Director
José Alberto Soares Editora Executiva
Sofia Filipe Redacção Rui Miguel Falé
Bruno Dias
Manuel Moreira
Paula Pereira
Colaboradores
David Carvalho
F. Castro
Director Comercial
Miguel Ingenerf Afonso Assistente Comercial
Sandra Morais Directora de Marketing
Ana Branquinho Publicidade
Patrícia Branco
Director de Produção
João Carvalho Director de Produção Gráfica
José Manuel Soares Director de Multimédia
Luís Soares Ilustração
Joa Copy Desk
Sérgio Baptista Fotografia
Ricardo Gaudêncio (Editor)
Jorge Correia Luís
José Madureira
Revisão Ciêntifica
JAS Farma®

Apoios


Medicina e Saúde<sup>®</sup> 132 / Outubro de 2008 Saúde Pública<sup>®</sup> 73 / Outubro de 2008
Mundo Médico<sup>®</sup> 59 / Julho de 2008 Edições Especiais Saúde Pública<sup>®</sup> 1 / Maio de 2007
Edições especiais Mundo Médico<sup>®</sup> 95 / Junho de 2008 Informação SIDA<sup>®</sup> 70 / Setembro de 2008
Mundo Farmacêutico<sup>®</sup> 36 / Setembro de 2008 Jornal Pré-Congresso 1 / Setembro de 2008
Jornal do Congresso 51 / Outubro de 2008 Jornal Diário do Congresso 35 / Outubro de 2008
Saúde em Dia<sup>®</sup> 2 / Abril de 2007 HematOncologia<sup>®</sup> 3 / Outubro de 2008
 

Artigo de Medicina e Saúde®

Nº 123 / Janeiro de 2008






22 Hepatologia
Reduzir a progressão do tumor do fígado e aumentar a sobrevivência
Entrevista com o Prof. Rui Tato Marinho, hepatologista e presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado
O carcinoma hepatocelular ou hepatoma é o tumor primitivo do fígado mais comum. É o sexto tumor mais frequente a nível mundial e a terceira causa de morte por tumor maligno. Em 2002 registaram-se quase 650.000 mortes por este tumor. Apenas 3 a 5% dos doentes estão vivos ao fim de cinco anos após o diagnóstico. Na Europa surge quase sempre em quem tem cirrose.


A incidência do carcinoma hepatocelular (CHC) tem vindo a crescer, estando este aumento relacionado não só com um maior número de casos de infecção pelo vírus da hepatite C como também com a melhoria dos cuidados prestados nos doentes com cirrose, com o consequente aumento da sobrevivência.

Em Portugal, o cenário não é muito diferente e, de facto, o carcinoma hepatocelular está a afectar cada vez mais portugueses. O impacto nos Serviços de Saúde subiu consideravelmente já que o número de internamentos subiu de 292, em 1993, para 834, em 2005.

De acordo com o Prof. Rui Tato Marinho, hepatologista e presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF), «o risco deste tumor aparecer em quem tem cirrose é de 30--40%, ao fim de 10 anos. Segundo as estatísticas, em cada 100 doentes que vivem com cirrose, 40 vêm a desenvolver carcinoma hepatocelular ao fim de 10 anos. As causas principais de cirrose são a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas e as hepatites B e C. Em Portugal a causa principal de cirrose é o álcool, na Europa é a hepatite C».

Para tentar alterar um pouco os números, o especialista explica que já existe um novo medicamento para esta patologia. «O fármaco, tomado de forma oral duas vezes por dia, aumenta o tempo médio de sobrevivência dos doentes e atrasa a progressão do próprio tumor. Pela primeira vez, um fármaco dado por via oral tem actividade antitumoral no carcinoma hepatocelular.»

Este medicamento tinha apenas indicação para o tratamento do carcinoma das células renais, mas obteve recentemente aprovação para o tratamento do carcinoma hepatocelular.
A mortalidade no carcinoma hepatocelular é próxima dos 100%. Não só pelo tumor em si como também pela cirrose hepática, situação só por si com um elevado risco de desencadear complicações graves.

«De acordo com os últimos estudos feitos com rigor científico, não existia nenhum medicamento que fosse eficaz no aumento do tempo de vida no carcinoma hepatocelular. Apenas o transplante hepático, a ressecção cirúrgica e outros tratamentos como a ablação por radiofrequência (passagem de corrente eléctrica no tumor), entre outros. A quimioterapia convencional, incluindo o tamoxifeno, não é eficaz, como comprovam os referidos estudos», explica Rui Tato Marinho.

