Janela do Cidadão - Novos horizontes - Dr. Álvaro Cidrais
A saúde e a cura para qualquer doença passam também pela mente, pela gestão das energias e pela aprendizagem individual e colectiva. Apesar dos novos horizontes, a importância dos médicos, dos medicamentos e dos hospitais manter-se-á por muitos anos e os custos da saúde tenderão a aumentar.
Nos últimos anos, as neurociências trouxeram inúmeras novidades ao pensamento ocidental, colocando a emoção e os afectos no centro das discussões sobre o bem-estar e a saúde. Ao mesmo tempo, a dificuldade em encontrar respostas na ciência e na cultura dos países ditos desenvolvidos tem levado os cientistas e pensadores a procurarem outras respostas, designadamente nos saberes e filosofias orientais.
O sucesso no tratamento da dor e de doenças graves de algumas abordagens como a acupunctura, o yoga, a meditação ou as massagens orientais baseadas na gestão das energias corporais e mentais confere uma crescente importância às medicinas orientais na sociedade ocidental.
A percepção de que o principal actor da saúde huma na é cada indivíduo, em cada família, inserida numa comunidade específica, leva a Organização Mundial de Saúde a investir na educação para a saúde, na intervenção comunitária e na intervenção precoce.
Com estas visões, abrem-se novos horizontes que, a seu tempo, irão produzir fortes impactos nas práticas de saúde e na gestão dos sistemas.
Todavia, brevemente, não deverão reduzir os custos nem a importância dos medicamentos, dos médicos, dos enfermeiros e das unidades de saúde (centros de saúde, hospitais e unidades de retaguarda ou de apoio domiciliário). Este impacto não acontecerá porque a tendência de envelhecimento da população e a crescente informação sobre a saúde, bem como as práticas da saúde preventiva irão manter a tendência para o aumento dos consumos no sector.
A forma que haveria para, no longo prazo, se perspectivar a influência positiva destes novos horizontes na redução dos custos dos sistemas de saúde na sociedade ocidental seria através de uma outra abordagem no ensino (centrada na aprendizagem para a autopromoção da saúde individual e colectiva) e no quotidiano.
Todavia, embora em diversos países do mundo (desenvolvido e em vias de desenvolvimento) se verifique já esta relação e diversas iniciativas práticas de educação para a cidadania activa, designadamente na área da saúde, nas escolas e nas comuni dades, em Portugal, estamos muito longe da mudança necessária.
Este panorama acontece devido à nossa tendência absurda para persistir nas abordagens conservadoras dos problemas. As entidades que disponibilizam saúde preferem manter o conforto da situação actual, desconhecendo os benefícios da mudança. Por outro lado, os cidadãos desconhecem os recursos das abordagens orientais e não têm hábitos de leitura nem de aprendizagem que lhes permitam, de modo autónomo, aceder ao conhecimento essencial dos novos horizontes.
No fundo, é um problema de desconhecimento, de incapacidade de aprender e de reflectir em conjunto na busca de novas soluções, de aproveitar novas oportunidades. É o reflexo da má educação escolar e familiar que temos. É um problema de todos, de cidadania, que nos bloqueia para os novos horizontes.
Dr. Álvaro Cidrais
Geógrafo e Consultor
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