A Associação Dianova Portugal tem três objectivos: prevenir, reabilitar e reinserir.
REABILITAÇÃO DE TOXICODEPENDENTES NA ASSOCIAÇÃO DIANOVA DE PORTUGAL
Recuperar o corpo e a alma
A Associação Dianova Portugal tem três objectivos: prevenir, reabilitar e reinserir. Informação SIDA
® foi conhecer a vertente da reabilitação na Comunidade Terapêutica Quinta das Lapas.
Carlos Silva (nome fictício) tem 40 anos.
É toxicodependente e seropositivo, encontrando-se em reabilitação na Comunidade Terapêutica Quinta das Lapas, da Associação Dianova Portugal. A sua história começa aos 16 anos com o desinteresse pela escola e a experiência de novas realidades proporcionadas pelo consumo de álcool e de drogas leves, como a cannabis.
«Foi uma droga que nunca gostei muito e talvez por isso experimentei, aos 18 anos, a heroína injectada. Um ano depois estava a consumir regularmente.»
Estava, como dizemos na gíria, agarrado. A partir daí, Carlos conta que seguiu uma vida sempre ligada às drogas duras, particularmente à heroína, visto que a cocaína injectada era consumida «mais em festas».
Neste período, não largou o álcool e a sua dependência continuou a par das drogas. Pelo meio, existiram muitas tentativas de reabilitação. A metadona tornou-se num substituto da droga durante algum tempo.
«Muitos dizem que não é a melhor forma, mas para mim foi importante porque foi através da metadona, ao fim de muitos anos, que consegui largar a heroína», confessa Carlos Silva.
Outras formas de reabilitação estavam relacionadas com a permanência em clínicas para pequenas curas de fim-de-semana ou de quinze dias, fundamentalmente para proceder à desintoxicação.
Para Carlos, «eram curas apenas com o objectivo de limpar o organismo e não se trabalhava mais nada». No fim, a consequência era voltar para a rua e voltar para o consumo.
Apesar do apoio da família, quer economicamente quer por empregos que lhe arranjavam, Carlos Silva acabava sempre por se render à droga. Acabou por ser preso por posse de heroína. Decide, mais tarde, ir para Itália recuperar-se.
A experiência não foi bem-sucedida porque, como conta, «não havia motivação da minha parte. Fui para lá por pressão da família e por isso aguentei apenas dois meses».
Foi também nessa altura, na Comunidade Terapêutica em Itália, que, após efectuar umas análises ao sangue, Carlos Silva descobriu que é seropositivo. Actualmente, tem consciência de que a transmissão do VIH se deveu à partilha de seringas.
«Sei que tive um comportamento de risco muito grande. Para escapar à polícia, os toxicodependentes escondiam-se na famosa "rua escura" do Porto e ali, com todos a injectarem-se, havia partilha de seringas. O intuito era consumir para chegarmos à cidade sem droga e não corrermos o risco de sermos presos por posse.»
Quando volta à sua rotina, depois de regressar da experiência não sucedida em Itália, Carlos é mais uma vez preso. Nessa altura, decide abandonar a heroína, mantendo o consumo de cocaína que passa a ser fumada - o chamado crack - porque «já não tinha veias para me injectar».
O contacto com a Associação Dianova Portugal não é recente. Para além de ter pertencido ao programa da Casa Azul, durante cinco meses, já teve uma primeira passagem pela Quinta das Lapas.
«Fiz um programa completo e, de facto, trabalhei os objectivos que necessitava de trabalhar. Aqui o mais importante é trabalharmos os objectivos para que, uma vez lá fora, tenhamos comportamentos e atitudes diferentes das do passado.»
Após esse primeiro programa ruma para Inglaterra. Com o seu regresso, regressa também o consumo de cocaína durante um mês, altura em que achou que a sua história com as drogas devia ter um ponto final.
«Percebi que se continuasse na rua estava a enganar-me porque não seria capaz de me libertar das drogas. Achei por bem iniciar um novo programa. E espero que seja desta...»
Para além da sua própria motivação, Carlos Silva pensa na idade. «Já estou com uma certa idade e começo a sentir-me saturado pelo consumo das drogas. Já não é a questão de desiludir a família, mas as coisas começam a saturar não só para nós como para eles.
