Artigo de Saúde Pública®
Nº 61 / Julho de 2007
12 Dossiê Alergologia
Alergias e asma não impedem desporto de alta competição
O facto de sofrer de alguma patologia, quer seja asma ou outro tipo de alergia, não implica
que não possa fazer uma vida saudável, ou praticar algum tipo de desporto. No entanto, há um conjunto
de precauções e opções que pode tomar que tornarão tudo mais fácil e seguro.
«Quando se fala de morte súbita em atletas, praticamente só se associa a causas de natureza cardiovascular. No entanto, outras causas como a asma ou a anafilaxia Induzida pelo Exercício (AnIE) podem estar envolvidas e merecem uma investigação crescente no sentido da sua identificação precoce, uma vez que são evitáveis», começou por alertar o Prof. Luís Delgado, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e especialista em imunoalergologia na consulta de Alergia e Asma no Desporto do Serviço de Imunoalergologia no Hospital de S. João, Porto.
Dados revelam que, actualmente, cerca de 25% da população ocidental sofre de uma qualquer patologia alérgica. Dessa mesma amostragem da população, um em cada três pratica exercício físico regularmente. Estes números demonstram que há, claramente, uma percentagem relevante de desportistas que sofre de alguma alergia.
«A prevalência de Asma Induzida por Exercício (AIE), entre os desportistas de competição, deve oscilar entre os 11 e os 23%. Atletas de diferentes modalidades demonstraram uma prevalência de rinite entre os 13 e os 30% enquanto que na AnIE, a mais séria condição alérgica que pode afectar os atletas, embora rara é potencialmente mortal», referiu Luís Delgado.
No entanto, a actividade física regular «tem globalmente um efeito positivo na saúde humana, quer do ponto de vista fisiológico, quer psicológico, melhorando a função cardiovascular, respiratória e músculo-esquelética», esclareceu o especialista.
Felizmente, graças ao avanço médico, é possível controlar os sintomas das alergias com medidas terapêuticas de prevenção que permite a um paciente alérgico praticar uma actividade física ao nível de alguém que não padece dessa patologia. Basta nos lembrarmos de alguns nomes bem famosos do mundo desportivo que sofreram de asma, como por exemplo a maratonista Rosa Mota ou o ciclista Miguel Indurain.
Assim, e segundo o professor universitário, «se o doente alérgico, ou asmático, tem um desporto que aprecia, a sua prática deverá ser encorajada, pois, desde que controlado, poderá fazer qualquer exercício ao mesmo nível do não asmático», referiu.
As modalidades mais propícias para um paciente com estas patologias serão aquelas que permitirão treinar a ventilação e músculos respiratórios, em atmosferas quentes e húmidas.
Nesta lógica, «os desportos de menor risco e mais
frequentemente aconselhados são as modalidades aquática, em particular a natação, mas se em piscina, esta deve ter uma ventilação adequada», revelou o médico.
Além da principal dificuldade, que resulta dos comportamentos dos pacientes em não reconhecer e controlar a sua doença, a farmacologia já avançou o suficiente para contribuir para minorar os efeitos.
«Dispomos hoje em dia de uma grande diversidade de armas terapêuticas que nos permitem optimizar o controlo da doença alérgica, permitindo, quase sempre, uma prática desportiva normal ao nosso doente, quer seja de carácter recreativo quer de competição», esclareceu o especialista.
No entanto, e no que aos atletas de alta competição diz respeito, é necessário um cuidado redobrado, pois alguns dos fármacos disponíveis para combater algumas das suas patologias poderão ser considerados doping, pelo que deverão receber um diagnóstico e acompanhamento médico.
«Na listagem de classes farmacológicas consideradas dopantes, estão vários medicamentos usados no tratamento e prevenção da asma induzida pelo exercício e da rinite. No entanto, uma notificação específica ao CNAD (Conselho Nacional Antidopagem) assinada pelo especialista e com os exames em anexo resolve o problema.», conclui o especialista.
Texto: Rui Miguel Falé