Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 122 / Dezembro de 2007
42 Cuidados Paliativos - Atenuar a dor antes da morte
«A informação deve ser transmitida de forma gradual e sucinta, as más notícias devem ser reveladas com empatia», refere a Dr.ª Ana Ribeiro, psicóloga clínica
Apenas quem vive uma situação em que a morte está iminente é que reconhece a dor a ela associada. Não estão livres os doentes oncológicos em fase terminal. Apesar de tudo, existem os cuidados paliativos – uma grande ajuda num cenário nada invejável.
Doença avançada, incurável, ausência de resposta a tratamentos específicos, evolução e alteração da patologia devido a outros problemas de saúde, impacto emocional por questões relacionadas com a morte.
É desta forma que se pode caracterizar a fase terminal por doença oncológica, cuja esperança média de vida não costuma ultrapassar os seis meses.
Embora não haja um tempo predefinido, regra geral, existem determinadas fases associadas à doença incurável. Por ser uma realidade muito brusca, primeiramente, o doente passa por uma fase de negação. De seguida, surge a raiva e a revolta. A negociação é a seguinte etapa. Ou seja, o doente poderá acreditar, por exemplo, que se deixar de fumar o problema desaparece. A depressão antecede a última fase – a da aceitação.
Visto ser esta uma realidade tão brusca, os doentes em fase terminal vivem determinadas fases, sem que haja tempo predefinido para cada uma delas. Sendo que primeiramente o doente passa por uma fase de negação, em seguida surge a raiva e a revolta. Depois, a negociação, em que o doente pensa, por exemplo, «se eu deixar de fumar, talvez o pulmão cure». A depressão antecede a última fase – a aceitação.
Como não poderia deixar de ser, além destes doentes, as pessoas que os rodeiam – familiares, cuidadores – também lidam de perto (muito perto) com a morte, podendo assumir comportamentos positivos ou negativos.
Conforme indica a Dr.ª Ana Rita Ribeiro, psicóloga clínica, «podem adoptar uma postura de superprotecção, negar o processo, abandonar o paciente numa unidade assistencial ou aceitar a situação e colaborar com os profissionais que acompanham o doente».
E na preparação para o luto devem ser considerados vários aspectos.
«A informação deve ser transmitida de forma gradual e sucinta, as más notícias devem ser reveladas com empatia», refere Ana Rita Ribeiro, continuando:
«É igualmente importante que haja permissão da expressão de emoções, ter bastante atenção à linguagem não verbal e usar uma linguagem simples e acessível, pois, por exemplo, nem todas as pessoas sabem o que é uma neoplasia (cancro).»
Intervenção psicológica
No que diz respeito ao acompanhamento destes casos, a intervenção psicológica é algo de fundamental para que tudo seja ultrapassado na medida do possível, quer para os doentes, quer para os familiares e cuidadores.
A revelação da verdade é feita através do auxílio psicológico. Segundo a psicóloga, «não podemos dar falsas esperanças e temos de ter em conta que cada pessoa tem o seu tempo para aceitar a realidade. Quanto aos familiares, muitos não querem que o doente tenha conhecimento da verdadeira situação. Não queremos que a família minta, mas não haverá problema se algumas informações forem omitidas».
O profissional da área da Psicologia dá uma preciosa ajuda aquando da promoção do ajustamento emocional.
«Uma vez que a longevidade do futuro é uma incógnita para estes doentes, é preferível valorizar o futuro próximo. Assim, fomentamos a concretização de projectos a ser cumpridos num curto prazo e de imediato», diz a psicóloga.
O apoio psicológico é também essencial para dar suporte e atender às necessidades dos doentes terminais. Diz Ana Rita Ribeiro que «estes indivíduos continuam a ter necessidades; de afecto e pertença, por exemplo. Por isso, aqueles que os apoiam não os deverão excluir do quotidiano, isto é, devem continuar a partilhar os problemas e os assuntos banais, de modo a que o doente sinta que está vivo e que participa no dia-a-dia».
A mesma psicóloga acrescenta ainda que «não devem mostrar que se sentem incomodados devido ao aspecto do doente. O carinho e o toque são uma mais-valia».
Cuidados paliativos
Ora, esta intervenção psicológica insere-se nos cuidados paliativos. Estes integram aspectos psicológicos, sociais e espirituais. Afinal, um doente terminal ainda está vivo e enquanto viver tem de ser de forma digna de um ser humano e com todo o apoio ao qual tem direito. Como?
Ana Rita Ribeiro explica que, «além do precioso apoio que prestam, os profissionais envolvidos nos cuidados paliativos contribuem para afirmar a vida e ajudar doentes e familiares a considerar a morte como um processo normal, ajudam a não antecipar nem atrasar intencionalmente a morte e a aliviar o doente da dor e de outros sintomas incómodos».
Texto: Sofia Filipe