Relativamente ao seu estado de seropositividade, Carlos Silva encontra-se em tratamento, a tomar o Viramune e o Combivir, sendo acompanhado no Hospital de Joaquim Urbano.
Agora, Carlos só quer libertar-se das drogas e recuperar o corpo e a alma que foram apanhados nas teias da droga. Os objectivos futuros passam por ficar, de certo modo, ligado ao trabalho na Associação Dianova Portugal.
«É claro que quero arranjar uma companheira, mas já não sonho com grandes voos. Quero dar um passo de cada vez. Neste momento, o mais importante é cortar a relação com as drogas duras e conseguir consumir álcool apenas socialmente.»
Comunidade Terapêutica Quinta das Lapas
A Comunidade Terapêutica Quinta das Lapas é uma resposta ao problema da toxicodependência, nomeadamente pelo tratamento.
A abordagem é orientada pelo Programa Livre de Drogas, numa perspectiva cognitivo-comportamental. Actualmente, conta com 31 utentes portugueses e estrangeiros, numa idade média de 25/26 anos, em diferentes fases do programa de abstinência às drogas.
Para entrar na Comunidade há alguns requisitos. A desintoxicação, por exemplo, é prévia ao processo de integração. Além disso, há um processo de pré-admissão do qual deve contar uma série de exames clínicos, onde é realizada uma entrevista biopsicossocial e onde se faz uma avaliação do perfil e das necessidades do utente.
«O objectivo é trabalhar a entrada do utente na Comunidade e perceber se a sua motivação e necessidades são adequadas, ou não, ao nosso tipo de resposta. Por exemplo, no caso de utentes com VIH, automaticamente é marcado o seguimento médico em unidades especializadas», refere a Dr.ª Cristina Lopes, directora técnica da Comunidade Terapêutica Quinta das Lapas, Dianova Portugal.
Numa tentativa de dar resposta à situação nacional, a Comunidade aceita também pessoas em programas de substituição, mas sempre com uma orientação para a abstinência, no máximo de três meses. «Eles entram com aquilo a que chamamos dose baixa para podermos aplicar a redução e consequente abstinência, no máximo ao fim de três meses.»
Isto não significa que seja um programa desmedicalizado.
«Há pessoas que têm patologias associadas, como o VIH ou outras doenças do foro psiquiátrico, que se encontram medicadas, mas apenas para o tratamento dessas patologias e não para o tratamento da toxicodependência», afirma a directora técnica.
É também por estas razões que a equipa é multidisciplinar integrando uma directora da área terapêutica, uma directora técnica, um psiquiatra, uma médica de clínica geral, uma psicóloga clínica, uma assistente social, uma técnica de reinserção social, um psicopedagogo, monitores, animadores socioculturais, um administrativo e um motorista, para além do apoio jurídico e de recursos humanos.
Primeira fase: adaptação
Com a entrada do candidato, o mesmo dá início à primeira fase de um programa de longa duração, por norma de um ano. Esta primeira fase, designada por «Adaptação» tem o tempo mínimo de um mês e consiste essencialmente na recuperação física do utente e na integração com a restante Comunidade.
«É a adaptação à Comunidade, aos outros elementos, às regras, ao espaço, a responsabilidade da casa, entre outras coisas. A recuperação física acontece também nesta fase e é primordial porque, muitas vezes, chegam-nos com alterações do sono e/ou estados de ansiedade», salienta Cristina Lopes.
Outra preocupação é a relação entre os ganhos e as perdas, sendo importante que os primeiros superem os últimos. Num dos exercícios trabalha--se o balanço entre estes dois factores. Há a perca daquilo que a pessoa considera que a droga lhe dava de positivo, há a perca de alguma liberdade pessoal, mas depois há outros ganhos e é importante que o utente tenha a consciência disso e que os ganhos sejam superiores às percas.
«Além de ser um choque a entrada na Comunidade Terapêutica, além de ter uma motivação baixa para a reabilitação, o utente pode ter muitos ganhos. São coisas que são palpáveis, como readquirir o hábito de tomar banho todos os dias, desempenhar uma determinada tarefa e aprender a lidar com os outros. Depois há outras coisas que não são palpáveis como o aumento da auto-estima, a confiança e a realização.»
Uma vez superado o choque, o corte com o exterior também pode ser uma mais-valia. «É o momento em que procuramos que o utente contacte consigo, isto é, que se concentre em si, não estando sob a influência de factores externos.»
