De acordo com o Prof. Doutor José Artur Paiva, o antibiótico administrado na primeira hora reduz a mortalidade em cerca de 66%.
A primeira via verde da sépsis arrancou em Julho de 2008 no Hospital de São João, no Porto. A partir daí, o Centro Hospitalar do Funchal seguiu o exemplo. E, no ano passado, cinco hospitais com serviços de urgência polivalentes e um com serviço de urgência médico-cirúrgico da Administração Regional de Saúde do Norte também aderiram a este projecto. No espaço de dois anos, oito hospitais já integram a rede da via verde da sépsis. Segundo o coordenador nacional da via verde da sépsis, o Prof. Doutor José Artur Paiva, espera-se que, até 2011, todas as unidades hospitalares com serviços de urgência polivalentes estejam ligados a esta rede.
«Tal como acontece para outras patologias, nomeadamente, o acidente vascular cerebral (AVC) e o enfarte agudo do miocárdio (EAM), este projecto é o reconhecimento de que a precocidade da resposta relaciona-se com o sucesso do tratamento. Na sépsis, tempo é vida.» Através do sistema de triagem de Manchester (o que mais vigora no nosso País), o enfermeiro que está nas urgências, para além dos protocolos da triagem, coloca ainda duas a três perguntas suplementares, que se destinam ao despiste da sépsis. «Trata-se de um procedimento rápido que permite criar um caminho prioritário de observação e tratamento.»
«A Coordenação Nacional e a Direcção-Geral da Saúde (DGS) estão a fazer todos os esforços para que se reforce esta via rápida de tratamento nos serviços de urgência polivalentes (os que recebem o maior número de caso e os mais graves); posteriormente, os serviços médico-cirúrgicos e os de urgência básica.» De acordo com o Prof. Doutor José Artur Paiva, podemos, hoje, afirmar a «reprodutibilidade do sistema de via verde da sépsis em vários e diferentes hospitais».
Quando se diagnostica um caso de sépsis, o protocolo indica que se deve administrar o antibiótico durante a primeira hora do atendimento. Com esta medida consegue-se obter uma significativa redução da mortalidade por sépsis grave ou choque séptico. A «radiografia» feita em 2005, nos hospitais portugueses, permitiu chegar à conclusão de que apenas 30% dos doentes com sépsis recebiam antibiótico na primeira hora após admissão na urgência.
Os dados obtidos até agora, nos serviços onde a via verde já foi implementada, sugerem uma redução de 40% na mortalidade, comparando a mortalidade do estudo de 2005 com a mortalidade dos doentes entrados através da via verde da sépsis, que, neste momento, se cifra nos 22%. Os estudos científicos corroboram a importância da administração do antibiótico durante a primeira hora, em doentes com sépsis grave: «Por cada hora que se demora a ministrar o antibiótico, a mortalidade aumenta cerca de 7,6%», garante o Prof. Doutor José Artur Paiva.
Segundo o coordenador nacional da via verde da sépsis, «o conceito fundamental deste projecto é priorizar o atendimento destes doentes, isto é, reduzir o tempo entre a admissão na urgência e a avaliação por equipa competente em sépsis». Logo que o doente dá entrada no hospital – caso se suspeite de uma infecção generalizada –, o enfermeiro que está na triagem activa, via telefone, a presença de uma equipa de sépsis hospitalar, que vai proceder à avaliação e confirmação do diagnóstico. «Se for detectada uma infecção generalizada, é activada uma linha de tratamento específico que culmina com a administração imediata do antibiótico.»
«O algoritmo de avaliação, de diagnóstico e tratamento será comum a todas as estruturas hospitalares», diz o especialista. No entanto, caberá a cada hospital definir, localmente, o modo como o tratamento será aplicado. «Calcula-se que, quando o sistema estiver completamente desenvolvido, haverá cerca de 120 casos de sépsis por dia em todo o País», prognostica o coordenador nacional da via verde da sépsis. Está previsto que, em 2011 ou 2012, este projecto se estenda à área pré-hospitalar, o que implicará uma articulação com o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
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