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Artigo de Medicina e Saúde®

Nº 121 / Novembro de 2007






26 10 ANOS a dar Saúde
Opinião: Reumático ou Doenças Reumáticas?
- Dr. Augusto Faustino, presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia
Existe ainda muito difundida e enraizada a ideia de que uma pessoa «sofre de reumático» quando surge com dores, deformações ou com incapacidade num qualquer local do aparelho locomotor (conjunto das estruturas que nos permitem movimentar, basicamente constituído por ossos, músculos e articulações).


É fundamental compreender que não existe reumático nem reumatismo; existem é múltiplas e variadas (algumas centenas) doenças reumáticas, todas elas com significado, importância, gravidade e tratamento diferentes.

Acontece que estas doenças se manifestam de uma forma repetitiva e semelhante entre si, basicamente através de sintomas como a dor, a dificuldade ou incapacidade para realizar tarefas (incapacidade funcional) e só mais tardiamente (e em algumas doenças reumáticas) com deformações. Este facto fez com que se generalizasse ao conjunto destas manifestações de doença reumática o termo «reumático» O doente terá de compreender que o facto de ter um sintoma semelhante ao de outra pessoa que conhece não implica que tenha a mesma doença reumática que esta e que, portanto, não se aplicam a si os medicamentos ou o prognóstico de outros, nem a semelhança de sintomas quer dizer que o seu caso seja tão grave como outros de que tenha conhecimento.

A importância do diagnóstico precoce de cada patologia reumática

As consequências nefastas das doen­ças reumáticas (dor e incapacidade pela destruição das estruturas osteoarticulares) apenas ocorrem se a evolução natural destas doenças não for contrariada por uma precoce e adequada intervenção terapêutica.

Para lá de tentar de imediato aliviar a dor do seu doente de forma global, eficaz e persistente, o reumatologista deverá incidir a sua preocupação sobre outro aspecto fundamental: identificar a causa da dor, isto é, efectuar um diagnóstico precoce e o mais específico e concreto possível sobre a patologia reumática que aquele doente apresenta.

O médico especialista terá de ser capaz de, através do questionário, da observação e de alguns exames complementares, conseguir chegar a um diagnóstico correcto que permita de imediato promover as correspondentes e adequadas medidas terapêuticas que impeçam a evolução agressiva da doen­ça e permitam (ainda que frequentemente à custa de medicação efectua­da de forma crónica) evitar de forma absoluta todas as consequências irreversíveis que uma DR «descontrolada» invariavelmente acarreta.

Um doente reumático crónico bem controlado medicamente tem como único encargo diário tomar de forma permanente, correcta e adequada a sua medicação, não tendo idealmente nenhuma outra diferença para a vida que tinha antes de ficar doente (e em que é que isto difere de um doente que toma diariamente medicamentos para a HTA, diabetes, angina do peito, asma ou qualquer outra doença crónica?).

Porque devem ser os reumatologistas a tratar os doentes reumáticos

Apesar da sua enorme relevância, as doenças reumáticas têm sido sucessivamente desvalorizadas em Portugal (população em geral, classe médica e autoridades de Saúde), aspecto nefasto porque a maioria destas doenças apenas acarreta estas consequências quando abandonadas ao seu curso natural, podendo, pelo contrário, o seu diagnóstico precoce e a adopção de medidas terapêuticas adequadas contribuir para inverter ou reduzir de forma significativa a sua morbilidade e custos económicos e sociais.

O actual panorama negro das doen­ças reumáticas não é um fardo nem uma inevitabilidade a que estejamos condenados, mas apenas um enorme desafio que nos propomos combater e modificar! A evolução das DR pode-se prevenir e o seu impacto económico e social é evitável!

Está documentado em trabalhos publicados que, quando tecnicamente correcta e adequada, a intervenção do reumatologista nas doenças reumáticas é a mais eficaz (consegue modificar a evolução da doença) e a mais rentável (permite poupar gastos globais destas doenças em termos de terapêuticas e MCD desnecessários, mas sobretudo em termos de gastos indirectos – perda de produtividade e reformas antecipadas).

Torna-se assim necessário alertar a população em geral e as autoridades de Saúde para a relevância das DR e seus custos económicos e sociais e para a necessidade imperiosa de intervir atempadamente na sua evolução, através das mais adequadas medidas médicas e terapêuticas. Saibamos respeitar as legítimas expectativas e exigências dos nossos doentes e ser dignos e responsáveis pela aplicação adequada das enormes potencialidades terapêuticas que existem actualmente para as diferentes doenças reumáticas.



Dr. Augusto Faustino
Presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR)

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