Maria Luísa Martins, portadora de esclerose múltipla: «Custou-me muito a aceitar a doença»
«Um choque inicial.» É desta forma que descreve a primeira reacção, depois de conhecer o diagnóstico clínico. Incrédula, perante a notícia que recebia, Maria Luísa Martins, 45 anos, doente de esclerose múltipla, ficou dias sem pronunciar uma palavra: «Custou-me muito a aceitar.»
Maria Luísa Martins, hoje com 45 anos, tinha acabado de ser mãe, pela primeira vez, quando surgiu um indício da doença: paralisia temporária dos membros inferiores. Na impossibilidade de andar, recorreu a um especialista, que lhe traçou o diagnóstico. Entre dúvidas e incertezas, restava apenas uma resposta concreta: esclerose múltipla.
«Não aceitava as consequências da doença e o que daí iria advir. Mas, logo que percebi o significado de esclerose múltipla, a primeira coisa que fiz foi vender a minha casa, uma vez que morava no segundo andar», conta. Mudou-se de malas e bagagens, com a família, para um rés-do-chão. Alterou a disposição de alguns objectos, para que pudesse, assim, movimentar-se com mais facilidade.
Mas, ao contrário do que se possa pensar, só há pouco tempo é que ficou totalmente paralisada. Desconfia que foi um surto, mas certezas não tem. Até essa altura, diz, «não sentia a perda de capacidades físicas, porque não aceitava que isso estivesse a acontecer».
Apesar de todos os impedimentos, a determinação e optimismo de Maria Luísa Martins prevalece: «A força que tenho para encarar a doença é inexplicável».
O agregado familiar actual está reduzido em um elemento, visto que, há cerca de um ano, se separou do marido. Neste momento mora sozinha com um dos dois filhos – o mais novo.
Até à data de separação trabalhava na fábrica de doces e salgados que tinha com o marido. No entanto, dada a degradação do ambiente familiar, decidiu frequentar a Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM).
«Refugiei-me na SPEM como uma ida para o convento», confessa, acrescentando que foi «à procura de apoio para não sobrecarregar o marido». No entanto, de nada adiantou, uma vez que este «acabou por abandonar o lar». Os dias de Maria Luísa são repartidos entre a SPEM e as lidas domésticas. Mas, mesmo não podendo dedicar-se integralmente às tarefas da casa, vai fazendo o que consegue.
Realiza algumas funções domésticas, como colocar a máquina a lavar, estender a roupa ou passar algumas peças a ferro, mas há um local onde simplesmente não mexe, desde que deixou cair a panela de pressão: o fogão. Por opção própria, sublinha. Mesmo assim, recebe apoio domiciliário.
«Faz bem estarmos ocupados com alguma coisa, pois ficamos quase “arrumados”. Parece-me que não é vida se não nos deixarem fazer nada.» Ao longo dos anos, sempre encarou a doença «de cabeça erguida». E, por isso, não admite que os outros mandem em si, pois, afirma ser «dona do seu nariz»:
«Não permito que as pessoas ditas normais queiram impor a sua vontade: o que vestir, o que comer, a direcção para onde ir. Os outros não têm de mandar em ninguém.»
No que toca às barreiras arquitectónicas, diz que «nunca foram entrave para sair à rua. Isto porque, segundo afirma, «têm de se contornar os obstáculos». Apesar de todos os impedimentos, o optimismo parece prevalecer: «A força que tenho para encarar a doença é inexplicável.»