O impacto das fracturas nos doentes com osteoporose – Dr. Augusto Faustino
Dr. Augusto Faustino
Reumatologista do Instituto Português de Reumatologia
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A osteoporose é hoje globalmente considerada como um problema fundamental de saúde pública, consciência sedimentada nos últimos anos, à medida que se foi tornando mais fácil e rotineira a sua identificação clínica.
O diagnóstico da osteoporose é actualmente realizado através da densitometria óssea radiológica, que fornece uma definição operacional da doença e, assim, facilita a identificação dos doentes.
Até há alguns anos atrás, o diagnóstico fazia-se apenas depois de surgirem as suas complicações, deformações vertebrais ou mesmo fracturas, consequentemente, já numa fase muito avançada da doença.
A densitometria, realizada de forma rotineira desde há cerca de 10 anos, permite fazer a identificação da doença mais precocemente, e este foi talvez o ponto mais importante, pois, desta forma, podem ser instituídas as adequadas medidas terapêuticas, e assim reduzir-se o enorme impacto que a doença acarreta na Saúde Pública.
A densitometria tem, porém, outras particularidades importantes. Além de fazer o diagnóstico, estabelece a magnitude da falta de cálcio ao nível dos ossos. Com esta informação precisa, o especialista identifica a gravidade relativa da situação, a qual o orienta em termos de atitude terapêutica a adoptar, em termos de uma intervenção de prevenção, ou de uma intervenção de tratamento activo, farmacológico.
Com a densitometria é também possível avaliar o risco que o doente tem de sofrer uma fractura, graduado mediante a densidade óssea, sendo esta indicação do risco de fractura o elemento mais importante quando falamos em osteoporose.
Nesta doença não se valoriza particularmente a perda de densidade óssea, mas sobretudo uma situação que se traduz num risco de fractura elevado, que é na realidade a pior complicação da doença, principal responsável pelo impacto da osteoporose. Em termos de saúde pública não é importante um valor de densidade mineral baixa, o que é importante é o risco de fracturas que ele indicia, e todos os problemas a elas associados.
As fracturas têm consequências a todos os níveis. Antes de mais a nível de morbilidade, que se reflecte no sofrimento, na dor e na incapacidade, as quais se manifestam de forma exponencialmente crescente à medida que se somam fracturas.
A nível da mortalidade sabe-se hoje que existe um grande número de mortes associadas às fracturas osteoporóticas, tanto às que ocorrem a nível de corpos vertebrais como no colo do fémur (onde existem dados que revelam uma mortalidade até cerca de 20% no primeiro ano após a fractura).
Por último, as fracturas têm custos económicos e sociais muito elevados, referentes a despesas directas efectuadas em termos de consultas, exames complementares de diagnóstico, medicamentos, internamentos hospitalares e intervenções cirúrgicas (sobretudo, no caso da colocação de próteses), mas também a despesas indirectas, nomeadamente no que diz respeito a custos na área da segurança social (dias de falta ao trabalho e reforma antecipada).
Hoje em dia não faz sentido que a osteoporose não seja detectada e tratada, porque temos por um lado excelentes meios de diagnóstico (que nos permitem identificar os casos potencialmente mais graves) e por outro excelentes opções terapêuticas, as quais passam pelas opções de base que são, neste momento, sobretudo os bisfosfonatos e o raloxifeno até às calcitoninas (com indicações mais específicas).
Estes medicamentos têm a capacidade (demonstrada em ensaios clínicos) de reduzir as fracturas a nível vertebral (raloxifeno e bifosfonatos), bem como alguns deles, a nível dos ossos periféricos (colo do fémur).
Depois de diagnosticados e avaliados pela densitometria, nem todos os doentes têm que fazer terapêutica com estes medicamentos.
Se houver risco agravado de fracturas (definido pela presença de uma baixa de massa óssea na densitometria, ou pela presença de outros factores de risco: antecedentes de fractura, história familiar de fracturas, idade mais avançada…), faz sentido um tratamento adequado com estes fármacos, mas se não houver risco de fractura, então deverá fazer-se apenas uma intervenção preventiva.
Recomenda-se nestas situações o aumento do consumo de
cálcio, a prática de exercício físico, respeito por algumas regras dietéticas, cuidados em termos hormonais e suplementação de vitamina D. São os chamados cuidados de prevenção primária.
Está mais ou menos definido que, a partir de certa idade, a ingestão de vitamina D raramente é a adequada ao seu consumo diário recomendado. Justifica-se, portanto, a sua suplementação na medida em que o aporte alimentar ou a exposição solar não serão suficientes.
Um doente com osteoporose grave e com risco fracturário elevado deve ter a preocupação em reduzir o número de obstáculos ergonómicos, e de procurar o acesso e a deslocação apenas a locais em que não existam irregularidade de piso ou barreiras que aumentem a probabilidade de quedas. Mas esta deve ser uma preocupação social.
Devem ser dadas condições para que o doente possa praticar exercício, ter uma vida saudável e acesso aos cuidados de prevenção primária.
Um doente com osteoporose, sobretudo se ainda não teve qualquer fractura, pode e deve ser uma pessoa com uma vida totalmente normal, apenas condicionada à realização diária de determinadas atitudes terapêuticas, e à necessidade de observância de alguns cuidados e orientações de segurança.