- Dr. Daniel Pereira da Silva
A consciencialização de que a Mulher deve assumir livremente a sua sexualidade e de que o casal
tem o direito a programar a vida reprodutora levou ao desenvolvimento de múltiplas e inovadoras
opções contraceptivas.
Nem sempre a introdução de novos métodos contraceptivos é acompanhada de uma informação global, completa e isenta, que leve ao exercício plenamente livre de opções responsáveis. O exemplo maior desta afirmação é a utilização errada da «pílula do dia seguinte» como método regular, o que é um absurdo e nega a sua razão de ser. Trata-se de uma contracepção de emergência, para ser usada enquanto tal, verdadeiramente como emergência, a que se deve recorrer para colmatar a falha de outros métodos.
O estudo sobre práticas contraceptivas da mulher portuguesa, que coordenámos em 2005, sob os auspícios da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, demonstrou, numa amostra representativa da população feminina portuguesa, que o nível de conhecimento sobre sexualidade e contracepção é significativo na população mais jovem, caindo progressivamente com a idade.
As mulheres mais jovens são exactamente as que assumem as atitudes mais irresponsáveis neste âmbito. Isto só pode significar que os comportamentos de risco não se prendem com falta de conhecimentos, mas sim com falta de sentido de responsabilidade, o que, de alguma maneira, nos envolve a todos – pais, encarregados de educação, professores, etc. A mensagem de rigor e responsabilidade não está a passar! Cabe-nos encontrar meios e estratégias mais eficazes para corrigir esta trajectória. Não basta informar, é preciso responsabilizar!
As especificidades contraceptivas variam de mulher para mulher, mas há muitas e boas opções. Em geral, os métodos disponíveis são seguros e eficazes. Houve avanços consideráveis na concepção das pílulas: doses mais baixas, moléculas mais seguras e diversificadas, o que permite encontrar opções individuais mais ajustadas.
Foram introduzidas novas vias de administração – vaginal e transdérmica –, pelo que a contracepção hormonal combinada deixou de ser exclusiva da via oral. Estas novas formas de administração são mais cómodas e, igualmente, seguras. Houve, também, inovações nos métodos de longa duração (intra-uterino e implante). Por outro lado, há avanços no conhecimento da fisiologia do ciclo e novos métodos para detectar a ovulação. É possível determinar com maior exactidão a fertilidade regular e recorrer com maior segurança a métodos contraceptivos mais tradicionais, agora reformulados à luz de novos conhecimentos (www.cesfar.org).
A utilização generalizada de métodos contraceptivos simples e de grande aceitação levou à redução drástica da natalidade, com consequências positivas (baixa da mortalidade infantil, melhoria das condições socioeconómicas, etc.) e negativas (envelhecimento da população, modelo de segurança social insustentável, etc.), como é característico dos países desenvolvidos.
A emancipação da mulher e o seu maior protagonismo social devem-se, em boa parte, à contracepção. Também aqui há consequências perversas. Por imperativo desse envolvimento, a mulher atrasa o seu projecto familiar, nem sempre com a consciência de que o seu potencial de fertilidade baixa com a idade: aos 35-40 anos é metade do que era aos 20-25. Se for fumadora esse potencial baixa mais 50%!
Todas as opções de vida têm os seus fundamentos e as suas razões mais ou menos profundas, mas importa que cada um de nós as assuma com total responsabilidade, a não ser que queiramos transferir para terceiros as consequências das nossas decisões. Como aconteceu com aquela doutorada de Harvard que decidiu processar o seu ginecologista, porque só (?!) se consciencializou desse aspecto quando, aos 40 anos, pretendeu engravidar e não conseguiu.
Dr. Daniel Pereira da Silva
Director do Serviço de Ginecologia do IPO de Coimbra
Secretário-geral da Federação das Sociedades Portuguesas de Ginecologia e Obstetrícia
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