Dr. Biscaia Fraga
Director do Serviço de Cirurgia Plástica e Maxilofacial do Hospital de Egas Moniz
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É na década de 60 do século XX que Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética, especialidade muito recente dentro da Medicina, surge no nosso País de forma organizada, quer na Ordem dos Médicos, quer como Sociedade Científica na Sociedade de Ciências Médicas.

Nestas quatro décadas, tem evoluído de forma vertiginosa, por virtude dos avanços da Física, Química, Informática, Anestesia e outras áreas, que têm impulsionado e contribuído para o desenvolvimento tecnológico desta especialidade.

Embora impropriamente conotada apenas como Estética, é importante que se conheça que é a Cirurgia Plástica que trata a grande maioria dos traumatismos, quer de origem rodoviária, quer de acidentes de trabalho, domésticos, queimaduras, malformações congénitas, deformidades adquiridas, tumores da face, deformidades e patologias das mãos, etc.

Actualmente, tem grande relevância como especialidade hospitalar, também no âmbito das seguradoras, e cresce acentuadamente como actividade privada.

Assim, no âmbito reconstrutivo:

Da face - é possível promover e induzir o aumento dos ossos através da técnica de «distracção» óssea, verdadeiro crescimento do esqueleto, quando este não se desenvolveu, ou foi destruído.

Tornou-se frequente transpor tecidos, quer músculos, nervos, pele, tendões, fascia, osso, cartilagem de outras regiões anatómicas para a reconstrução de área nobre como a face (nariz, mento, região frontal, malares, etc.).

Em colaboração directa com a Estomatologia, é possível realizar implantologia dentária em pacientes, em que é feito enxerto ósseo prévio da mandíbula e maxila, situação que há escassos anos seria impensável.

Na área mamária - a reconstrução mamária pós-mastectomia é cada vez mais procurada e os resultados mais bem conseguidos e perfeitos graças à evolução das técnicas, nomeadamente da microcirurgia, e da capacidade expansiva dos tecidos regionais e locais, o que já tem conduzido algumas pacientes a preferirem o reconstruído complexo aureomamilar , solicitando que o outro natural seja modificado.

No campo da obesidade mórbida - a Cirurgia Plástica encontra um campo vasto de actuação, pois cada doente necessita de cinco a 10 grandes tratamentos cirúrgicos, com o objectivo de ficar harmonioso todo o seu corpo, tendo surgido com esta patologia novos procedimentos como o body lift, ou dermolipectomia circular do tronco, em que chegam a ser retirados 10 litros de gordura e cinco quilos de pele.

Esta área cirúrgica está em fase de crescimento acentuado, prevendo-se um aumento nos próximos anos, de acordo com a previsão relativa à obesidade mórbida dos adultos e das crianças.

A cirurgia estética - além da estrutura e função dos tecidos, que são os objectivos fundamentais da cirurgia reconstrutiva, a estética visa predominantemente a morfologia, o aspecto, a cor, a perfeição, em que, por vezes, o carácter subjectivo é relevante.

Este capítulo da cirurgia plástica apresenta um crescimento excepcional nas últimas duas décadas, graças à melhoria global de vida do ser humano, dos progressos sociais, económicos e culturais, da procura da perfeição, do belo e da juventude, a par do aumento da longevidade, tendo maior acuidade no continente europeu e americano, a par da grande divulgação e informação, pela imprensa falada e escrita.

Assim, o desejo de:

• Rejuvenescimento facial e do pescoço tem procura muito grande pelo sexo feminino e masculino a partir dos 40 anos.

• A escultura do tecido adiposo (lipoescultura), a cirurgia que continua a ter maior procura em todo o mundo da cirurgia plástica, já que é realizada em toda a parte do corpo em que haja gordura. É conseguida na face, pescoço, pernas, pés, braços, rea­lizando-se, actualmente, mega lipoaspirações, sobretudo na parede abdominal cintura e coxas, com modificação impressionante do contorno corporal.

• Também a auto-enxertia de tecido adiposo, gordura que se retira de uma região e é utilizada para dar relevo e harmonia a outra, como para rejuvenescer a face, as mãos, e dar volume às pernas e outras regiões.

• A cirurgia de aumento mamário, diminuição e levantamento, tem tido um grande incremento, graças à diminuição das cicatrizes, e à melhoria da qualidade e perfeição do material utilizado.

• A cirurgia capilar, isto é, a correcção cirúrgica da carência ou ausência parcial de cabelo, que existe em cerca de metade (50%) do sexo masculino, é cada vez melhor conseguida e mais procurada.

• A correcção cirúrgica que visa a harmonia anatómica e
fisiológica dos genitais tem grande procura pelo sexo masculino, desde há 10 anos, tendo-se verificado um incremento excepcional desta procura, pelo sexo feminino nos últimos seis anos.

Torna-se bem patente que estes tratamentos, quando bem conseguidos, têm reflexo positivo, não apenas no corpo do paciente, mas também no terreno psicológico, afectivo, sexual, social, de relacionamento e, muitas vezes, assiste-se à melhoria da própria actividade profissional.