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Artigo de Saúde Pública®

Nº 55 / Janeiro de 2007






03 A partilha de risco no medicamento hospitalar
Especialistas apresentam soluções para gerir os recursos

O medicamento, como instrumento para tratar os doentes, assume, cada vez mais, um peso crescente na sociedade actual. No terceiro painel da II Conferência Nacional de Farmacoeconomia, promovida pela Novartis Oncology, os especialistas presentes debateram as diferentes perspectivas que sustentam a tomada de decisão sobre a utilização do medicamento hospitalar.


O hospital é um local de intervenção diversificada, onde se gerem recursos humanos e materiais que permitem tratar os doentes. Até aqui nada de novo, não fosse a introdução de uma variável que complexifica as regras do jogo: o medicamento.

Por definição, pode afirmar-se que se trata de um dado da saúde, enquadrado no contexto hospitalar. A julgar pelas palavras do Dr. Pedro Lopes, vice-presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e um dos intervenientes desta sessão, o medicamento é muito mais do que isso:
«É uma tecnologia fundamental, que implica a mudança de paradigma do tratamento do doente: a passagem do doente da área do internamento para a área do ambulatório ou do hospital de dia.»

O risco do medicamento envolve as várias fases do circuito, desde a prescrição médica até à administração. Nesta cadeia incluem-se as reacções adversas dos fármacos, as falhas de prescrição, que comportam uma má interpretação dos dados, e a falta de clareza.

«É um lugar-comum que a prescrição electrónica e informatização da farmácia conduz a uma redução de 15 a 20% dos riscos. No entanto, a informatização pode potenciar o risco», explica o Dr. Machado Lopes, director clínico do IPO do Porto.

Mas há ainda que salientar um novo conceito de risco, que se associa à introdução de novas substâncias no mercado. O estatuto do medicamento preconiza a apreciação farmacoeconómica, que analisa a vertente económica tendo em conta a eficácia e a qualidade de vida promovida pelo novo fármaco.

«A elaboração de uma análise económica dos novos medicamentos envolve custos elevados, pelo que essa condição pode desincentivar a realização de estudos farmacoeconómicos após a sua comercialização», observa o Dr. Armando Alcobia, do Hospital de Garcia de Orta, que orientou a sua intervenção para o âmbito da farmácia hospitalar.

O foco da intervenção de todos os actores do sistema – médicos, enfermeiros, administradores hospitalares e indústria farmacêutica – é o doente. Assim, os esforços e as sinergias concentram-se na redução dos riscos derivados na aplicação farmacológica.

«O primeiro desafio é garantir que os doen­tes tenham acesso às melhores terapêuticas Para isso, impõe-se que a indústria farmacêutica continue a desenvolver esforços ao nível da inovação de novas soluções terapêuticas e, simultaneamente, colabore no sentido de encontrar ferramentas de suporte à decisão, capazes de demonstrar qual o valor acrescentado de cada um dos medicamentos, numa perspectiva clínica e também económica», salienta o Dr. Paulo Vasconcelos, director da Novartis Oncology e representante da indústria farmacêutica nesta sessão.

As soluções para responder à partilha do risco na tomada de decisão

O medicamento obriga à partilha de riscos e implica novos posicionamentos. Desta forma, uma avaliação farmacoeconómica pode ser considerada uma ferramenta de apoio à decisão.

«A tarefa consiste em conciliar o orçamento que existe para gerir e tratar os doentes de acordo com padrões de equilíbrio entre as duas posições», salienta Armando Alcobia.

Do lado da indústria farmacêutica, Paulo Vasconcelos aponta uma solução para a partilha do risco: «A capacidade de desenvolvimento de parcerias saudáveis pode impor a quebra de rotinas, abrindo novos caminhos, sustentados em criatividade e inovação.»

As novas tecnologias e o acesso à sociedade de informação são «um comboio em andamento, cujo objectivo é facilitar o aumento da qualidade», afirma Armando Alcobia. Neste sentido, «a prescrição informática abre novos horizontes na partilha e redução do risco, a partir do momento em que existe um registo que responsabiliza todos os intervenientes e informação credível para auxiliar todos os actos», acrescenta o mesmo especialista.


Texto: Andreia Pereira

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