Artigo de Saúde Pública®
Nº 47 / Abril de 2006
22 Saúde Animal
Disfunção comportamental é bastante comum
Cadela Miducha tem duas gravidezes psicológicas por ano
Os primeiros sinais podem, logo à partida, induzir em erro: a barriga cresce, há lactação, as cadelas começam a construir o ninho onde pensam dar à luz, sem que existam, porém, crias para nascer. No entanto, caso estes sintomas se manifestem no seu animal, não há razões para alarme. O motivo dá pelo nome de gravidez psicológica.
Miducha é um dos muitos exemplos caninos de «pseudomães». Nunca passou pela experiência de parto efectivo, mas já conheceu de perto, por diversas vezes, a realidade de uma gravidez psicológica. Uma aventura materna que se repete cio após cio.
Esta cadela de raça caniche, actualmente com 10 anos de idade, desenvolveu, pela primeira vez, uma gravidez psicológica aos 5 anos, situação que se tem repetido sucessivamente após cada estro (época do cio).
No entanto, casos como este nada têm de patológico. «A gravidez psicológica não é uma doença, é uma disfunção comportamental», explica o veterinário Miguel Caninhas da clínica MVet, na Moita, que acrescenta:
«Na fase de transição do diestro para o anestro, há uma redução de progesterona e, aos poucos e poucos, vai-se registando o aumento de uma hormona ligada à lactação, que se designa de prolactina. Nas cadelas que desenvolvem pseudogestação, o que acontece é que vai haver uma reacção exagerada a um título normal de prolactina, pelo que, posteriormente, adoptam comportamentos típicos de uma gravidez. No entanto, esse aumento de prolactina é fisiologicamente vulgar.»
Apesar de se tratar de falso alarme, os animais, à semelhança do que acontece com as mulheres, desencadeiam sintomas idênticos ao de uma gestação, a começar pela barriga que cresce e pela lactação. Mas não se fica por aqui: desenvolvem de uma forma mais apurada o instinto maternal, que se materializa na adopção de objectos (como se fossem as crias) e na demarcação de uma zona próxima do pseudoparto.
Esta situação é corroborada por Luísa Miranda, dona da caniche, que conta um dos episódios em que Miducha tentou adoptar um gato. «Tentava meter-se dentro da transportadora do gato e tentava puxá-lo para o sítio que considerava ser o ninho dela, só que um gato não é fácil de levar como um objecto qualquer que se agarra com a boca», revela, confessando que, posteriormente, entre os objectos de eleição estava um frango de borracha.
«A gravidez psicológica, nas cadelas, ocorre, por norma, entre as seis a doze semanas a seguir ao cio», refere o especialista. Mas como toda a regra tem excepção, nem todas as cadelas desenvolvem comportamentos gestantes.
Tal como afirma Miguel Caninhas, «as cadelas podem desenvolver gravidezes psicológicas em todos os cios, como podem apenas ter uma, duas ou três ao longo da vida».
Agir com rapidez
A gravidez psicológica pode durar o tempo de gestação normal. Nesses casos, o primeiro passo a seguir é consultar o médico veterinário, para que seja administrado um inibidor de prolactina. «Com este tratamento a sintomatologia desaparece de imediato», refere Miguel
Caninhas.
Ainda assim, os cuidados a ter com o animal devem passar por agir com rapidez. «Nas cadelas com lactação exagerada, como não há efeito de sucção, pode ocorrer uma mastite, ou seja, uma infecção dentro da glândula mamária, provocada pela entrada de germes através do teto (mamilo)», assevera o médico veterinário.
No caso de Miducha, as consecutivas gravidezes psicológicas trouxeram algumas complicações a este nível, como descreve Luísa Miranda: «Ficou com quistos mamários, teve de ser sujeita a uma operação e o resultado da análise indicou que a Miducha tinha um cancro», motivo esse que contribuiu para que fosse retirada toda a cadeia mamária da caniche.
No entanto, o especialista ressalva: «O aparecimento de neoplasias mamárias não tem qualquer relação causa-efeito com a pseudogestação».
Miguel Caninhas deixa, contudo, um aviso para os donos: «Não devem fazer automedicação ao animal, sem antes terem a garantia absoluta de que o animal não está gestante, pelo que a melhor forma de confirmar é realizando uma ecografia».
No entanto, em cadelas recorrentes, como adianta Miguel Caninhas, a solução passa pela «ovário-histerectomia, cirurgia em que se retiram o útero e os ovários».
Fases do ciclo nas cadelas:
Proestro: É a fase de preparação do útero para a aceitação dos óvulos fecundados. com a duração de 10 dias
Estro: Tem a duração de sete a nove dias. A cadela fica receptiva ao coito (aceita o cão). 0 momento óptimo para o acasalamento são dois dias após início do estro.
Diestro: Esta fase tem a duração de 60 dias. 0 diestro acaba quando surge o parto ou decorridos dois meses se a cadela não engravidou.
Anestro: É a fase de repouso sexual que dura aproximadamente quatro a cinco meses (as cadelas têm cio de seis em seis meses). Termina, quando surge novamente o próximo cio, com o aparecimento de corrimento sanguinolento (proestro).
Fonte:
http://www.inoxnet.com/madeirapit
http://www.distritosdeportugal.com/site_zoo_domestico/caes.htm
Cio e ciclo das cadelas: perguntas e respostas
1. O que é o cio?
Período de ovulação das fêmeas caracterizado por sangramento, cujo ciclo normal é de 6 meses e que perdura por cerca de dez dias, seguido dum período fértil de cinco dias.
2. Quando ocorre o primeiro cio?
Depende da raça. Raças de pequeno porte costumam entrar no cio antes que as raças médias e grandes. As de pequeno porte geralmente entram no cio por volta dos 6 a 7 meses de idades, e as maiores, entre os 8 e 12 meses, podendo chegar a um ano e meio.
3. Qual a duração do período de gestação nas cadelas?
Entre 58 a 64 dias.
Andreia Pereira