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Artigo de Saúde Pública®

Nº 57 / Março de 2007






16 Doença renal crónica é problema de saúde pública
No Dia Mundial do Rim, a 8 de Março, a Sociedade Portuguesa de Nefrologia vai erguer um balão gigante, precisamente em forma... de rim, que planará sobre o «coração» de Lisboa, no Terreiro do Paço. Enquanto isso, a associação de doentes quer saber com o que conta nos centros de diálise privados.

ASSOCIAÇÃO DE DOENTES E SOCIEDADE PORTUGUESA DE NEFROLOGIA ASSINALAM DIA MUNDIAL DO RIM


A Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN) pretende recordar, no âmbito das comemorações do Dia Mundial do Rim, a 8 de Março, o considerável número de portugueses afectados pela doença renal crónica (DRC). Outra proposta do Dr. José Vinhas, presidente da SPN, é que as pessoas visitem a página deste organismo na Internet «e vejam se estão em risco de ter esta doença».

A distribuição de um folheto informativo à população, hospitais e centros de saúde do País é um acto que assume como objectivo aumentar a consciência da população, mas não só. Também a das autoridades de saúde, «que ainda não reconhecem suficientemente este problema de saúde pública», considera o presidente da SPN. Para José Vinhas, é fundamental que haja uma noção exacta desta epidemia.

«Note-se que a DRC não está incluída no Plano Nacional de Saúde.» A SPN vai igualmente promover uma sessão aberta a todos os cidadãos no Centro Cultural de Belém, «que gostaríamos que tivesse cobertura mediática». Juntam-se várias iniciativas locais de sensibilização.

Um em cada 10 adultos é afectado

A prevalência da DRC é alta, atingindo um em cada 10 adultos, de acordo com estudos referentes às realidades da Europa e dos Estados Unidos. Por ser considerado um conceito mais abrangente, o termo doença renal crónica foi ganhando cada vez mais espaço ao longo dos tempos e é aquele que prevalece actualmente.

Para que estejamos perante a patologia, um destes dois factores terá de se verificar: lesão renal e/ou nível de função renal diminuída, avaliada pela Taxa de Filtração Glomerular, que nos dá a percentagem de funcionamento do rim.
«A doença renal crónica é definida pela presença de lesão renal ou de um funcionamento dos rins abaixo dos 60% durante pelo menos três meses», explica José Vinhas.

A insuficiência renal crónica é uma diminuição lentamente progressiva da função renal ao longo de um período de meses ou anos, frequentemente resultando em falência renal com necessidade de diálise.

Contudo, este é um problema que pode ter origem noutras doenças. Neste quadro, a hipertensão arterial prolongada e a diabetes são as mais frequentes. Conjugando-se, são responsáveis por cerca de dois terços dos casos de insuficiência renal.

Mas há outras patologias igualmente responsáveis. «As doenças hereditárias, como os rins poliquísticos, as glomerulonefrites e as doenças obstrutivas do aparelho urinário como as doenças da próstata», acrescenta o médico.

As estimativas em Portugal apontam para que cerca de 800.000 pessoas possam sofrer de doença renal crónica. «Contudo, apenas pouco mais de 2000 iniciam diálise em cada ano, ou seja, cerca de 22.000 pessoas (3%), num período de 10 anos. Isto significa que uma percentagem importante da população com doença renal crónica apresenta uma doença que não tem tendência para progredir e que nunca irá necessitar de diálise», sustenta José Vinhas.

No entanto, o presidente da SPN também lembra que, actualmente, «não existem indicadores que permitam prever como cada doente vai evoluir». E, mais uma vez, a detecção precoce é uma chave importante. Até porque a maior parte das pessoas com DRC «não tem queixas e, quando as referem, a doença já avançou bastante. Só o seu seguimento regular permitirá saber se existe, ou não, progressão.

E esse papel deve ser assumido, na maioria dos casos, pelos médicos de família», assinala o nefrologista.

Detecção precoce... sempre

A detecção precoce é ainda decisiva, diz este especialista, «de modo a que as complicações cardiovasculares possam ser prevenidas.
Isto porque a população com DRC demonstra um elevado risco nesse âmbito». Os diabéticos, as pessoas com hipertensão de longa data, os idosos, as que apresentam história de doença renal na família são pessoas com potencial acentuado de vir a sofrer de DRC. Daí que seja aconselhável consultarem o médico, para análises regulares.

É recomendada ainda atenção redobrada à falta de forças, ao cansaço fácil, inchaços da cara ou pés, urina espumosa ou necessidade de urinar à noite. «No entanto, a maior parte desta queixas não são específicas e podem aparecer noutras situações», esclarece José Vinhas.

Para quem já ganhou consciência de que vive com a DRC, este nefrologista deixa alguns conselhos, que considera fundamentais. «Essas pessoas devem reduzir a ingestão de sal, baixar a pressão arterial elevada, manter a glicemia controlada se forem diabéticas, evitar os medicamentos para as dores, moderar o consumo de proteínas e fazer anualmente a vacina da gripe.»

Bem diferentes são as necessidades num quadro de falência renal, em que a taxa de funcionamento dos rins alcança valores abaixo dos 15%. Nestas circunstâncias, os doentes podem necessitar de iniciar terapêutica de substituição da função renal. É aí que entram a hemodiálise, a diálise peritoneal, ou a transplantação renal. «Para que a transplantação possa ser uma opção inicial de tratamento, o doente necessita de ter um familiar que lhe dê o rim», afirma José Vinhas.

Maior parte dos doentes faz diálise em centros privados

Em Portugal, 90% dos doentes insuficientes renais crónicos são tratados em centros privados de hemodiálise e, entre 7 a 8%, em unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde. Há duas grandes multinacionais que detêm esses centros, para além de grupos de médicos que, em particular, têm a seu cargo algumas clínicas.

