Espaço Clínica Geral - «Doutor, doem-me as costas…» - Dr. João Sequeira Carlos
Dr. João Sequeira Carlos
Médico de família, Centro de Saúde de Benfica, Unidade de Saúde Familiar, Rodrigues Miguéis
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A dor do aparelho músculo-esquelético é um dos principais motivos de consulta em Medicina Geral e Familiar. Os médicos de família têm nas suas consultas um contacto diário com situações de dor osteoarticular. As lombalgias (dores nas costas) são as mais frequentes, mas também dores com origem noutras localizações (joelhos, mãos, pés, ombros e coluna cervical). Estas situações podem ser causadas por diversos factores e é importante identificar eventuais doenças associadas.
Uma das principais causas de dor osteoarticular são as doenças reumáticas. Segundo um relatório especial do Eurobarómetro, publicado em Dezembro de 2003, as doenças reumáticas afectam 38,2% dos portugueses, valor que coloca o nosso País no topo da lista europeia considerando este grupo de patologias.
Da sua elevada prevalência decorrem elevados custos em saúde e uma importante taxa de absentismo laboral.
Sensível a este cenário, a Organização Mundial de Saúde, em colaboração com outras organizações médicas internacionais, decidiu dedicar a década 2000-2010 ao aparelho músculo-esquelético – Década do Osso e da Articulação.
Com esta iniciativa global, pretende-se sensibilizar os profissionais de saúde e a população para a importância das doenças reumáticas melhorando, em todo o mundo, a saúde e qualidade de vida dos indivíduos com problemas desta natureza.
O papel dos médicos de família é, neste contexto, preponderante: por terem uma relação de proximidade com os pacientes, que seguem ao longo da vida, podem efectuar uma avaliação integral do problema de saúde de um indivíduo.
No caso da dor osteoarticular, é essencial uma análise dos factores de risco para doenças reumáticas, um relato detalhado sobre os sintomas apresentados e uma abordagem biopsicossocial do fenómeno «dor».
Trata-se de um sinal vital que deve obrigatoriamente ser avaliado nas doenças osteoarticulares, enquanto experiência subjectiva e objectiva. Deve ser determinado o tipo de dor, a sua localização, intensidade, relação com os movimentos e o seu ritmo.
Sendo as doenças reumáticas a principal causa de dor osteoarticular, a sua presença deve ser pesquisada. Tratam-se de problemas de saúde agudos ou crónicos, que podem afectar pessoas de qualquer idade, por conseguinte, constituem-se com um factor de incapacidade funcional prolongada, interferindo na qualidade de vida dos doentes e das suas famílias.
A osteoartrose é uma doença reumática de elevada prevalência, sendo a principal causa de incapacidade no idoso. É caracterizada pela degeneração da articulação principalmente por alterações da cartilagem articular.
Afecta preferencialmente a coluna vertebral (é uma causa frequente de lombalgia), as mãos, os pés, a anca, o ombro e os joelhos. O apoio do médico de família é importante no aconselhamento para a adopção de estilos de vida, que impeçam a evolução da doença, e também na gestão dos sinais e sintomas ao apontar a melhor opção terapêutica.
Existem outras doenças reumáticas que devem exigir grande atenção: as doenças de carácter inflamatório (ao contrário das doenças osteoarticulares degenerativas, podem aparecer em idades mais jovens) caracterizam-se por dor (mais intensa de manhã e durante a noite), inflamação das articulações, rigidez articular («prisão» de movimentos) e fadiga.
A forma de início das doenças reumáticas inflamatórias é a artrite inicial, que tal como o nome indica é uma fase muito precoce de doença na qual o tratamento pode evitar o aparecimento de lesões articulares.
O médico de família actua na prevenção das doenças reumáticas promovendo a saúde do aparelho músculo-esquelético – entre outras medidas figuram a alimentação saudável e a prática de exercício físico. Na abordagem das queixas de dor osteoarticular, actua no sentido de fazer um diagnóstico rigoroso e precoce, permitindo o tratamento apropriado e atempado de doenças reumáticas.
A articulação de cuidados com a Reumatologia é fundamental para que, em casos seleccionados, se possa optimizar a assistência aos pacientes.