Director
José Alberto Soares Coordenação Manuel Moreira Director Comercial
Miguel Ingenerf Afonso Assistente Comercial
Sandra Morais Directora de Marketing
Ana Branquinho Director de Produção
João Carvalho Director de Produção Gráfica
José Manuel Soares Director de Multimédia
Luís Soares Copy Desk
Sérgio Batista Fotografia
Ricardo Gaudêncio (Editor)
Jorge Correia Luís
José Madureira
Revisão Ciêntifica
JAS Farma®

Medicina e Saúde<sup>®</sup> 132 / Outubro de 2008 Saúde Pública<sup>®</sup> 73 / Outubro de 2008
Mundo Médico<sup>®</sup> 59 / Julho de 2008 Edições Especiais Saúde Pública<sup>®</sup> 1 / Maio de 2007
Edições especiais Mundo Médico<sup>®</sup> 95 / Junho de 2008 Informação SIDA<sup>®</sup> 70 / Setembro de 2008
Mundo Farmacêutico<sup>®</sup> 36 / Setembro de 2008 Jornal Pré-Congresso 1 / Setembro de 2008
Jornal do Congresso 51 / Outubro de 2008 Jornal Diário do Congresso 35 / Outubro de 2008
Saúde em Dia<sup>®</sup> 2 / Abril de 2007 HematOncologia<sup>®</sup> 3 / Outubro de 2008
 

Artigo de Informação SIDA®

Nº 51 / Julho de 2005






32 «Diz Não a uma Seringa em 2ª Mão»
Posto móvel da Cova da Moura: Uma proximidade adquirida com os UDI
Uma proximidade adquirida com os UDI

A Ana e a Inês são duas colaboradoras no posto móvel do Programa de Troca de Seringas (PTS). O percurso delas começa na Pontinha, junto à estação do Metro, onde se encontram com o senhor Augusto, motorista da carrinha.

Depois de estarem todos juntos e de se confirmar o material pedido, nomea­damente, as embalagens de seringas, preservativos, filtros, toalhetes e ampolas de água bidestilada, ruma-se em direcção à Cova da Moura. Das 10 horas até ao meio-dia ficam no concelho da Amadora e à tarde vão para Odivelas.

Esta ligação com estes conce­lhos surge na sequência de protocolos de colaboração estabelecidos entre a Comissão Nacional de Luta Contra a SIDA (CNLCS) e a Associação Nacional das Farmácias (ANF), com as respectivas Câmaras Municipais.

Na Cova da Moura, a carrinha não entra propriamente no bairro porque as ruas são muito estreitas. Numa espécie de largo, à entrada do bairro, estaciona-se. O lugar é sempre o mesmo para não haver dispersão, fidelizando os toxicodependentes utilizadores de drogas injectáveis (UDI).

De manhã, o movimento é menor. «É cedo e ainda estão a dormir» é a justificação dada. A carrinha não é estranha aos transeuntes e os rostos de quem ali pára já são conhecidos da equipa do posto móvel.

A média de trocas de seringas no posto móvel é variável, dependendo muito do dia em questão. Se for numa segunda-feira fazem-se mais trocas, até porque se acumulam as seringas do fim-de-semana. O mesmo acontece à sexta-feira, numa tentativa de conseguir material suficiente para sábado e domingo. Contrariamente aos outros dias, em que só podem trocar oito seringas, à sexta-feira o número duplica, e cada UDI pode trocar até 16.

Colaborar no PTS

A Ana tem 28 anos e começou, em 2002, como colaboradora na unidade móvel, através da ANF, enquanto terminava a sua licenciatura em Psicologia Criminal. O caminho da Inês, de 25 anos, foi um pouco diferente.

«Soube do PTS através de umas amigas que participavam no projecto. Fiquei entusiasmada e comecei a colaborar, já lá vão quase três anos», afirma Inês.

