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Artigo de Informação SIDA®

Nº 65 / Novembro de 2007






04 Troca de seringas
Foi distribuído um total de 38 milhões de seringas ao longo de 13 anos.
Oferta não satisfaz procura na troca de seringas

No balanço de 13 anos, a Coordenação Nacional Para a Infecção VIH/SIDA assume que 38 milhões de seringas distribuídas de 1993 até 2006 não foram suficientes para cobrir as necessidades. Naturalmente, os distritos de Lisboa, Porto, Setúbal e Faro só por si concentram 82% das recolhas em quase década e meia. De acordo com a Dr.ª Carla Torre, da Coordenação, que apresentou as conclusões do programa recentemente, aquando da apresentação do novo kit, «a oferta não satisfaz a procura e existem razões objectivas para tal».

A média de seringas trocadas por utilizador de drogas injectáveis em Portugal é, anualmente, de 60 a 90, quantidade que não é concebível «como óptima num programa deste tipo», diz Carla Torre, apoiando-se nas estimativas do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência. A Noruega e o Luxemburgo atribuem em média cerca de 250 seringas por cada consumidor de drogas injectáveis, estando no topo, neste capítulo.

«Está mais do que provado que têm de existir várias modalidades de oferta de seringas. Passando pela venda, a troca nas farmácias, as parcerias estabelecidas com organizações governamentais e não governamentais e os postos móveis. Cada utilizador é diferente e selecciona o local que melhor serve os seus intentos», sublinha Carla Torre.


Melhorar a cobertura das equipas de rua

Alguns factores explicam as lacunas no Programa de Troca de Seringas (PTS), como a diminuição do número de farmácias que integram o programa de troca. Carla Torre avança algumas explicações: «Por possíveis distúrbios dos próprios consumidores de drogas injectáveis, roubos, entre outros.»

A melhoria da eficácia também reside na localização das equipas de rua, que se concentram nas cidades de Lisboa, Porto e Coimbra, aqui com presença mais tímida. «Há postos móveis que usam as mesmas rotas, sendo o seu público-alvo imutável. Mas há zonas do País que estão a descoberto. O programa aí não consegue responder.»

Na Madeira, imagine-se, as seringas apresentam uma configuração diferente das que são distribuídas no continente. Houve necessidade de uma resposta adequada, porque, diz Carla Torre, houve a percepção de «que as farmácias não trocavam seringas». Afinal, era o material que não servia. «A droga utilizada também revela diferenças na sua qualidade. Mal introduzimos outra seringa no kit, com um bico diferente, o número de trocas disparou na Madeira, servindo deste modo as necessidades dos utilizadores.»


Equipas de rua ou farmácias: as escolhas variam

Em 1999, com o surgimento das equipas de rua, foi encetada uma forma de articulação que as farmácias não têm naturalmente. Nomeadamente, «na deslocação a locais onde as farmácias não estão presentes e em horários nocturnos, em que é possível uma resposta concreta às necessidades que existem no terreno, nos bairros mais problemáticos, por exemplo».

Há outro fenómeno que afasta os utilizadores das equipas de rua. São os casos das pessoas que não querem ser conotadas com o consumo de droga e desejam privacidade.

Situações específicas como de quem, sendo habitante de uma pequena localidade, não veja garantido o anonimato ao pedir o material. Há ainda quem não queira ser associado às equipas de rua e prefira inclusivamente comprar as seringas na farmácia. Carla Torre aponta esta diversidade de factores, «que tem de ser considerada no PTS». Há quem prefira deslocar-se às farmácias para obter o kit, trocar ou mesmo comprar a sua seringa.

«Em Portugal, a venda de material de injecção é permitida, o que não acontece na Suécia, por exemplo, em que as seringas são vendidas apenas com prescrição médica», anota Carla Torre.


Troca por... troca

Uma seringa por cada «chuto» é a pretensão da Coordenação Nacional Para a Infecção VIH/SIDA. Mas também trocar uma por outra. Essa é uma condição básica, embora não haja um padrão de rigidez. É tudo uma questão de bom senso.

Antes de mais, «é preciso garantir que as seringas usadas e/ou contaminadas com o VIH ou vírus das hepatites saiam da rua. E que sejam incineradas, além da lógica prevenção das doenças». Carla Torre refere-se aqui ao perigo que representam as seringas abandonadas em locais públicos, como praias ou outros espaços frequentados por pessoas que, num momento de distracção, podem picar-se sem reparar.

Carla Torre anuncia a criação de um manual de boas práticas nesta área da troca de seringas. «Pretendemos reunir as farmácias, as organizações governamentais e não governamentais que participam no PTS. Vamos pensar em como melhorar este programa, analisando todos as condicionantes geográficas, de padrões de consumo e do número de consumidores de drogas injectáveis».

O PTS é financiado pelo Ministério da Saúde. Desde os kits até à logística. O Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), por outro lado, tem a seu cargo algumas das equipas de rua, enquanto que o financiamento dessas equipas, nalguns casos, está a cargo de câmaras municipais ou a outras estruturas dependentes do Governo.





Novos elementos no kit do programa de troca de seringas

O novo kit já está a ser distribuído, desde Junho, quer nas farmácias, quer nas equipas de rua, agora com um conceito retocado e elementos acrescentados. «Duas 'caricas' e duas carteiras de ácido cítrico são as inovações que foi necessário introduzir. Traduz-se numa intenção de reforçar a capacidade de resposta quanto às necessidades dos utilizadores de drogas injectáveis (UDI). Em primeira linha, evitar a partilha de materiais usados, como o recipiente, por exemplo, entre os utilizadores de drogas injectáveis na preparação da droga e não apenas a partilha de seringas», refere a Dr.ª Carla Caldeira, do Departamento de Programas de Cuidados Farmacêuticos da Associação Nacional das Farmácias (ANF).

A expressão «caricas» é aqui adoptada para os dois pequenos recipientes de alumínio que, basicamente, funcionam como tal, mas que devem ser descartados após o uso. Isto constitui uma mais-valia, na opinião de Carla Caldeira, reduzindo a possibilidade de transmissão do VIH e outros problemas associados a quem se injecta, como, por exemplo, hepatites B e C.

As avaliações que têm chegado do terreno levam Carla Caldeira a considerar que «a resposta tem sido positiva ao novo kit, nos utilizadores de drogas injectáveis que o utilizam».

O ácido cítrico serve para solubilizar a droga e apresenta-se em carteiras individuais, procurando afastar o uso do limão, que tem o mesmo propósito, mas com consequências bem diferentes a diversos níveis.

«Como o limão é usado por vezes durante dias a fio, transportado para todo o lado, o uso das carteiras previne doenças relacionadas com essa prática, tal como endocardites ou outras infecções bacterianas. É que, muitas vezes, o limão até já se encontra putrefacto e mesmo assim continua a servir e é partilhado por diferentes utilizadores de drogas injectáveis», explica Carla Caldeira.

Por outro lado, a ANF considera que «há sempre resistências às mudanças». Para isso, Carla Caldeira refere que é necessária uma informação efectuada pelas farmácias e equipas de rua, «que têm como função aconselhar a aplicação deste novo kit». O perfil etário dos utilizadores situa-se entre os 25 e os 40 anos.

O kit pode ser adquirido gratuitamente nas farmácias e equipas de rua. No programa de troca de seringas, no ano de 2006, encontram-se como aderentes 1341 farmácias.

Também foram estabelecidos 35 protocolos com entidades governamentais e não-governamentais, com a colaboração das equipas de rua nas principais cidades do País.



Texto: David Carvalho
Fotos: Ricardo Gaudêncio

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