Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 89 / Março de 2005
48 Associação Laço: lutar contra o cancro da mama – Dr.ª Lynne Archibald
Dr.ª Lynne Archibald
Presidente da Associação Laço
Pergunta: Qual é a doença que mata mais mulheres em Portugal, mas que tem uma possibilidade de cura de 90% se for detectado a tempo?
Resposta: Cancro da mama.
E aqui está o paradoxo do cancro da mama. Detectado precocemente, normalmente tem cura e precisa de intervenções muito menos radicais do que se for diagnosticado mais tarde. Mas, porque o cancro da mama é a doença que mais medo causa às mulheres, elas não fazem os exames diagnósticos. Por isso, 1500 mulheres em Portugal morrem por ano devido ao cancro da mama. A Associação Laço quer mudar isso.
A Associação Laço começou há quatro anos quando a Karen Bright, uma inglesa residente em Portugal, achou que não era suficiente ir ao funeral de uma amiga que tinha morrida com cancro de mama. A Karen sentiu que tinha de fazer mais – em honra da sua amiga e das muitas mulheres que lutam contra o cancro da mama aqui em Portugal.
Encontrámo-nos pela primeira vez em Outubro de 2000. Descobrimos que havia mais perguntas que certezas, mas acabámos a reunião com a decisão de fazer um almoço no Dia Internacional da Mulher – dia 8 de Março.
O objectivo seria angariar fundos para a Liga Portuguesa Contra o Cancro (Núcleo Regional Sul) e chamar a atenção para o grave problema do cancro da mama. O almoço realizou-se e teve o apoio de muitas pessoas, empresas e organizações, e no fim houve muitas mulheres que acharam que devíamos continuar. Assim nasceu a Laço.
Hoje, a Associação Laço existe como Instituição Particular de Solidariedade Social, tem um sítio e um grupo de voluntárias dedicadas. Nos últimos quatro anos, a Associação Laço angariou mais de 620.000 euros. Esse dinheiro já serviu para comprar três unidades móveis de mamografia totalmente equipadas para o Programa Nacional de Rastreio, gerido pela Liga Portuguesa Contra o Cancro.
Mais de 37.500 mulheres já foram rastreadas graças a estas unidades móveis. Destas mulheres, mais de 285 receberam tratamento hospitalar em consequência do rastreio.
Mas angariar dinheiro para possibilitar o acesso à mamografia não chega. Por isso, a Laço realizou uma investigação quantitativa para uma melhor compreensão da percepção das mulheres portuguesas relativamente à questão do cancro da mama. Para comunicar a mensagem sobre detecção precoce, precisamos de compreender a melhor maneira de fazer chegar a informação essencial.
Em 2005 esperamos voltar a estudar mais profundamente esta questão porque há muitas mulheres com acesso a mamógrafos que não fazem as suas mamografias.
Colaboração e sinergia entre grupos são essenciais. Por isso, trabalhámos com a Liga Portuguesa Contra o Cancro (NRS) e a Sociedade Portuguesa de Senologia para organizar a primeira Semana Nacional do Cancro da Mama no fim de Outubro de 2004, uma iniciativa que voltará a acontecer em Outubro de 2005.
Em 2004, a semana incluiu um colóquio na Assembleia da República sobre o rastreio do cancro da mama em Portugal e uma exposição no átrio da Assembleia da República, sobre a situação actual do cancro da mama e do rastreio em Portugal. Houve murais apelativos e distribuição de postais informativos em muitos locais, além de anúncios sobre a importância do diagnóstico precoce em revistas nacionais.
O concerto da Mariza, com o Alto Patrocínio de D. Maria José Ritta, no Palácio Nacional de Ajuda, no dia 28 de Outubro, marcou um passo importante para a visibilidade do cancro da mama como assunto de importância para debate público.
Parcerias com empresas são também muito importantes para a Laço. Já fizemos campanhas de sensibilização e angariação de fundos com Alliance Unichem, Dove, Charles e Be A Bag. Faz sentido escolher uma marca ou uma loja para apoiar uma causa importante.
Assim, consumidores podem favorecer empresas que contribuem para a nossa comunidade. Do nosso lado, além do grande potencial financeiro de algumas empresas, também reconhecemos que parcerias com produtos e lojas são mais uma maneira de transmitir informação básica sobre o cancro da mama.
Qual é o futuro que a Laço quer ver? Um futuro próximo em que todas as mulheres em Portugal tomem cuidado delas próprias. As regras mais importantes:
• Ir ao médico uma vez por ano a partir dos 18 anos para fazer um exame clínico.
• Fazer mensalmente o auto-exame a partir dos 18 anos. Se encontrar alguma anomalia, consulte o seu médico.
• Fazer uma mamografia de dois em dois anos, a partir dos 40 anos (ou mais cedo, se for aconselhado pelo médico).
A mamografia permite detectar alterações mínimas e revelar nódulos que ainda não são perceptíveis à palpação, mas que são altamente curáveis.
• Ter uma alimentação equilibrada, rica em frutos e vegetais e em cereais com alto teor de fibras. Evitar as gorduras e os açúcares.
• Fazer exercício.
• Não fumar e beber com moderação.
A Laço quer um Portugal onde todas as mulheres tenham acesso à mamografia e, se for preciso, tratamento atempado de qualidade. A Laço quer ver a taxa de mortalidade do cancro da mama a baixar todos os anos, até ao último objectivo – zero.