- Dr. Pedro Gonçalves
- Dr. Manuel de Sousa Almeida
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte nos países desenvolvidos e um dos factores de risco mais importante é a hipertensão arterial (HTA). Para além de ter um papel determinante no desenvolvimento dos acidentes vasculares cerebrais e dos enfartes do miocárdio, a HTA está ainda implicada noutras doenças incapacitantes, como é o caso da doença vascular periférica e da insuficiência renal, sendo uma das principais causas de falência renal terminal com necessidade de hemodiálise.
Num estudo publicado, em 2007, na
Revista Portuguesa de Cardiologia, que avaliou a prevalência, conhecimento, tratamento e controlo da hipertensão arterial em Portugal, os resultados apontaram para uma prevalência global da HTA na população adulta de 42,1%, dos quais só 46,1% destes doentes sabiam que eram hipertensos, apenas 39% tomavam medicação anti-hipertensora e somente 11,2% estavam controlados.
Estes números não são muito diferentes de estudos realizados noutros países que apontam para uma prevalência global de 38% nos homens e de 32% nas mulheres. Este contraste entre a importância da HTA para a saúde pública e o seu baixo grau de controlo deixa em aberto caminhos alternativos que possam contribuir para o seu melhor controlo.
Recentemente, foi desenvolvida uma técnica para tratamento da hipertensão arterial resistente por cateterismo, com recurso a energia de radiofrequência. O procedimento tem como objectivo reduzir actividade das fibras nervosas que fazem a ligação entre o sistema nervoso central e o rim e que tem um papel importante na origem e manutenção da HTA.
A eficácia deste procedimento foi já demonstrada em ensaios clínicos multinacionais e está aprovado para uso médico na Comunidade Europeia.
O Hospital de Santa Cruz iniciou em Portugal esta técnica pioneira, tendo tratado os primeiros doentes em Julho deste ano. O projecto resulta da colaboração entre os Serviços de Cardiologia (Director: Dr. Miguel Mendes) e de Nefrologia
(Director: Dr. José Diogo Barata) do Hospital de Santa Cruz e Centro Hospitalar Lisboa Ocidental. Os Cardiologistas de Intervenção Dr. Pedro de Araújo Gonçalves e Dr. Manuel de Sousa Almeida têm a seu cargo a realização do procedimento de ablação renal por radiofrequência e as Nefrologistas Dr.ª Patrícia Branco e Dr.ª Augusta Gaspar têm a seu cargo o seguimento dos doentes em consulta.
Os casos considerados candidatos a este procedimento (doentes que mantêm valores persistentemente elevados de tensão arterial, apesar de estarem já medicados com pelo menos três grupos diferentes de medicamentos) são discutidos e seleccionados por esta equipa multidisciplinar. A colaboração multidisciplinar neste projecto é considerada
pela equipa do Hospital de Santa Cruz como uma mais-valia, uma vez que se podem unir esforços e conhecimentos diferentes no que de melhor se faz em cada área. Dado o elevado interesse da comunidade médica nesta nova área, os resultados iniciais deste grupo foram já submetidos para publicação da
Revista Portuguesa de Cardiologia.
Outras equipas médicas já iniciaram este tipo de tratamento, no Hospital da Luz, no Hospital de Santo António, no Porto, de Santa Maria, em Lisboa, e no Centro Hospitalar dos Covões, em Coimbra.
Pode consultar acima o pdf do artigo.