O contacto com a família nesta primeira fase é restrito limitando-se à correspondência por carta. «Não há encontros pessoais, nem telefonemas. Ao fim do primeiro mês, podem-
-se fazer telefonemas. Qualquer componente na Comunidade vai aumentando de forma gradual», afirma Cristina Lopes.
Segunda fase: consolidação
Na segunda fase, designada por «Consolidação» e com a duração aproximadamente de nove meses, o utente passa a sair, primeiro em grande grupo, depois em grupos mais pequenos até que tem autorização de sair sozinho. Nesta fase, passa também a ter visitas com a família. A primeira visita é feita na própria Comunidade para que a família conheça o espaço e se familiarize com o ambiente que rodeia o utente em tratamento. Posteriormente, as visitas podem ser feitas no exterior, sendo inicialmente realizadas
com um acompanhante.
Os grupos temáticos fazem também parte deste período. Inicialmente há dois grupos, nomeadamente um que trabalha as emoções e outro mais de racionalização que aborda alguns aspectos sociais ou, por exemplo, a gestão de dinheiro.
Aqui entram as várias actividades como os ateliers de expressão plástica, de carpintaria, o ponto de Internet no qual se dá formação sobre as novas tecnologias aos utentes, entre outras tarefas quotidianas como a cozinha e a lavandaria.
Por outro lado, dá-se continuidade ao trabalho da auto-estima e investe-se mais na autoconfiança, no controlo da impulsividade, permitindo uma individualização do programa.
A individualização é um princípio existente na Comunidade. Cristina Lopes explica que «há um programa igual para todos os elementos da Comunidade, que consiste nas actividades e nas regras inerentes a cada uma delas.
Porém, e apesar de todos terem a característica do abuso
de substâncias, os utentes não são todos iguais. Não faz sentido por isso haver uma pressão da nossa parte para que encaixem todos nas nossas respostas».
Após a realização das avaliações (pelo próprio utente, pelos colegas e pela equipa), é elaborado um plano individual com aquilo que a equipa considera que o utente tem para trabalhar. É neste ponto que surge a individualização porque nem todos os utentes trabalham ao mesmo tempo a auto-estima ou as relações familiares.
Apesar de ser um trabalho mais desgastante para a equipa, Cristina Lopes admite que «traz mais benefícios. As respostas são mais adequadas a cada um. Temos, por exemplo, vários grupos terapêuticos e nem todos os utentes passam ao mesmo tempo por eles porque as necessidades são diferentes».
Terceira fase: pré-reinserção
Dependendo da evolução de cada um, começa-se a trabalhar o Projecto de Vida.
A reinserção é um objectivo desde o primeiro dia, mas começa a ter mais relevância nesta segunda fase e essencialmente na terceira, a pré-reinserção, que tem um tempo estimado de três meses.
Procurar emprego, um estágio ou um curso profissionalizante, definir onde vai viver, assegurar, no caso de ser um utente com hepatite ou VIH, acompanhamento médico, são algumas das etapas que colocam em prática o Projecto de Vida, sendo, por isso, uma fase mais virada para o exterior e com um investimento maior para o retorno à sociedade. Pode acontecer também que, nesta terceira fase, e tendo em conta que deu início ao seu Projecto na segunda fase, já esteja a trabalhar ou a estagiar em algum sítio.
Alguns fazem uma transição para os Programas de Reinserção da Associação Dianova, como são o caso da Empresa de Inserção, o apartamento de reinserção social ou medidas de formação profissional e apoio ao emprego do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).

Psicoterapia individual e de grupo
O trabalho da Dr.ª Ana Delgado, psicóloga na Comunidade Terapêutica Quinta das Lapas, começa, desde o início, com o processo de admissão, nomeadamente na entrevista.
Após a entrada e o início do tratamento surgem duas vertentes que acompanham os utentes até à sua saída do programa: a psicoterapia individual e a de grupos.
A primeira acontece de acordo com as necessidades dos
utentes. «É onde se estabelece a relação com o utente e onde se trabalha a sua confiança, a sua história de vida e outras questões pertinentes, referentes ao passado, ao presente e ao futuro», descreve Ana Delgado.
