães serem substituídas pelas filhas,
estas podem não ser exactamente iguais e a partir daí os tecidos onde essa alteração se deu passam a ser diferentes», explica Mário Passos Pereira, acrescentando:

«Quando as células fogem do controlo de substituição e crescimento correcto, passam a ter a característica de crescimento indefinido e isto é o que define o cancro – o seu crescimento indefinido e a disseminação para vários lugares do organismo, constituindo as metástases. Têm, deste modo, funções diferentes e são incompatíveis com a harmonia do organismo.»

Por estas razões, todos nós nascemos com a possibilidade de ter um cancro. Por outro lado, na evolução da espécie humana, surgem transformações genéticas, algumas positivas e outras nem tanto, que se devem, para além do nosso próprio desenvolvimento, a factores externos.


Prof. Francisco Luís Pimentel

Os avanços em oncologia

Quando se descobriu que o tumor tem uma grande tendência para se disseminar, passou-se a alterar as estratégias terapêuticas, a ter melhores resultados e a investir fortemente na investigação do conhecimento molecular.

Segundo Mário Passos Pereira, «o conhecimento da biologia molecular tem aberto uma janela para se perceber como as coisas se sucedem e permite também o aparecimento de
novos tratamentos». E sublinha:
«Por causa da sua disseminação, percebeu-se que não era suficiente retirar cirurgicamente o tumor e colocou-se a hipótese do tratamento através de medicamentos, o que aconteceu a partir da II Guerra Mundial, com a percepção de que os tumores possivelmente tinham sensibilidade aos fármacos. Isto veio transformar completamente o tratamento dos tumores porque passou-se a fazer uma intervenção no seu crescimento inicial e na sua metastização.»

Deste modo, hoje em dia, «temos menos possibilidades de morrer de cancro. Morre-se ainda porque não estamos a utilizar todos os conhecimentos actuais que temos. Por exemplo, o cancro da mama, que é uma patologia muito intensa na Europa e que tem uma carga muito grande na saúde pública, é um cancro cuja mortalidade começou a descer nos últimos anos», alerta o director da Unidade de
Hemato-Oncologia do Hospital Central do Funchal.

Quais as razões para estar a diminuir?

Porque se fazem rastreios e há uma detecção dos tumores numa fase precoce e tratável.
Este é o grande objectivo dos rastreios: permitir a precocidade do diagnóstico. Deste modo, a taxa de cura é tanto maior quanto mais cedo for detectado, porque isso significa que o tumor é pequeno, não se encontra disseminado e é mais sensível aos tratamentos que se encontram à disposição.

«A utilização de cirurgia continua a ser importante, assim como a radioterapia, mas a grande tendência actual é para se utilizar cada vez melhores medicamentos que actuem ao nível local e sistémico e que alterem completamente a história natural do tumor. Assim, temos de saber balancear o melhor tratamento que depende de caso para caso», reforça Mário Passos Pereira.

A qualidade de vida do doente e a evolução dos medicamentos na doença oncológica

Os últimos anos têm sido de grande progresso e, actualmente, até «estamos a entrar na era das terapêuticas dirigidas. À medida que se vai conhecendo melhor a doença oncológica, começam-se a criar medicamentos mais direccionados para o tumor e com menos efeitos secundários, comparativamente aos citostáticos clássicos. Há um grande progresso neste momento ao nível deste campo», refere o especialista do Funchal.

Neste âmbito, insere-se igualmente um factor-chave na oncologia: a qualidade de vida do doente.
«Dar qualidade de vida ao doente é uma preocupação fundamental em Oncologia», salienta Mário Passos Pereira.

Os objectivos dos oncologistas passam por curar a doença. Se não for possível, procura-se prolongar a vida, mas com qualidade. Se não for possível curar ou prolongar a sobrevivência, então todo o esforço é canalizado para que aquele período de vida que o doente tiver seja usufruído com qualidade, isto é, sem dores e outros efeitos adversos, com boa auto-estima, entre amigos e família.

Isto é possível porque se consegue, nos nossos dias, «manusear melhor os medicamentos potentes. Surgem mais medicamentos que são cada vez menos tóxicos, isto é, em que o controlo da toxicidade é mais perfeito.

O doente tem de fazer o tratamento, mas tem de estar bem», salienta o director da Unidade de Hemato-Oncologia do Hospital Central do Funchal.

Combater o estigma da oncologia

De facto, as imagens dramáticas e negativas (como náuseas e vómitos) associadas, por exemplo, à quimioterapia estão como que registadas em nós, quer através de relatos que ouvimos de outras pessoas, quer através de filmes. Porém, estas não correspondem sempre à realidade e é possível encontrar doentes oncológicos com qualidade de vida.

