Artigo de Saúde Pública®
Nº 47 / Abril de 2006
06 Dossiê
Espondilite anquilosante aflige perto de 30 mil portugueses
Doença reumática de origem ainda desconhecida, a espondilite anquilosante pode estar associada a factores ambientais, infecciosos e genéticos. Dores na coluna dorsal e lombar, principalmente durante a noite, rigidez e deformação são alguns dos sintomas manifestados. Se não for diagnosticada precocemente, esta patologia pode gerar incapacidade.
«A espondilite anquilosante (EA) é uma doença reumática inflamatória crónica, de etiologia desconhecida, com predilecção para o esqueleto axial incluindo as sacroilíacas», explica a Dr.ª Anabela Barcelos, reumatologista do Hospital Infante D. Pedro, em Aveiro.
A doença atinge predominantemente a coluna vertebral, contudo são as articulações sacroilíacas que sofrem alterações mais características. Os ligamentos e tendões, nomeadamente ao nível da face plantar do calcanhar e dos contornos da bacia, são também atingidos pela inflamação.
Não se sabe exactamente quais os factores que estão na origem da espondilite anquilosante, porém, são fortes as suspeitas da sua associação à presença de um factor imunogenético do antigénio HLA-B27.
«A etiologia da EA é desconhecida, contudo vários factores parecem estar implicados, principalmente factores ambientais, infecciosos e genéticos», argumenta a reumatologista.
Não existem estudos epidemiológicos em Portugal que apontem para um número exacto de pessoas que sofrem desta doença, mas segundo Anabela Barcelos «estima-se que entre 0,5 a 1% dos portugueses sofre de espondilite anquilosante, o que se traduz em cerca de 30 mil doentes no país».
Espondilite sim, anquilosante nem sempre
Para que a espondilite (lesão inflamatória vertebral – spondylos – palavra grega que significa vértebra) não se torne anquilosante (limitante – ankylos – palavra grega que significa rigidez), o diagnóstico deve ser feito o mais precocemente possível. Arrastar e desvalorizar os sintomas, abandonar a terapêutica ou ignorar as consequências da doença são factores que facilitam o seu avanço e desenvolvimento para situações mais críticas.
«Para o diagnóstico da EA, os critérios mais utilizados são os de Nova Iorque modificados, isto é, os que combinam critérios clínicos e radiológicos», esclarece a especialista, especificando:
«Os critérios clínicos são dor lombar com mais de três meses de duração que melhora com exercício e não é aliviada pelo repouso, a limitação da coluna lombar nos planos frontal e sagital e expansibilidade torácica diminuída.»
Quanto aos critérios radiológicos, Anabela Barcelos refere «a sacroiliíte bilateral grau 2, 3 ou 4 e/ou a sacroiliíte unilateral grau 3 ou 4».
Sempre que o diagnóstico não é feito atempadamente os doentes correm risco de uma perda progressiva da mobilidade provocada pela inflamação persistente da coluna vertebral, que, numa fase muito avançada, pode levar mesmo à anquilose vertebral (fusão das vértebras) e, em casos mais graves, ao comprometimento das ancas, originando a necessidade de cirurgia para substituição das articulações destruídas por uma prótese.
«A EA caracteriza-se por cervicodorsolombalgia de ritmo inflamatório, ou seja, dor na coluna cervical, dorsal e lombar de predomínio nocturno, obrigando o doente a levantar-se da cama de madrugada», explica a especialista. A inflamação ocular e as alterações cardíacas e pulmonares são também sintomas da EA em situações mais graves.
«Desportos competitivos como os que possam envolver contacto corpo a corpo, por exemplo, o voleibol, judo ou rugby», são exemplos de tarefas que os doentes estão impedidos de fazer. «Quando há envolvimento da coluna cervical pode ser muito complicado conduzir e quando há envolvimento das ancas a actividade sexual dos doentes pode estar condicionada», continua a reumatologista.
A espondilite anquilosante surge geralmente entre a segunda e a terceira décadas de vida e tem igual frequência em ambos os sexos, sendo, no entanto, mais grave nos homens.
Tratar e vigiar a postura
O exercício físico regular, de preferência a natação em piscina aquecida, é uma das principais recomendações para os doentes com EA. «Para além de mobilizar todas as articulações, a natação é também um excelente exercício respiratório», argumenta a especialista.
Contra-indicados estão o excesso de peso, pela sobrecarga que acarreta para a coluna, a imobilização prolongada, a má postura das costas e o tabaco.
No que diz respeito ao tratamento farmacológico, Anabela Barcelos explica que, na última década, «surgiram novos fármacos que vieram revolucionar o tratamento da EA, os antagonistas do factor de necrose tumoral (anti-TNF) que mostraram ser eficazes no controlo da actividade da doença, na melhoria da capacidade funcional e também na melhoria da qualidade de vida».
Segundo a especialista nem todos os doentes têm indicação para serem tratados com estes fármacos. «Existem critérios nacionais para se iniciar, manter ou parar estes tratamentos elaborados pelo Grupo de Consensos para as Terapêuticas Biológicas na EA da Sociedade Portuguesa de Reumatologia», termina Anabela Barcelos.
Cátia Jorge