Os grupos realizam-se duas vezes por semana e se à terça-feira trata-se essencialmente de um encontro em que se discute um tema livre, na quinta-feira o grupo é temático, ou seja, desenrola-se à volta de um tema seleccionado pela equipa e que pode ser desde a prevenção de recaídas à gestão das emoções ou à reinserção.
Apesar de cada caso ser um caso, as questões inicialmente mais problemáticas, para além de estarem relacionadas com a ansiedade e a impulsividade, dizem respeito à resistência que os utentes têm.
Segundo a psicóloga, «a resistência acontece no sentido em que, de início, é-lhes difícil criar uma relação de confiança suficiente para falarem dos seus problemas. De alguma forma tudo o que eles viveram anteriormente vai promover o que eles são hoje e, deste modo, há muitas questões que têm de ser trabalhadas e que têm a ver directamente com o consumo de drogas, ou não, como as questões familiares ou o processo de socialização».
Interrogada sobre o factor mais relacionado com o consumo de drogas e tendo em conta a experiência de trabalho com os utentes da Comunidade Terapêutica, Ana Delgado salienta que «é difícil definir um perfil e uma causa principal para a dependência».
Admite, porém, que pode haver um conjunto de causas que passam, em primeiro lugar, e em muitos deles, «pela curiosidade e pela relação na adolescência com os outros pares, que dá início a muitos comportamentos de risco. Por outro lado, se é verdade que temos pessoas com histórias de vida mais complexas e com problemas familiares, também é verdade que temos pessoas que chegam de famílias completamente estruturadas e sem grandes problemáticas à partida».
A ideia de que se começa a consumir para fugir aos problemas familiares, não é, portanto, absoluta. A curiosidade, como já foi referida, o divertimento e a possibilidade de poder ultrapassar limites está presente em muitas pessoas que iniciam o consumo de drogas. E por consequência surgem então os atritos familiares.
Motivação: o motor da mudança
Na Comunidade Terapêutica Quinta das Lapas, a entrada é oficializada por um compromisso cujo objectivo é a abstinência de drogas. De acordo com a psicóloga, «há mesmo a assinatura de um contrato terapêutico entre ambas as partes que formaliza esse compromisso. A Dianova compromete-se a facultar um programa terapêutico e a cumprir a legislação em vigor para o trabalho nesta área. Por sua vez, os utentes comprometem-se a aceitar as directivas do programa terapêutica, a respeitar as regras e as normas da Comunidade. Este contrato é válido desde que entram até ao fim do programa, podendo ser interrompido por situação de expulsão ou desistência».
A expulsão é um acontecimento muito raro e a desistência pode acontecer, estando mais relacionada com a verdadeira motivação do utente. Quando a motivação que os leva a entrar para a comunidade não é intrínseca, e passa mais pela pressão familiar ou pela directiva de um serviço público, os resultados raramente são os mais positivos e podem conduzir para a desistência do utente.
A motivação é também um factor importante que pode ajudar na primeira fase do utente na Comunidade. Na fase da «Adaptação», a confiança do utente ainda não está estabelecida. Além disso, pode haver à partida mais ansiedade e impulsividade por parte do próprio pela abstinência do consumo.
Aspectos clínicos
Dentro da problemática da toxicodependência existem, cada vez mais, outros diagnósticos associados. Tratam-se dos duplos diagnósticos, isto é, da patologia da toxicodependência associada, muitas vezes, a uma doença psiquiátrica, que, em grande medida, está relacionada com o consumo das modernas drogas sintéticas, como o ecstasy e o speed, entre outras, que têm consequências maiores no sistema nervoso do que a cocaína ou a heroína.
Perante estes casos, Ana Delgado refere que «é fundamental, em termos individuais, definir estratégias que nos ajudem a trabalhar da melhor forma as necessidades daquela pessoa».
As patologias mais frequentes nos duplos diagnósticos são as perturbações da personalidade. Depois podem existir patologias do foro psicótico, depressões e ansiedades.
Por vezes, o que fica sem explicar é se existia uma patologia de base que foi aliviada pelo próprio consumo ou se o consumo desencadeou o desenvolvimento de uma nova patologia.
A psicóloga dá o exemplo dos doentes psicóticos que consomem heroína. «Nestes doentes, a heroína mascara, muitas vezes, os sintomas do foro psicótico. Mas o inverso também é verdadeiro, ou seja, o facto de consumirem pode desenvolver patologias que estavam adormecidas.»
