Andamos loucos com as alterações recentes da Saúde e da Educação.
- Dr. Álvaro Cidrais
Andamos loucos com as alterações recentes da Saúde e da Educação. Aparentemente, os responsáveis são os ministros. Mas, afinal, este é o resultado da indecência de anteriores ministros e de uma má escolha do modelo económico e de sociedade para Portugal.
Aparentemente, tudo está a mudar na Saúde e na Educação. Tudo, excepto as pessoas. Essas, realmente, só mudam se quiserem. E, com elas, os seus hábitos. Nesse âmbito, os ministros nada podem fazer, mesmo que o queiram! Apenas os processos educativos, na família, na escola e nos empregos o conseguem promover.
Numa análise de curto prazo, os principais indutores da mudança são os respectivos ministros ou, para ser mais preciso, as suas equipas.
Todavia, devemos olhar com maior atenção para o problema e situar a sua ocorrência actual num conjunto de medidas necessárias que foram adiadas sucessivamente por diversos governos.
O caos (mais aparente que real na área da Saúde) é o fruto de medidas avulsas de carácter económico e político, tomadas durante anos sob a pressão de fortes lobbies (dos médicos, dos farmacêuticos e das farmácias, da indústria farmacêutica) e, acima de tudo, dos serviços prestados pela comunicação social a estes agentes da sociedade, em detrimento da qualidade na saúde e dos bolsos dos cidadãos! O actual sistema chega a ser surrealista.
O caos não se deve ao ministro!
Na área da Educação, a ministra está a mexer efectivamente no sistema, onde há 15 anos se devia ter agido! No estatuto da carreira docente e nas práticas sindicalistas de defesa do poder e da cultura retrógrada do núcleo duro do partido comunista. Por isso, é alvo de ataques constantes destes dois agentes sociais que, afinal, na maioria dos casos, é o mesmo. Os professores, com pouco sentido crítico, vão atrás!
Estas medidas – algumas com impactos colaterais indesejados – impõem-se se nós, cidadãos, pretendemos ter um Sistema Nacional de Saúde decente daqui a 20 anos e se queremos contrariar a tendência de subdesenvolvimento em que estamos envolvidos pela falência dos sistemas económico e educativo em que apostámos.
Existe ainda um outro nível de responsabilidade que, muitas vezes, esquecemos! O das decisões político-económicas assumidas pelos governos de Cavaco Silva, promovidas pelos nossos baixos níveis educacionais, pela pressão da opinião pública e pelos lobbies da engenharia que, nos anos 80 e 90, nos levaram a investir num modelo de desenvolvimento económico neoliberal e de sociedade industrial – quando a Irlanda e os países nórdicos, por exemplo, investiram num modelo de Sociedade do Conhecimento.
Por isso, nós fizemos estradas e não investimos na transformação das escolas e das mentalidades. Eles mudaram a escola, mudaram mentalidades, criaram empresas e tiveram sucesso. Estão na crista da onda. Nós, não!
É por esse motivo que os ministros das Finanças, da Saúde e da Educação tomam agora – com legitimidade democrática e histórica – medidas dolorosas que nos fazem sofrer.
Principalmente aos que têm menos dinheiro.
Mas, ou isto, ou a perda efectiva do comboio do desenvolvimento por responsabilidade de outros que não estes ministros. Não sejamos injustos nem irresponsáveis! Cresçamos com consciência e sem culpabilizações fictícias!
Dr. Álvaro Cidrais
Geógrafo e Consultor
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