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Artigo de Medicina e Saúde®

Nº 94 / Agosto de 2005






34 João Oliveira, 36 anos, fuma para gerir o stress
Texto: Sofia Filipe


52% dos fumadores usam os cigarros para gerir o stress

Há 15 anos que João Oliveira acende cigarros. Pouco tempo depois de ter este vício, já fumava um maço de tabaco por dia. No seu currículo de fumador consta um período em que todos os dias fumava 60 cigarros. Agora, fuma 15. Pretende largar esta depen­dência, mas o stress não deixa!

«Fumo o primeiro cigarro do dia em jejum. Tenho a plena consciência de que me faz mal, mas fumo, porque sinto essa necessidade, embora seja uma dependência mais psicológica que física», conta este publicitário de 36 anos.

E acrescenta mais pormenores do seu dia-a-dia ligados aos cigarros: «Levo o carro para o emprego e o facto de estar no trânsito deixa-me nervoso e leva-me a fumar imenso no percurso. Mal chego ao emprego também acendo mais um cigarro, devido ao nervosismo de iniciar a actividade.»

A actividade profissional obriga este lisboeta a ausentar-se frequentemente do local de trabalho para ter reuniões. É mais uma situação que o leva a fumar. E muito.
«Tenho objectivos a cumprir e isso deixa-me na expectativa, por exemplo, que um negócio seja concluído com sucesso», argumenta João Oliveira.

«Julgo que deixaria de fumar se um médico me proibisse por motivos de saúde muito graves. Aliás, foi por estar consciente dos malefícios deste vício que consegui reduzir o número de cigarros por dia», diz João Oliveira.

Numa das tentativas para deixar de fumar, este jovem esteve três meses sem fumar, mas devido ao seu «estilo de vida stressante» acabou por sentir falta do tabaco.

«Tenho um filho de 22 meses, por isso raramente fumo em casa e quando o faço é na varanda. Se, por exemplo, acabam os cigarros não saio a correr para comprar tabaco», comenta o mesmo publicitário, confessando:
«De certeza que abandonava o vício se tivesse uma profissão menos agitada. Não devo largar o tabagismo enquanto tiver um emprego relacionado com esta área.»

Profissões «stressantes»

A relação de João Oliveira com os cigarros é familiar a muitos portugueses, especialmente àqueles que partilham o fado de terem uma actividade profissional de stress. De facto, um estudo recente comprova que a Publicidade é uma das áreas profissionais em que é evidente a relação entre o tabaco e o stress.

Segundo dados estatísticos do estudo Hábitos Tabágicos em Profissões de Stress, 56% dos entrevistados fumam habitualmente no local de trabalho. Deste universo destacam-se os jornalistas (67,7%), os corretores da bolsa (66,7%), os taxistas (61,4%), os gestores (59,7%), os trabalhadores ligados aos serviços de protecção e segurança (58,8%), os publicitários e relações públicas (56,7%), os controladores aéreos (46,7%) e os profissionais de saúde (41,9%).

A maioria dos inquiridos (52%) justifica este comportamento como forma de gerir o stress, outros dizem que fumar é uma estratégia para relaxar (36,3%).

Enquanto 68,3% dos inquiridos afirma que o consumo de tabaco se tem mantido idêntico, 25,2% declara que diminuiria o número de cigarros por dia, caso deixasse a actual actividade profissional.

Quase metade dos participantes do estudo (49,4%) já tentou abandonar o vício, mas muitos (58,2%) desistiram da tentativa antes de completar um mês sem fumar.

Doenças de fumadores e ex-fumadores

Cancro do pulmão, doenças cardiovasculares e problemas respiratórios são as três complicações originadas pelo tabagismo mais temidas pelos fumadores que participaram no estudo Hábitos Tabágicos em Profissões de Stress.

Mas outras complicações há que também estão associadas ao tabaco e que pouco foram apontadas pelos 402 participantes deste estudo.

Organizada pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) e o projecto GOLD – Iniciativa Global para a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica –, a pesquisa revelou que 78,5% dos inquiridos desconhecem a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).

Este desconhecimento não seria grave se a DPOC não fosse uma doença associada ao tabagismo, que agrava com a continuação e aumento do consumo de tabaco, sendo a sexta causa de morte em Portugal e a 12.ª causa de incapacidade em todo o mundo.

Neste seguimento, e de acordo com o estudo, os portugueses com mais probabilidades de terem DPOC têm profissões que propiciam o consumo excessivo de tabaco.
Por isso, além de elaborar o estudo, a SPP e o GOLD, apoiados pela Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral e pelas farmacêuticas Boehringer Ingeheim e Pfizer, realizaram acções de rastreio de DPOC em 18 capitais de distrito do País. A população em risco – idade superior a 40 anos e ser fumador ou ex-fumador – foi o alvo destes rastreios a uma doença que começa com a dificuldade em respirar e acaba na invalidez.
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