Para o Prof. Francisco Luís Pimentel, do Institutocuf Porto e da Universidade de Aveiro, «em oncologia, infelizmente, quando se diagnostica um cancro, a pessoa associa logo que não há qualquer possibilidade de cura.

Em alguns casos pode ser verdade, mas nem sempre isso acontece. Deste modo, o que nós pretendemos afirmar é que, com o passar do tempo, conseguimos tratar e curar um número cada vez maior de cancros. De igual forma, conseguimos ter um maior número de doentes em que não conseguimos curar, mas sim prolongar o tempo de vida».

Nesta perspectiva do sobreviver mais tempo, há sempre a preocupação paralela de que a pessoa viva mais, mas viva com qualidade e o melhor possível.

«É neste sentido que temos vindo a trabalhar. Quando se desenvolvem opções de tratamento em oncologia, há sempre o pensamento intrínseco da qualidade, o que significa reduzir o impacto negativo dos próprios tratamentos», diz Francisco Luís Pimentel, acrescentando:

«Há uma década atrás, quando avaliávamos os problemas negativos que os doentes oncológicos tinham quando faziam a quimioterapia, salientavam-se duas grandes questões: a dor e as náuseas e os vómitos. Hoje, estes dois grupos de sintomas, que causavam um grande transtorno e sofrimento nos doentes, estão extremamente reduzidos porque existem fármacos mais eficazes, quer para controlar as náuseas e os vómitos, quer a dor.»

E sublinha:
«Quando avaliamos os nossos doentes, estes sintomas já não surgem em primeiro lugar e surgem outros para os quais ainda não temos grande resposta a nível dos medicamentos.
A comunidade científica tem investigado e obtido soluções no sentido de minimizar esses sofrimentos paralelos à administração terapêutica anti-neoplásicas, que não se justificam.»

A mensagem que este especialista do Institutocuf do Porto transmitiria a uma pessoa com diagnóstico de cancro e que precisasse de fazer tratamento é a de que, «acima de tudo, converse com as pessoas da equipa que a estão a tratar, sejam médicos, enfermeiros ou psicólogos, para que possa ficar devidamente esclarecida».

O estigma tem de ser combatido e a primeira noção que se tem de ter é a de que o cancro já não é aquela doença fatal para a qual não há qualquer intervenção possível.

Por outro lado, «é preciso combater a ideia de que ter um cancro é perder a qualidade de vida. Isso significaria que não podemos fazer nada de útil pelo doente. Aquilo que temos de ajudar o doente a fazer é reconstruir e reorganizar os objectivos de vida. Deste modo, o doente oncológico passa a ser visto como um diabético ou alguém que teve um enfarte agudo do miocárdio», conclui Francisco Luís Pimentel.


Sabia que…

O cancro sempre existiu. Até no tempo dos dinossauros existiram alterações que eram compatíveis com o aparecimento de tumores. Também na História da Antiguidade, as múmias egípcias tinham indicadores destas modificações.

Na altura, não existia conhecimento sobre a doença oncológica e os primeiros passos, numa época mais recente, foram através da cirurgia.


Ter uma vida saudável ajuda na luta ao cancro

Ter uma vida saudável é importante para evitar as perturbações que levam ao crescimento celular anormal e consequente aparecimento de tumores. Neste campo de adoptar hábitos de vida saudáveis, as pessoas possuem hoje um vasto conhecimento para o fazer.

Sabe-se que não se deve fumar, que se deve fazer uma alimentação saudável e equilibrada e combater o sedentarismo, por exemplo. Neste campo, a saúde e a educação encontram-se relacionadas porque ter uma vida saudável implica uma acção pessoal e neste sentido um comportamento educativo para si mesmo.


6.º Congresso Nacional das Unidades de Oncologia

Realiza-se de 11 a 13 de Outubro, no Hotel Savoy, no Funchal (Madeira), o 6.º Congresso Nacional das Unidades de Oncologia e as 1.as Jornadas da Unidade de Hemato-Oncologia do Hospital Central do Funchal, responsável pela organização destes eventos.

De acordo com o Dr. Mário Passos Pereira, director da Unidade de Hemato-Oncologia do Hospital Central do Funchal, «esperam-se duzentos participantes e o objectivo é apostar ainda mais na oncologia, através da troca de experiências, de novos desenvolvimentos e investigações. É um palco para cruzar informação e expor as nossas
dificuldades no dia-a-dia».


Texto: Teresa Pires
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