A Dr.ª Conceição João, médica de clínica geral, vai à Comunidade Terapêutica uma vez por semana para fazer consultas.
A grande maioria dos doentes que chegam já vem com uma história clínica e tem exames e análises feitas. Alguns, no caso dos toxicodependentes seropositivos, por exemplo, são acompanhados por outra instituição, como os Hospitais Universitários de Coimbra ou o Hospital de Joaquim Urbano.
«Por norma eles já têm um processo aberto noutro lado e dá-se continuidade a esse acompanhamento especializado, sendo que aqui na Comunidade têm assistência, mas ao nível da clínica geral.»
Outra situação, esta mais comum, é referente aos utentes com hepatite C. «Dentro daquilo que é possível, eles apresentam uma boa resposta à medicação. Acontece, por vezes, serem encaminhados para os colegas da especialidade. Felizmente, a incidência da hepatite C nos utentes têm diminuído, até porque alguns dos toxicodependentes não são heroinómanos», salienta Conceição João.
A par destes problemas, e sendo os utentes da Comunidade bastante jovens, não têm outro tipo de patologias, para além da toxicodependência, tirando uma dor ou outra que surge e cujos cuidados são efectuados na consulta.
Texto: Teresa Pires
Fotos: Ricardo Gaudêncio
Associação Dianova Portugal: a luta em três vertentes
A Associação Dianova, Instituição Particular de Solidariedade Social e Associação de Utilidade Pública tem por missão contribuir para o desenvolvimento social através da educação e da intervenção nas toxicodependências, regida pelos valores de compromisso, solidariedade, entreajuda, tolerância, autonomia, integração e internacionalidade.
A prevenção, o tratamento e a reinserção dos toxicodependentes são os três objectivos-chave. De acordo com a Dr.ª Christina Lizarza, presidente da direcção da Associação Dianova Portugal, «a prevenção é realizada aproveitando o know-how e a experiência dos nossos técnicos e recursos Dianova, em parceria com entidades públicas e privadas. Por sua vez, o tratamento é realizado em regime residencial em Comunidade Terapêutica e a reinserção trabalha-se através dos programas existentes para esse fim».
Sobre a reabilitação de um toxicodependente inserido numa Comunidade Terapêutica, Christina Lizarza fala-nos das vantagens evidentes, como «abstinência controlada, maior intensidade e continuidade no tratamento (o factor tempo é crucial na alteração de comportamentos), assumpção de comportamentos sociais sob condições de observação ideais, maior potencial de intervenção sobre o grupo e separação temporal do meio envolvente natural».
Em todo o caso, e independentemente destas reais vantagens, é natural que, como em qualquer outro tratamento, se venham a verificar «recaídas a médio ou longo prazo, por inferência de factores externo negativos como não conseguir colocação laboral, família desestruturada e/ou contingências de vida futura».
Porém, e segundo dados de 2004, a Associação Dianova Portugal pauta-se pelo sucesso: todos os indivíduos continuavam em tratamento um mês depois do seu ingresso, 75% aos três meses, 60,7% aos seis meses, 53,6% ao fim de nove meses e 32,1% permaneciam passado um ano desde que iniciou o tratamento.
«São dados em sintonia com vários estudos internacionais realizados ao longo dos últimos anos na Europa e EUA, como o DARP, NTORS, BROEKART, em que a percentagem de sucesso varia entre os 25 e 35%. 40% melhoram graças aos tratamentos, 20% têm uma remissão espontânea e 40% não respondem a tratamento algum», afirma a presidente da Associação.
Destaque-se o facto de, após uma reestruturação organizacional bem sucedida em finais dos anos 90, a Comunidade Terapêutica Quinta das Lapas ter obtido a Certificação em Gestão da Qualidade ISO 9001:2000.
«Somos a primeira entidade do sector em Portugal a obter esta garantia de eficiência e qualidade de serviço prestado directamente aos nossos beneficiários, e temos equacionados novos desenvolvimentos, como a modernização das instalações, o reforço das equipas, o aumento do número de camas convencionadas afectas a populações específicas e a criação de sistema de follow-up para monitorização de utentes reabilitados ao longo dos anos vindouros (permitindo efectuar estudos longitudinais e procedermos a uma avaliação dos resultados dos programas)», conclui Christina Lizarza.