Artigo de Saúde Pública®
Nº 38 / Outubro de 2005
04 45 mil portugueses em risco de cegar
O desconhecimento e a falta de informação fazem com que milhões de pessoas permitam que sobre seus olhos se esbata a negra sombra da DMI.
DEGENERESCÊNCIA MACULAR RELACIONADA COM A IDADE (DMI)
45 MIL PORTUGUESES EM RISCO DE CEGAR
O desconhecimento e a falta de informação fazem com que milhões de pessoas permitam que sobre seus olhos se esbata a negra sombra da DMI. E passam a ver o mundo pelas frinchas laterais, que apenas mostram uma realidade desfocada.
Madalena Barbosa
Chega ao ritmo da inevitável passagem dos anos. Os primeiros sinais são imperceptíveis, até que entre o doente e o mundo se interpõe uma espécie de cortina negra, bem no centro dos seus olhos. Trata-se de uma doença denominada de degenerescência macular relacionada com a idade (DMI), que afecta já cerca de 30 milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portugal, estima-se que a população de risco seja de 2800 milhões de pessoas, sendo que 300 mil são potenciais doentes e 45 mil já estão afectadas.
A DMI é uma doença degenerativa da retina que causa a perda da visão central, deixando apenas intacta a visão lateral ou periférica. Afecta a mácula – parte central da retina –, responsável pela visão nítida e necessária para muitas actividades diárias, como a leitura ou a condução.
Mas como surge esta doença? «Começa pela ocorrência de lesões entre a retina e a coróide (que suporta e nutre a retina)», explica o Prof. José Cunha-Vaz, director do Serviço de Oftalmologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
«Como consequência», explica, «surgem drusas (pequenos depósitos lipídicos redondos e de cor branco-amarelada) que provocam a morte das células fotorreceptoras, responsáveis pela captação dos estímulos luminosos e pela comunicação com o cérebro para se dar processo da visão».
Nas pessoas com DMI, «a visão de qualidade perde-se, o que limita muito uma vida», resume Cunha-Vaz. O doente fica incapacitado de executar tarefas que exigem uma visão pormenorizada, como ler, escrever ou ver televisão.
Existem dois principais tipos de DMI: a forma atrófica (ou seca) e a forma exsudativa (ou húmida), sendo esta última a mais grave e a que origina a perda da visão central. A DMI exsudativa representa 20% das ocorrências e é responsável por 90% dos casos de perda grave de visão associada à DMI. Nesta forma ocorre o crescimento dos vasos sanguíneos anormais, sob a zona central da retina – a mácula –, que derramam líquido e sangue para o fundo do olho. Isto leva ao aparecimento de cicatrizes na retina que provocam a distorção das imagens e perda da visão central.
Prevenção passa por diagnóstico atempado e tratamento imediato
«Não há uma causa específica da DMI, mas várias», esclarece Cunha-Vaz. As investigações demonstram que a DMI é três vezes mais frequente nos fumadores. Por outro lado, uma alimentação rica em gorduras pode originar o depósito de placas lipídicas nos vasos maculares, o que dificulta o fluxo sanguíneo e aumenta o risco de DMI. «Quando são detectados alguns sinais da doença, é aconselhável tomar um suplemento nutricional», adverte Cunha-Vaz. E continua: «Há uma série de medicamentos no mercado com um conjunto vitamínico específico para este tipo de patologias ligadas à idade.»
A DMI pode, também, ser transmitida geneticamente. Um estudo recente defende que os parentes em primeiro grau de doentes com DMI húmida poderão apresentar um risco três vezes maior de contrair a patologia.
Como o próprio nome indica, a incidência da DMI aumenta com a idade. Isto porque: «As nossas células receptoras da visão estão constantemente a ser renovadas, mas, a partir de uma certa idade, essa renovação não é tão eficaz. Então, a acumulação destas células mortas começa a criar condições para a doença aparecer», elucida Cunha-Vaz.
Segundo dados do National Eye Institute, as pessoas na casa dos 50 anos têm 2% de probabilidade de sofrer de DMI e o risco aumenta para perto de 30% nas pessoas com mais de 75 anos.
Contudo, a perda da visão associada à DMI não tem de ser uma consequência inevitável do envelhecimento. A detecção precoce e o tratamento atempado podem controlar a progressão da doença, evitando que o doente perca a visão central e fique condicionado na sua autonomia. «Principalmente aqueles que desconfiam de uma predisposição genética», sustenta Cunha-Vaz, «devem precocemente consultar o oftalmologista e fazerem uma série de exames para detectarem se existe algum sinal da doença».
E continua: «Se existirem sinais e forem pouco preocupantes, basta uma visita anual ao oftalmologista. Se forem muito preocupantes, deve ser uma visita de seis em seis meses.»
Futuro promissor
«Há cerca de cinco anos, o tratamento da DMI era quase nulo. Nestes últimos tempos surgiram novos tratamentos», diz Cunha-Vaz. Um deles – a terapêutica fotodinâmica – apareceu em 2000.
«É injectada uma substância que depois, sendo activada pela luz no fundo do olho, sela e impede a progressão dos neovasos (vasos sanguíneos anormais da retina que ocorrem na forma húmida), evitando-se, assim, uma maior deterioração da visão», explica o especialista.
Segundo revela José Cunha-Vaz, as investigações em curso estão mais focadas na prevenção da fase húmida da doença. E há uma esperança comum entre especialistas: «Se conseguíssemos impedir o crescimento dos neovasos, poderíamos evitar a progressão mais grave da doença e estabilizá-la na forma seca», diz.
Para além dos novos métodos de diagnóstico, «que permitirão detectar mais precocemente a doença», encontram-se em ensaio clínico vários medicamentos, «pelo menos quatro». Alguns destes novos fármacos, que «são extremamente promissores», estão já na fase de aprovação e «permitirão ao doente, já depois de ter perdido a visão central, e se a perda for recente, recuperá-la», adianta Cunha-Vaz. Mas quando poderão os doentes com DMI ter acesso a estes medicamentos? Este especialista responde: «É provável que, no período de um a dois anos, alguns deles possam estar no nosso mercado.»
Sinais de alerta
– As linhas rectas parecem distorcidas, principalmente as focadas pelo centro da visão;
– A percepção das cores é menos nítida ou altera-se;
– Dificuldade em ver com nitidez e definição;
– Surge uma área manchada e escura no centro da visão.
5.º Congresso Europeu de DMI em Portugal
A principal causa de cegueira acima dos 50 anos nos países industrializados é praticamente desconhecida em Portugal, facto particularmente grave se tivermos em conta que nestes doentes o importante é intervir a tempo e controlar a perda de visão, até ao momento, irreversível.
Mais de 600 especialistas da área da Oftalmologia, vindos de 38 países, estiveram reunidos no Centro de Congressos do Estoril, para participarem no 5.º Congresso Europeu de DMI, um evento organizado pela Novartis, que ocorreu no mês passado.
Os novos tratamentos em investigação e o modo de actuar perante a doença foram os temas fortes deste congresso, sendo que a reunião contou com a presença de representantes da AMD Alliance, uma associação internacional de doentes com DMI, que apresentaram o seu trabalho desenvolvido junto de doentes e respectivas famílias.
Para mais informações:
Linha DMI 808 204 040
www.dmi.online.pt