Janela do Cidadão – Dor e mentira – Dr. Álvaro Cidrais
Dr. Álvaro Cidrais
Geógrafo e Consultor
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Hoje comemoramos o dia da mentira. Um momento de brincadeiras para um assunto muito sério. Um instrumento essencial para o sucesso de alguns políticos, empresários e cientistas. O problema é que provoca sofrimento, ilusão e dor, com difícil tratamento.
Hoje devia ser feriado nacional. Comemorávamos o dia com um espectáculo nocturno e selecto do tipo dos Óscares. Teríamos estatuetas específicas para os melhores mentirosos do ano e para a maior mentira.
O problema seria o de encontrar um júri que suportasse os vários meses de trabalho necessário para seleccionar entre a enorme quantidade de candidatos existentes.
Mas seria uma boa área de crescimento económico e de emprego qualificado pela quantidade de horas de trabalho e pelos requisitos de técnicas e de conhecimentos necessários para as avaliar. Até porque vivemos num país de elevada predisposição para a mentira e, por essa via, para a dor emocional e o sofrimento.
As mentiras geram dor! Na perspectiva budista, criam sofrimento pela ilusão, angustiam, induzem as pessoas em erro de julgamento e de acção. Por este motivo, devem ser contrariadas. Estas ideias são desenvolvidas em duas obras literárias que devíamos ler. «A ética para o novo milénio» do Dalai Lama e as «Emoções destrutivas e como dominá-las – um diálogo científico com o Dalai Lama». Esta, trazida até nós por Daniel Goleman e pela editora Temas e Debates.
Talvez com esta perspectiva contrariássemos melhor a dor mental. Fôssemos mais saudáveis e felizes.
No final do mês, nos Açores, irá decorrer o 13.º Congresso de Reumatologia, um conjunto de doenças penosas pela dor que provocam. É uma dor essencialmente física que a nossa ciência, a medicina oriental e a tecnologia farmacêutica têm conseguido contrariar à medida que o conhecimento se alarga.
Isto, quando nos preocupamos em cumprir o 11.º direito da Carta Europeia dos Direitos dos Utentes de Saúde: «todo o indivíduo tem o direito de evitar o mais possível o sofrimento e a dor, em cada fase da sua doença».
Por esse motivo, esta iniciativa é bem-vinda. Estes congressos e uma outra abordagem à dor são essenciais para a diminuição do sofrimento do cidadão. O tema da reumatologia é muito sério pela quantidade de portugueses que sofrem de maleitas relativas a estas doenças e pela intensidade e continuidade da dor que provocam, por vezes limitante.
Por esse motivo, esperemos que os contributos dos conferencistas não sigam o mau exemplo de Nuno Crato no seu livro sobre a educação em Portugal: «Eduquês».
Este, baseado numa argumentação que raia o intelectualmente desonesto e desrespeita autores citados, pela raiva que encerra e pela implícita vontade de denegrir outros pensadores - tão ou mais cientificamente respeitáveis do que o autor - é um excelente candidato ao «Óscar dos pensamentos destrutivos e aparentemente científicos» que merecem o maior repúdio numa sociedade que se quer consciente e promotora de felicidade.
Demonstra o nível tenebroso a que se pode chegar através da aparência científica para exibir a soberba, influenciando pensamentos e decisões.
Mas, infelizmente, na política e nos negócios, o panorama é semelhante. Também, por isso, vivemos num País tão infeliz.