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Artigo de Medicina e Saúde®

Nº 123 / Janeiro de 2008






52 Neurologia
«Doença dos pézinhos»: Dos pés dormentes à morte
Entrevista com o Prof. Paulo Pinho e Costa, médico neurologista do Hospital de Santo António
Vulgarmente conhecida por «doença dos pezinhos», a paramiloidose é uma patologia hereditária com uma evolução progressiva que conduz à morte. Por enquanto, a qualidade de vida e a longevidade são devolvidas ao doente através do transplante hepático.


Há muitos séculos, julga-se, surgia na Póvoa do Varzim o primeiro caso de paramiloidose. Pensa-se que esse habitante tenha sofrido uma mutação genética que, posteriormente, foi transmitida de pais para filhos, através de inúmeras gerações até aos dias de hoje.

Apesar de ser uma doença cuja incidência sempre foi mais evidente no litoral norte do País, a distribuição geográfica tem vindo a modificar-se lentamente. Tem já vários focos secundários, designadamente Figueira da Foz, Serra da Estrela, Lisboa e Porto. Segundo os registos do Centro de Estudos de Paramiloidose, é nestes grandes centros urbanos que se tem verificado o maior aumento de casos observados.

Estima-se que existam cerca de 1200 portugueses com paramiloidose. Porém, o número de portadores do gene alterado, que provavelmente virão a desenvolver a doença, deverá rondar os 5000. Esta diferença tem uma explicação e quem a dá é o Prof. Paulo Pinho e Costa, investigador e director do Centro de Estudos de Paramiloidose – Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

«Resulta do início tardio da doença, que em média se manifesta aos 33 anos, nos homens, e aos 35 anos, nas mulheres. Pode, no entanto, manifestar-se logo aos 20 anos, ou, em casos muito raros, depois dos 70 anos.»

A transmissão é exclusivamente familiar e dá-se quando é herdado de qualquer um dos progenitores um gene alterado. Para a maioria dos indivíduos, que possuem um gene normal e outro alterado, a probabilidade de transmitir a doença aos descendentes é de 50%.


O que é a paramiloidose?

A paramiloidose é também denominada «doença de Andrade», porque há 50 anos foi descrita pela primeira vez pelo Dr. Corino de Andrade, médico neurologista do Hospital de Santo António, no Porto.

«Doença dos pezinhos» é outra designação atribuída a esta patologia. Era aparentemente comum no meio piscatório de Caxinas, a região entre Vila do Conde e a Póvoa de Varzim, onde se encontra a maior densidade de famílias afectadas. Além disso, é um nome que está relacionado com a sintomatologia inicial da doença: a sensação de adormecimento ou picadelas dolorosas nos pés.

De acordo com Paulo Pinho e Costa, «a paramiloidose é uma doença genética, caracterizada por alterações degenerativas dos nervos periféricos, com perda das funções sensitivas, motoras e autonómicas. A essas alterações associa-se a presença de depósitos generalizados, nos mais variados órgãos, de uma substância anormal muito típica chamada amilóide. A presença nos nervos desses depósitos de amilóide é uma das características essenciais da doença, razão por que é também conhecida, particularmente no meio médico, por “polineuropatia amiloidótica familiar” – e pela respectiva abreviatura: PAF».

«A paramiloidose está associada a uma mutação de um gene, o gene da transtirretina (cuja abreviatura oficial é TTR), situado no cromossoma 18, razão pela qual a doença se transmite de pais para filhos», menciona o director do Centro de Estudos de Paramiloidose, acrescentando:
«Essa mutação genética é a causa da presença no sangue dos portadores do respectivo gene de uma proteína alterada, a TTR Met30 ou TTR V30M, que é o componente estrutural fundamental dos depósitos de amilóide que se observam nos doentes.»

E continua: «Tanto quanto nos é possível compreender hoje os mecanismos da doença, a alteração estrutural da transtirretina compromete a estabilidade do arranjo molecular que circula nos nossos tecidos, promovendo, em circunstâncias ainda mal esclarecidas, a polimerização aberrante da proteína, formando-se longas fibras altamente insolúveis, que constituem a matriz fundamental dos depósitos de amilóide.

A amilóide é, por sua vez, directa ou indirectamente responsável pelos fenómenos degenerativos.» A «doença dos pezinhos» é inexoravelmente progressiva e incapacitante, levando à morte ao fim de 10 a 20 anos. Nas fases mais avançadas, além da destruição generalizada dos nervos periféricos, pode afectar outros órgãos, em especial os rins, o coração e os olhos.





Solução: transplante hepático

«O único tratamento que comprovadamente trava a evolução da doença é o transplante hepático (TH)», garante Paulo Pinho e Costa, referindo a razão da eficácia desta terapêutica:
«A transtirretina (TTR), que está alterada nestes doentes, é quase totalmente produzida no fígado, enquanto o fígado do dador não transporta nas suas células a mutação da paramiloidose e só produz TTR normal.»

O primeiro transplante hepático efectuado para combater a evolução da paramiloidose decorreu na Suécia, em 1990, e pouco depois em Portugal. Actualmente, já existem algumas centenas de transplantados no nosso País.

Todos os paramiloidóticos que não estejam já muito debilitados ou que não tenham outros problemas graves, que comprometam a sua capacidade de resistência a uma intervenção cirúrgica desta envergadura podem fazer o TH. Após o transplante e o inevitável período pós-operatório, regra geral, os portadores de paramiloidose regressam à vida activa e têm perspectivas de um futuro quase normal.

«Os doentes que não forem transplantados dispõem apenas de intervenções terapêuticas de suporte, que têm um papel muito importante na manutenção da qualidade de vida, e consequentemente na sua longevidade, mas não influenciam a progressão inelutável da doença», diz Paulo Pinho e Costa, sublinhando:
«O desenvolvimento do diagnóstico genético pré-implantação é um avanço recente, na área da medicina da reprodução, que poderá vir a ter um papel importante na prevenção da transmissão desta doença.»

E revela: «Com base no conhecimento actual dos mecanismos de fibrilogénese na paramiloidose e noutras doenças amiloidóticas têm-se desenvolvido fármacos que se espera possam travar ou prevenir a doença. Estão previstos para breve os primeiros ensaios clínicos, nos quais se depositam grandes expectativas. Levará ainda alguns anos, no entanto, até se concluir se essas esperanças foram bem fundamentadas.»



Texto: Sofia Filipe
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