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Artigo de Medicina e Saúde®

Nº 89 / Março de 2005






16 Os fumadores passivos não estão isentos do cancro no pulmão
Milhares de europeus morrem devido ao tabaco

É dos gestos mais naturais que vemos fazer. Na rua, na paragem do autocarro, no bar ou a seguir ao café. Parece que, para quem fuma, sabe bem.

O problema, porém, está em que o saber bem a uns pode, em casos mais graves, causar a morte a outros.

Todos os anos, a European Cancer League organiza a Semana Europeia Contra o Cancro (11 a 15 de Outubro), sempre subordinada a um tema. Este ano, a escolha recaiu sobre a problemática dos fumadores passivos.

A legislação existente até é a adequada. Agora, a aplicação dessa mesma lei é que se depara com obstáculos complexos de serem ultrapassados. Um exemplo claro é, segundo a Dr.ª Albina Dias, psicóloga da Liga Portuguesa contra o Cancro (LPCC), o das escolas:
«Não posso compreender como é que se pode facilitar que os jovens fumem nas escolas. É proibido, mas a verdade é que, em algumas escolas, os adultos encolhem os ombros porque eles também fumam.»

É precisamente dos jovens e das crianças que, muitas vezes, nos esquecemos. Afinal, são as maiores vítimas do fumo passivo.
«Se um adulto se sente incomodado pelo fumo protesta, enquanto que, por exemplo, uma criança muitas vezes não o sabe fazer», refere a psicóloga.

«Mas os fumadores não devem ser os únicos a ser responsabilizados», frisa Albina Dias, «dado que os fumadores são pessoas que têm um problema, são dependentes. Todos necessitam de ser sensibilizados e esclarecidos quanto aos malefícios do fumo passivo. E as crianças e os jovens têm de ser protegidos».

O proibido é o mais apetecido

Como explicar, então, este fascínio, nomeadamente, nas camadas mais jovens, que o tabaco ainda exerce, hoje em dia, apesar de todas as campanhas, proibições e dados científicos que comprovam os malefícios deste hábito?

Segundo a especialista da LPCC, «nos adultos, o “fascínio” decorre da sua dependência. Outro factor a ter em conta é a imagem que a indústria tabaqueira tem conseguido fazer passar através de campanhas publicitárias, extremamente bem-feitas, que transmitem aquelas sensações de charme, elegância, poder e vidas fascinantes.

Por outro lado, os jovens sabem que fumar é um comportamento para os adultos, logo, fumar é uma forma de ascensão e emancipação. Finalmente, o facto de ser proibido também tem o seu quê de apelativo, o que não quer dizer que discorde da proibição.

Contudo, estas proibições e restrições devem ser acompanhadas de esclarecimento e discussão sobre a problemática do tabagismo».

Muito ainda se poderia fazer no que respeita à prevenção do hábito tabágico, mas «o que é mais difícil de mudar são os comportamentos das pessoas», refere a psicóloga. As acções da Liga Portuguesa contra o Cancro ou da European Cancer League são, apenas, as bases de um trabalho que cabe à sociedade promover e desenvolver.

Mas Albina Dias acredita que estamos no bom caminho: «Nos últimos 15 anos, o tabagismo está cada vez mais malvisto pela população.»

A legislação existe, as campanhas fazem-se, a vontade política é constante e, nos últimos anos, muito se fez. No entanto, continua a ser uma luta desigual contra as tabaqueiras. São empresas com muito dinheiro. Mesmo com a proibição de se fazer publicidade directa ao tabaco, elas contornaram a questão com a criação de lojas, maioritariamente roupa e perfumes, com produtos fantásticos e caros que associam as marcas de tabaco a algo interessante e prestigiante.

Os perigos do fumador passivo

Um estudo realizado em 2002, em nome da Comissão Europeia, mostra que apenas 2% dos inquiridos acreditam que o fumo passivo é inofensivo, 23% defendem que provoca desconforto, enquanto que 36% acreditam que, a longo termo, pode vir a causar doenças graves como o cancro.

