Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 97 / Novembro de 2005
26 Jornadas de Urologia do Hospital de Pulido Valente
A UROLOGIA NA MEDICINA FAMILIAR
O médico de família pode tratar algumas doenças urológicas
Cátia Jorge
Por estar mais próximo dos doentes, o médico de família acaba por criar uma relação de cumplicidade e, por vezes, amizade com os pacientes.
É a ele que a população, em geral, recorre sempre que surge um problema de saúde, e não só. O médico de família é, acima de tudo, um conselheiro que acompanha várias gerações da mesma família e conhece melhor que ninguém as dúvidas, os medos e as doenças que passam de pais para filhos. Será, portanto, também o médico de família a pessoa indicada para resolver problemas urológicos, sobre os quais existem ainda alguns tabus, como é o caso da disfunção sexual, da incontinência urinária e de determinadas doenças da próstata.
«Os médicos de família são os profissionais de saúde melhor colocados para terem o primeiro contacto com muitos dos problemas que atingem os cidadãos, e os urológicos não escapam à regra», salienta o Dr. Eduardo Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral.
«Qualquer médico de família deve estar preparado para diagnosticar, acompanhar e tratar determinados doentes urológicos», acrescenta o Dr. Tomé Lopes, director do Serviço de Urologia do Hospital de Pulido Valente, continuando: «Se estiver formado e bem-informado pode acompanhar doentes com incontinência urinária, disfunção eréctil ou até algumas doenças da próstata».
Com o envelhecimento da população calcula-se que até 2035 o número de pessoas com mais de 65 anos irá duplicar. Sendo que a grande parte das doenças urológicas surgem em idade geriátrica, dificilmente haverá, nessa altura, especialistas suficientes para tratar tantos doentes.
«Será impossível que sejam só os urologistas a tratá-los. As consultas nos hospitais demoram imenso tempo, as clínicas particulares implicam o pagamento de valores que poucos idosos podem pagar, como tal, caberá ao médico de família vigiá-los e tratá--los até onde se sentirem aptos e seguros», adianta o urologista.
Jornadas de Urologia
Para formar e informar os médicos de Clínica Geral, o Serviço de Urologia do Hospital de Pulido Valente realiza, no dia 11 de Novembro, pela segunda vez, as Jornadas de Urologia na Medicina Familiar.
«A divulgação das doenças urológicas têm levado muitas pessoas a procurar especialistas no sentido de resolver os seus problemas. Desta forma, este ano decidimos abordar as três patologias mais incidentes nesta especialidade. São elas a incontinência urinária na mulher, as doenças da próstata e a disfunção sexual masculina», esclarece Tomé Lopes.
«Eu diria que a maior parte dos problemas e das patologias desta área pode e deve ser diagnosticada, tratada e seguida pelo médico de família. A restante, como por exemplo a patologia oncológica, deve ser referenciada ao urologista», diz o clínico geral, adiantando que, «mesmo nesses casos os doentes devem continuar a ser seguidos pelo médico de família». A responsabilidade do médico para com o seu doente, não cessa portanto quando este o referencia para outro especialista.
Numa fase em que os tabus foram superados é natural que, cada vez mais se sinta uma maior procura de urologistas. «A urologia esteve fechada durante muito tempo, agora está na hora de nos abrirmos a outras especialidades. É esse o objectivo das jornadas de urologia do Pulido Valente», continua.
A questão é saber até onde pode ir o médico de família na
abordagem de doenças urológicas. «Deve ir até onde se sentir preparado e seguro. Quando tiver dúvidas e incertezas deve encaminhar o doente para um especialista. Pode fazer o diagnóstico, ou pelo menos levantar a suspeita do que se possa tratar, mas no que diz respeito a tratamentos deve deixar à responsabilidade do urologista», responde o urologista.
Eduardo Mendes argumenta que «sempre que o problema necessitar de um maior nível de especialização técnica e científica para o seu diagnóstico ou terapêutica o doente deve ser encaminhado para um especialista».