Terapêutica para o carcinoma hepatocelular

Para além das vantagens deste medicamento no carcinoma das células renais, como revelam os resultados do maior estudo na área do rim, designado por TARGET, em que 84% dos doentes apresentaram um melhor controlo e estabilização da doença, e, por consequência, uma redução da progressão da doença e um aumento da sobrevivência global, outros dados evidenciam também a sua eficácia no que diz respeito ao tratamento do carcinoma hepatocelular.

De facto, os resultados da resposta deste fármaco em relação ao carcinoma hepatocelular foram avaliados através do estudo SHARP, realizado em doentes de mais de 20 países, incluindo Canadá, EUA, Espanha, França, Alemanha e Austrália.

Neste estudo foram incluídos 602 doentes e demonstrou-se «o aumento do tempo de sobrevivência global em 44% (34 para 46 semanas) e o prolongamento do tempo da progressão da doença em 73% (12 para 24 semanas) nos doentes que receberam o fármaco, comparativamente com o placebo», salienta o presidente da APEF, sublinhando:
«Durante a realização da 2.ª análise intermédia planeada, o estudo foi antecipadamente concluído, uma vez que ficou demonstrado o aumento da sobrevivência no grupo de doentes tratados com o fármaco.»

Estes resultados conduziram à decisão de todos os doentes passarem a receber o medicamento, interrompendo-se, assim, o grupo placebo, por não ser considerado ético continuar a dar placebo quando o fármaco já tinha demonstrado maior eficácia no tratamento do carcinoma hepatocelular.

De momento, «este medicamento é pois o único fármaco com eficácia comprovada no aumento da sobrevivência no carcinoma hepatocelular. É bem tolerado, sem reacções adversas muito significativas, em nada semelhantes à quimioterapia convencional», afirma Rui Tato Marinho.


Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado – APEF

A Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF) é uma secção especializada da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, mas em vias de autonomização. Engloba quase 200 membros. Foi fundada há 25 anos, em 1983, congregando um grupo de médicos e outros profissionais com interesse particular nas doenças do fígado.

«A evolução da hepatologia nos últimos 30 anos foi avassaladora: de um quase «obscurantismo» passou-se progressivamente por um período em que se identificaram os vários vírus das hepatites víricas (A, B, C, e D), as vacinas para a hepatite B e a hepatite A, o tratamento para a hepatite B e para a hepatite C e o transplante hepático. É de salientar a descoberta da vacina da hepatite B, que tem salvo milhares de vidas, e a cura da hepatite C, conseguida em 60% dos casos», esclarece o Prof. Rui Tato Marinho, hepatologista e presidente da APEF.

A APEF, ao longo destes anos, tem divulgado a problemática das doenças do fígado, não só entre os membros, como também para os outros médicos e público em geral.
«Tem realizado múltiplas reuniões científicas, reuniões ditas de consenso, a par da execução de folhetos, livros de textos, divulgação das doenças do fígado em escolas secundárias, etc. Tem também mantido contactos estreitos com o que de mais avançado se vai fazendo por esse mundo fora, através da presença dos seus membros nas reuniões científicas e do contacto com os colegas estrangeiros», refere Rui Tato Marinho, sublinhando:
«Neste momento, temos em curso alguns projectos de elaboração de material de divulgação para a população em geral, para os doentes e para médicos de clínica geral, além de colaboração com a Direcção-Geral da Saúde, escolas secundárias e centros de saúde, entre outras actividades.»

Uma das principais iniciativas vai ser a 11.ª Reunião Anual da APEF, que vai «englobar os melhores especialistas nacionais na área da hepatologia, tendo também a honra da participação do director-geral da Saúde, Dr. Francisco George, e de especialistas estrangeiros, entre eles o secretário-geral da EASL (European Association for the Study of the Liver), Prof. Jean-Paul Pawlotsky, que nos falará sobre “Present and future of HCV therapy”».

Os temas principais a abordar são a hepatite C, hepatite B, carcinoma hepatocelular, co-infecção VIH e hepatite C, esteatose hepática e transplante hepático.
A reunião vai realizar-se em Cascais, nos dias 4 e 5 de Abril de 2008. O programa provisório está disponível no site da APEF (www.apef.pt).


Texto: Paula Pereira

Comentários

ver comentários (0)

Deixe o seu comentário sobre este artigo