O receio, ou melhor, o medo pelo desconhecido dominou um pouco a vida de Ana e Inês no início. «Era uma realidade diferente daquela que sempre vivi e havia o receio de estar, ou não, à altura para responder a situações que se colocassem, com algum tipo de conflito ou confusão», salienta Ana.

A verdade é que, com o tempo, ambas se aperceberam que, entre elas e os toxicodependentes que vão trocar as seringas à carrinha, se pode criar um elo e o respeito está presente. Os medos iniciais acabam por desaparecer ou são superados.

Para Inês, a relação de proximidade existe na medida em que são, talvez, as pessoas mais próximas daqueles toxicodependentes porque «acabamos por conversar com eles, saber como estão e, eventualmente, quais são as suas necessidades e motivá-los para o tratamento, podendo aconselhar alguns centros de apoio (CAT)».

A relação que se estabelece é uma relação muito informal e, por isso, existe a abertura e o à-vontade para que os UDI partilhem questões como o porquê de estarem na situação em que estão, ou seja, os desenvolvimentos e as circunstâncias da vida que os levaram à toxicodependência.

Este tipo de «confissão», como diz Ana, «dá-nos, também, espaço para fa­zermos sugestões, isto é, aconselharmos algum tipo de ajuda coerente com o que nos foi contado. É desta forma que fazemos sensibilização e os incentivamos para a procura de soluções».

Os casos de sucesso são desconhecidos e apenas se estima que eles acontecem quando as pessoas deixam de aparecer. Quando alguém sai do meio, e está em recuperação, é muito complicado voltar, nem que seja para uma visita. E desse modo, perde-se o seguimento daquela pessoa.

«Pensamos que estará melhor ou, pelo menos, fica a ideia de que terá dado um passo na vida para melhorar, mas a verdade é que não sabemos, porque não há um acompanhamento. Simplesmente, achamos que quando não volta é porque está tudo bem. Pode haver, também, outras razões mais desagradáveis, como quando acontece o pior e a pessoa faleceu», refere Ana.

Mudar para crescer

Trabalhar com os toxicodependentes utilizadores de drogas injectáveis também altera formas de pensamento e posturas perante a vida. Na Ana e na Inês essas modificações estão
bem presentes.

«Ganha-se uma sensibilidade diferente na opinião que se tem do toxicodependente e do papel da sociedade junto deles. É fácil ser-se crítico e condenar-se, quando não se convive com os UDI e não se conhece a história de vida deles. Quando os conhecemos, percebemos que é muito fácil, até para uma de nós, entrar no mundo da droga pelos mais variados caminhos. Ao termos esta consciência, somos mais compreensivos e não demasiado críticos», afirma Ana.

A postura de Inês também não é diferente. «Consegue-se, realmente, entender o lado deles e, deste modo, também se luta e se tenta fazer o melhor por eles.»

Fazer mais no PTS

O programa é essencial pelo seu objectivo, nomeadamente, a redução de danos. A sensibilização passa um pouco pelas pessoas que pertencem às unidades móveis, ligadas à psicologia e/ou farmácia que, como tal, têm bases para ajudar quer na área da prevenção da saúde e saúde mental.
Porém, Ana refere como alterações futuras a necessidade de um investimento «em articulações porque não exis­te nenhum acordo que nos permita sair do teórico para a prática. Se tivéssemos protocolos com determinadas associações, quer ao nível estatal como particular, que nos dissessem que tinham um determinado número de vagas e nós fizéssemos um levantamento do número de UDI que realmente estariam interessados e poderiam levar a reabilitação a sério, seria mais fácil dar início a todo este processo de acompanhamento sem os perder. Não sei é até que ponto este tipo de protocolos seriam, ou não, viáveis. É apenas uma sugestão».
E que poderia funcionar como uma mais-valia para o PTS, ainda que não tenha sido esta a sua estrutura base.

Texto: Teresa Pires
ver comentários (0)

Deixe o seu comentário sobre este artigo