Artigo de Saúde Pública®
Nº 57 / Março de 2007
23 Saúde Animal - O efeito bola de pêlo
Apesar da aversão que demonstram ter em relação ao banho, os gatos são animais com fama de muito asseados. A língua destes pequenos felinos é utilizada na limpeza do pêlo, quase como se fosse uma «escova». O problema é quando o pêlo se acumula no estômago e dificulta a digestão.
Os gatos dedicam uma grande parte do seu tempo a cuidar da higiene. Através da sua língua, de textura áspera, massajam religiosamente o pêlo até que este fique brilhante e reluzente. Mas, como não há bela sem senão, os efeitos negativos não tardam a aparecer.
«Com a ajuda da saliva, que exerce uma verdadeira acção detergente, a língua produz um efeito semelhante ao de uma “escova”, removendo o pêlo morto. Com tudo isto, o gato acaba por deglutir os pêlos, de comprimentos diferentes, que, quando chegam ao estômago, podem provocar alterações da função gástrica, incluindo dificuldades de digestão», explica a Dr.ª Helena Ponte, médica veterinária.
Em condições normais, através da ingestão de ervas ou purgantes naturais, os gatos promovem o vómito, conseguindo, assim, expulsar as bolas de pêlo (egagrópilos) que se formam no interior do estômago. No entanto, a permanência dos rolos de pêlo no organismo pode ter consequências graves no animal, como gastrites por irritação de contacto prolongado com a mucosa gástrica.
«Por esta razão, os animais devem ter uma alimentação distinta, que os ajude a manter o equilíbrio da sua função gastrintestinal», salienta a veterinária, acrescentando que «este fenómeno das “bolas de pêlo” atinge todos os gatos», embora uns sejam mais afectados do que outros, devido às diversas características de pelagem.
Pela boca sofre o gato
Os gatos de apartamento estão mais resguardados do que os gatos de rua, que andam à solta. Mas, apesar do excesso de zelo dos seus donos, não significa que estejam à margem destas complicações.
«Os cuidados com os gatos de apartamento são mais “humanizados”, o que, do ponto de vista alimentar, pode contribuir para que sejam mais afectados», comenta Helena Ponte, ressalvando a importância da prevenção:
«A forma mais simples, para evitar o aparecimento de bolas de pêlo, consiste na administração regular de produtos próprios que ajudam a diluir os egagrópilos, facilitando o percurso digestivo até à defecação. Para além de produtos específicos, existem alimentos complementados com substância para este efeito.»
Juntamente com estas medidas preventivas, os donos devem implementar regras de higiene regular que, segundo a médica veterinária, passam por uma boa escovagem para remover os pêlos mortos.
«Gastrite por irritação da mucosa gástrica ou distúrbios de trânsito gastrintestinal são as consequências mais frequentes da acumulação de pêlo no estômago. Os donos devem, por isso, aconselhar-se sobre a prevenção», realça.
Apesar da aversão que demonstram ter em relação ao banho, os gatos são animais com fama de muito asseados. A língua destes pequenos felinos é utilizada na limpeza do pêlo, quase como se fosse uma «escova». O problema é quando o pêlo se acumula no estômago e dificulta a digestão.
Mitos associados aos gatos
Algumas pessoas acreditam que os gatos absorvem os «males» dos seus donos. Apesar de não haver evidências que apontem nesse sentido, e considerando-as «totalmente improváveis», a Dr.ª Helena Ponte, médica veterinária, tem constatado na sua prática clínica «a interessante coincidência da existência de situações em que o gato sofre de patologia idêntica à do dono».
Texto: Andreia Pereira