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Artigo de Informação SIDA®

Nº 72 / Janeiro de 2009






16 A mulher e o VIH/SIDA
A Dr.ª Teresa Branco explica como o risco de infecção pelo VIH nas mulheres é duas a quatro vezes superior.
Decorridos mais de 25 anos desde o início da pandemia da sida, são notáveis os progressos científicos associados ao estudo do vírus da imunodeficiência humana ou VIH e à terapêutica anti-retroviral, altamente eficaz. Infelizmente, a aplicação do conhecimento científico à realidade e à prevenção da propagação da doença tem sido muito difícil e ainda não parou de aumentar o número de pessoas infectadas em todo o mundo.

As mulheres constituem, em 2008, cerca de metade do número de infectados globalmente e chegam, nos grupos etários mais jovens, a atingir dois terços das novas infecções, sendo a transmissão por via heterossexual a mais frequentemente implicada.

Sendo biologicamente mais vulnerável – o risco de infecção pelo VIH é duas a quatro vezes superior para a mulher, numa relação heterossexual não protegida e agravado ainda com a presença de DST ou doenças sexualmente transmissíveis, outros factores existem (psicológicos, socioeconómicos, culturais e religiosos) que a tornam mais susceptível.

A mulher é ainda, muitas vezes, economicamente dependente do seu companheiro e a falta de educação e formação profissional são factores que podem influenciar a sua capacidade de se proteger.

Se até agora não parecem ser evidentes diferenças significativas entre o homem e a mulher na resposta à terapêutica anti-retroviral, poucos são os estudos clínicos que incluam número suficiente de mulheres para que se possam tirar conclusões definitivas. É necessário criar condições que permitam recrutar mais participantes do sexo feminino, e esta premissa deve partir do desenho do ensaio clínico e contar com o empenho dos investigadores envolvidos.

O seguimento das mulheres infectadas deve ser feito de uma forma adequada às diversas etapas da sua vida. Desde a adolescência, fase de descoberta da sexualidade, cheia de dúvidas e confrontos, à idade adulta, com as alterações cíclicas hormonais e a gravidez, até à menopausa e à senescência.

Em todos os grupos etários, a infecção pelo VIH deve ser abordada de forma global, atendendo a necessidades particulares no suporte de adesão à terapêutica. Ter em conta a maior incidência de depressão na mulher, o facto de ser o membro da família, normalmente, responsável pelo cuidar dos outros – dos filhos, do companheiro ou dos mais idosos, o medo do estigma, da rejeição e do isolamento são factores a ter em conta ao planear o seguimento das mulheres infectadas.

Por falta de formação adequada dos próprios profissionais de saúde, a percepção de risco de infecção é, muitas vezes, subestimada e a mulher é diagnosticada em fases tardias da doença. É necessário, mais do que informar, alertar para a possibilidade de comportamentos de risco, presentes ou passados, próprios ou dos companheiros, e propor mais frequentemente a realização de testes de diagnóstico. O conhecimento da seropositividade permite o início da terapêutica antes do desenvolvimento da fase de doença e também a redução dos comportamentos de risco, com a consequente diminuição de novas infecções.

Encontrar métodos de protecção que não estejam, como o preservativo, dependentes da colaboração do parceiro sexual são uma das necessidades mais urgentes. Os microbicidas, substâncias que a mulher pode utilizar localmente, não têm tido até agora os resultados esperados, embora se levantem de novo esperanças em compostos que utilizam medicamentos anti-retrovirais. Também as vacinas que pudessem ser utilizadas em larga escala seriam estratégias possíveis, mas ainda longínquas.

A formação, essencial na nossa luta contra o VIH/sida, precisa, certamente, de começar nas escolas, com programas de educação sexual que sejam mais do que aulas de anatomia e fisiologia. Nos locais de trabalho, nas empresas, nas companhias de seguros e até nos tribunais. E também nas famílias, onde começa toda a formação.

A prevenção, aspecto em que mais se tem falhado na luta contra o VIH, passa pela informação sobre as formas de transmissão, mas também pela formação. A mulher tem de aprender a ter comportamentos responsáveis e que lhe permitam proteger-se, mas também a exigir que os parceiros os tenham. Que a sociedade onde estão inseridas as respeite e lhes permita viver uma vida activa e normal, com cuidados de saúde adequados e acessíveis, programas de reprodução assistida que lhes permitam a maternidade e medidas de prevenção amplamente disponíveis.
Porque a mulher merece!


Dr.ª Teresa Branco
Assistente hospitalar graduada de Medicina Interna na Unidade Clínica Autónoma de Infecciologia do Hospital de Fernando Fonseca
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