- Dr. João Reis
O acidente vascular cerebral (AVC) representa a 3ª causa de morte após o enfarte do miocárdio e do cancro, nos países ditos do Mundo Ocidental.
O AVC representa também a primeira causa de incapacidade/ano de vida. Em Portugal, situa-se como a 1.ª causa de morte, o que é altamente preocupante. O impacto socioeconómico e as consequências trágicas para os doentes e suas famílias têm levado a um tremendo investimento
das Neurociências, apostando-se na procura de meios de prevenção, diagnóstico e tratamento, de modo a minimizar os efeitos desta doença tão devastadora.
A ajuda prestada pela imagem no diagnóstico e no tratamento, nos últimos 20 anos, tem ultrapassado as expectativas, permitindo encarar o AVC como uma «doença tratável» na maioria dos casos, desde que os doentes cheguem ao hospital no período útil de três horas, a chamada «janela terapêutica».
Os meios de imagem para o diagnóstico de que actualmente dispomos são diversificados, contudo, apenas irei abordar a tomografia computorizada (TC), ressonância magnética (RM) e angiografia cerebral de subtracção digital (ACSD).
A TC é o meio de diagnóstico mais corrente na avaliação do paciente com AVC, pois, para além de estar disponível na maioria dos centros hospitalares 24 horas nos sete dias da semana, permite uma rápida avaliação do tipo de acidente – se hemorrágico ou isquémico, quer isto dizer, se por ruptura ou entupimento de uma artéria – e avaliar a sua extensão. Sabemos que cerca de 80% dos AVC são de tipo isquémico e é precisamente nestes que melhor poderemos actuar e reduzir as futuras sequelas.
A RM é um meio de diagnóstico mais avançado que o anterior, com outras potencialidades e que veio revolucionar toda a investigação na área das doenças vasculares cerebrais. Apesar de ser um equipamento mais dispendioso, tem demonstrado ter uma relação custo/benefício suficientemente baixa, pelo que deveria estar muito mais diversificado nas unidades hospitalares, o que no nosso País, infelizmente, não se verifica.
Este meio de diagnóstico permite, em poucos minutos, determinar mais precocemente e com maior exactidão qual a área lesada, avaliá-la qualitativa e quantitativamente e determinar a que poderá ainda ser recuperada após tratamento.
A ACSD, ao contrário dos anteriores, é um meio de diagnóstico invasivo, já que consta da introdução de um cateter através de uma artéria para observar a circulação cerebral. No AVC agudo é utilizada com fins terapêuticos em situações particulares: ou porque a tal «janela» para tratamento por via venosa foi ultrapassada (superior a três horas, mas menor que seis horas, conforme a zona cerebral atingida), ou porque, à partida, as características da oclusão arterial sugerem uma atitude mais «agressiva», se assim o poderemos dizer, obrigando a uma destruição mais local do trombo ou à sua remoção.
A disponibilidade desta abordagem terapêutica necessita de profissionais especializados que, infelizmente, apenas existe em escassos centros e nem sempre durante 24 horas.
Os resultados que se poderão obter no tratamento do AVC estão em parte dependentes da criação e diversificação geográfica das Unidades de AVC no nosso País, mas, acima do mais, da adequada informação da população para que, com a maior brevidade (menos de três horas), ao menor sinal/sintoma de suspeita deste tipo de doença (por exemplo, dificuldade na fala, falta de força num membro ou metade do corpo, boca ao lado, etc.), contacte o 112 ou recorra a centro hospitalar que disponha de unidade do tipo acima referido.
Dr. João Reis
Neuroradiologista do Centro Hospitalar de Lisboa,
Zona Central (Hospital de S. José)
[email protected]
-----------------
Em colaboração com Farmalux - Grupo Tecnifar