Para este ano, o Orçamento de Estado para a saúde prevê um crescimento zero nas despesas. Como nos conta Carlos Silva, presidente da Associação Portuguesa de Insuficientes Renais (APIR), os centros privados de diálise «dizem que não recebem nesta altura novos doentes enquanto o Estado não fizer a revisão das verbas que garantem o pagamento dos serviços».

A APIR já foi recebida pelo secretário de Estado da Saúde, Francisco Ramos. Segundo percebeu, não há mais dinheiro disponível para distribuir pelos centros privados de diálise.
«Mas alertámos o governante acerca da posição dos centros de diálise, o que também, na nossa opinião, não deixa ao estado grande alternativa. Foi-nos prometido que nenhum
doente iria ficar sem tratamento.»

Os centros hospitalares já não têm capacidade para acolher novos doentes, assinala o responsável da APIR. «Há muitos anos que esperamos pela criação de uma rede pública de diálise, mas entretanto este tipo de tratamento foi entregue a instituições privadas, que desejam, obviamente, ter rentabilidade na sua actividade», afirma Carlos Silva.

O polémico «pacote de diálise»

Em negociação entre esses centros privados e o Estado encontra-se o chamado «pacote de diálise». Explica-nos Carlos Silva que a proposta consiste no «pagamento de um montante por cada doente por parte do Estado, o que inclui tratamento, transporte, análise clínicas e complementares, bem como medicamentos».

Actualmente, o valor unitário de cada tratamento – e só isso – é de 118 euros. Tudo o resto é calculado à parte e podemos estar a falar de custos variáveis de doente para doente.
A associação de doentes pretende conhecer os termos exactos do «pacote» proposto pela Associação Nacional de Centros de Diálise (Anadial).

«Faremos tudo para que não siga em frente, se nos prejudicar. Por exemplo, não precisamos de medicamentos nesse pacote. Seria altamente desvantajoso, na medida em que já os temos gratuitamente, através da comparticipação a 100% – são os fundamentais para os doentes, que são bastante caros. Se isso passar a depender das clínicas, tanto pior para nós», sublinha o presidente da APIR, acrescentando:
«E mais: mesmo que este “pacote” avance, tem que haver uma comissão fiscalizadora independente e que demonstre resultados efectivos.»

O receio da APIR é que os critérios económicos diminuam, por exemplo, o número de vezes que o doente faz análises para controlo da doença. «Já se começa a ver algum corte a nível de assistência nefrológica, do número de enfermeiros nas salas e no apoio social. Estes doentes em diálise precisam de apoio social porque muitos têm idade avançada e possuem condições sociais muito más.»

As indicações inscritas no Manual de Boas Práticas de Diálise, do Colégio de Nefrologia da Ordem dos Médicos, referem, entre outros pontos, que o doente deve ter cinco consultas por ano no nefrologista, apoio social e nutricionista, pelo regime de rigor que envolve a alimentação de um doente insuficiente renal.
«Mas nem sempre isso acontece. Por outro lado, regista-se a redução de enfermeiros e a sua substituição por outras pessoas», refere Carlos Silva.

O número de doentes que precisam de hemodiálise, dia sim, dia não, é de cerca de 8600 em Portugal. A diálise peritoneal envolve perto de 430 pessoas. E, na área do transplante, temos sensivelmente 4500 pessoas transplantadas com rim a funcionar – esperam por novo rim 2600 indivíduos.

«Mas a tendência é para aumentar porque cada vez se faz menos transplantes em Portugal », considera Carlos Silva. «A explicação que nós recebemos cinge-se à falta de órgãos, as poucas condições de que dispõem as equipas médicas que as podem fazer, porque estão no limite das suas possibilidades, quer em termos de camas, quer de pessoal. Mesmo que as equipas queiram, não podem fazer mais.»


Maratonistas dão prendas a crianças doentes

Entre os milhares de corredores, profissionais e amadores, que vão atravessar a Ponte 25 de Abril, na capital portuguesa, haverá quem corra por uma causa. As camisolas amarelas ajudarão a distinguir, a 18 de Março, na Mini/Meia-Maratona de Lisboa, a participação da Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN) e da AMGEN Biofarmacêutica.

Aquela que é denominada «iniciativa de convívio e solidariedade da Nefrologia Portuguesa » tem como propósito, já pelo 4.º ano consecutivo, voltar a oferecer prendas no próximo Natal a «todas as crianças e jovens portugueses, até aos 16 anos, com insuficiência renal crónica avançada (fase 5), em diálise ou transplantadas», explica o Dr. Aníbal Ferreira, membro da Direcção da Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN).

Até porque, este ano, para além do habitual patrocínio do laboratório AMGEN Biofarmacêutica e do apoio da FNAC, pela primeira vez cada participante na prova entrega uma quantia em dinheiro à SPN. «Deste modo, vai ser possível aumentar a verba de 100 euros que, sob a forma de cheque-oferta, tem sido distribuída a todas as crianças portuguesas com insuficiência renal avançada», concretiza Aníbal Ferreira.

Este dirigente garante que, na prova de 2007, «são esperadas mais do que as 300 pessoas que percorreram as ruas de Lisboa na edição do ano passado pela causa a que nos associamos, o que já em si constituiu um recorde absoluto».

Em 21.195 quilómetros (meia-maratona) ou em apenas sete quilómetros (mini), este é um desafio que, diz o médico, «coloca à prova a nossa capacidade organizativa». Este ano, como de costume, no final da prova, retemperam-se forças no «brunch» promovido no Centro Cultural de Belém.




Texto: David Carvalho
Fotos: Ricardo Gaudêncio e Jorge Correia Luís

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