O fumo passivo é o fumo do tabaco existente no meio ambiente e que é respirado por aqueles que não são fumadores. Sempre que se partilha um espaço fechado com alguém que está a fumar fica-se exposto ao fumo do tabaco, facto que poderá causar graves problemas de saúde.

Na realidade, o fumo provocado pelo consumo de tabaco contém, pelo menos, 4000 compostos químicos, sendo a sua maioria tóxicos e mais de 40 deles conhecidos como cancerígenos. O fumador só inala 15% do fumo de cada cigarro, os restantes 85% são libertados para o ambiente.

De acordo com a Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Cancro (AIPC), um organismo integrante da Organização Mundial de Saúde, existem inúmeros estudos que comprovam que o fumo passivo é uma das causas de cancro do pulmão em não fumadores.

Durante os últimos 25 anos, foram publicados mais de 50 estudos sobre a relação entre fumo passivo e o risco de contrair cancro no pulmão em não fumadores. Estes estudos mostram que existe uma correlação positiva entre o risco de pessoas não fumadoras, cônjuges de fumadores, virem a contrair cancro do pulmão e a exposição ao fumo passivo.

As mulheres sujeitas ao fumo passivo provocado pelos seus maridos têm um risco acrescido em 20% de virem a contrair cancro do pulmão, enquanto que esse risco aumenta para 30% para os homens nas mesmas condições.

Os indivíduos não fumadores expostos ao fumo no local de trabalho têm um risco acrescido em 16 a 19% de virem a contrair cancro no pulmão.

Além disso, de acordo com os dados epistemológicos da AIPC, existe uma relação causa/efeito entre a exposição ao fumo passivo e a doença coronária. Foi estimado que o fumo passivo aumenta entre 25 a 35% o risco de um não fumador ter um enfarte do miocárdio.

Os filhos de pais fumadores têm grande probabilidade de vir a sofrer vários problemas de saúde. As crianças expostas ao fumo passivo sofrem, frequentemente, de tosse, catarro, respiração ruidosa e infecções respiratórias (bronquite, pneumonia e asma infantil). Diversos estudos comprovam que a frequência e gravidade dos sintomas de asma infantil aumentam quando as crianças doentes estão sujeitas ao fumo passivo, e diminuem quando deixam de estar submetidas a estes ambientes.

Dados científicos comprovam que existe uma relação causa/efeito entre a exposição ao fumo passivo e o enfisema pulmonar, quer em crianças, quer na população adulta.

Diagnóstico: cancro na garganta

Natália tem o rosto vincado pela doçura das avós. O seu olhar de 75 anos é banhado por uma ternura sem limites. Sorri à minha chegada. Vinha da visita que faz regularmente ao marido, que se encontra internado no Instituto Português de Oncologia. Natália não tem voz. As palavras castigam o ar que lhe sai, a muito custo, da garganta. A rouquidão encostou-se à sua vida para a não deixar mais. Respira com dificuldade.

Nunca fumou na vida. O marido nunca fumou. A filha nunca fumou. Há uns anos, no entanto, foi-lhe diagnosticado cancro na garganta. Hoje, laringectomizada, recorda a revolta que sentiu quando a informaram da doença. Viveu profissionalmente rodeada de pessoas que fumavam. Não sabe o quê, mas tem a certeza de que algo tem de ser feito para a sua história não se repetir.

Despedimo-nos. Apesar da crueldade do destino, o sorriso da alma é bem visível enquanto se afasta, a caminho da sua vida.

Sintomas de fumo passivo

– Irritação dos olhos, nariz e vias respiratórias;
– Redução da função pulmonar;
– Dores de cabeça;
– Tonturas e náuseas;
– Fadiga;
– Perda de concentração;
– Diminuição do olfacto e do paladar;
– Grávidas expostas a fumo passivo correm o risco de terem bebés de baixo peso;
– Pode causar doença do ouvido médio (otite serosa), que é a causa mais comum de surdez nas crianças;
– Frequência da síndrome de morte súbita aumenta nos bebés/crianças expostos ao fumo do tabaco.


Rui Miguel Falé
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