Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 118 / Agosto de 2007
44 Dermatologia - 15% da população tem onicomicoses
Entrevistas com Dr. Rui Tavares-Bello, dermatologista no Hospital Militar de Belém e Dr.ª Ana Oliveira Silva, podologista.
As onicomicoses são infecções causadas por fungos que afectam as unhas. Se não for feito um diagnóstico precoce e consequente tratamento, tais infecções podem eternizar-se e dar lugar a outras infecções, locais ou à distância.
Incomodativas, inestéticas, motivo de embaraço e com interferência na qualidade de vida. Este quadro pertence a uma infecção fúngica que não raras vezes é subestimada. Os doentes optam por esconder o local afectado – por desconhecimento ou vergonha –, mas entretanto a infecção evolui para a cronicidade e para diversas complicações.
A onicomicose atinge entre 2 a 18% da população mundial e até aos 48% aos 70 anos. Em Portugal, estima-se que afecte 15% da população. A prática regular de desporto, idade superior a 65 anos e o excesso de peso são alguns dos factores de risco.
É uma doença infecciosa causada por fungos dermatófitos, leveduras e bolores. Manifesta-se inicialmente na unha do dedo grande do pé. Contudo, todas as outras unhas, quer dos pés, quer das mãos, podem ser afectadas, de início ou sequencialmente.
«As primeiras manifestações da infecção correspondem à alteração da cor da unha, que se torna amarelada ou esbranquiçada. Também sofre modificações na espessura e aparece um depósito por baixo, que engrossa progressivamente, alterando o seu formato», refere o Dr. Rui Tavares-Bello, dermatologista no Hospital Militar de Belém.
Todavia, não é apenas uma infecção inestética. O doente pode sentir dores e um certo desconforto ao caminhar.
A juntar a tudo isto, podem aparecer infecções bacterianas adicionais. E ainda não é tudo...
De acordo com o mesmo dermatologista, «o impacto psicológico é relevante. Muitos indivíduos sentem-se envergonhados e têm medo de contagiar outros no meio familiar, desportivo e profissional. Por este motivo, isolam-se socialmente e escondem as unhas afectadas».
«As pessoas devem compreender que quanto mais cedo se fizer o diagnóstico e se detectar o problema maiores probabilidades existem para um tratamento eficaz», alerta Rui Tavares-Bello.
Tal como acontece com muitas outras patologias, também com as onicomicoses, um diagnóstico precoce é condição essencial para um tratamento adequado e consequente paragem da disseminação da infecção.
Até porque, alerta o mesmo dermatologista, «muitos doentes, antes de se deslocarem ao médico, recorrem a remédios caseiros que não tratam a doença, como sejam vinagre, pedra-pomes ou tintura de iodo. Observa-se ainda o recurso a preparações tópicas de cremes antimicóticos, que também são inadequadas. O uso de cremes com corticosteróides, cada vez mais frequente, vem complicar adicionalmente a situação e favorecer outras complicações pela sua actividade imunossupressora».
Segundo este especialista, «numa fase inicial da doença, a utilização adequada de vernizes antifúngicos pode ser eficaz em até cerca de 75% das onicomicoses. Mas se a infecção envolver mais de 50% da unha, afectar a matriz, originar importante distrofia ungueal ou ser resistente a tratamentos locais prévios, além destes vernizes, deve ser instituído um tratamento combinado com comprimidos ou cápsulas antifúngicas».
A medicação oral dura normalmente entre um a três meses para as mãos e três a quatro meses para os pés. Já a terapia local tem a duração média de três a seis meses para as mãos e de 12 meses para os pés.
O dermatologista Rui Tavares-Bello salienta a necessidade imperiosa de uma certeza diagnóstica antes de se iniciar um tratamento que é longo e não destituído de efeitos adversos, como é o das onicomicoses. Para tal, o recurso a um especialista, a realização eventual de um exame micológico e um seguimento adequado são as únicas condições de sucesso.
Pé-de-atleta
Ora, caso não seja feita nenhuma terapêutica, não tardam a surgir consequências. Além da dor e desconforto ao andar, as onicomicoses podem estar associadas a dermatomicoses na pele do pé, como o pé-de-atleta.
Esta denominação, refere a Dr.ª Ana Oliveira Silva, podologista, «é a designação “comum” de um conjunto clinicamente diversificado de infecções fúngicas que, frequentemente, afectam os pés dos desportistas, sendo que o nome deriva do facto de serem muitas vezes contraídas numa piscina ou numa infra-estrutura desportiva.
Em termos médicos, denomina-se Tinea pedis. Os dermatófitos que mais frequentemente causam pé-de-atleta são espécies dos géneros Epidermophyton e Trichophyton».
Acontece, porém, que existem variadas dermatoses com diagnósticos diferenciais com o pé-de-atleta, como sejam os eczemas ou a psoríase.
«A grande variedade de doenças aconselha alguma prudência na definição dos diagnósticos das dermatoses plantares (do pé) do desportista, porque nem todas são pé-de-atleta», alerta a podologista, sublinhando que «a observação por um especialista é, na maioria dos casos, indispensável».
Esta patologia manifesta-se primeiramente na zona interdigital dos pés, que é muito vulnerável, sobretudo quando não está seca.
«Resulta em fendas ou “fissuras”, descamação e eritema, e pode infectar também outros dedos do pé. Estas áreas irão originar prurido e podem ser dolorosas», informa Ana Oliveira Silva, acrescentando:
«Pode-se contrair uma infecção no pé ao caminhar num local húmido, fazendo-o as pessoas muitas vezes descalças, por exemplo, numa piscina ou num balneário.»
E recomenda: «É obrigatório o uso de chinelos ou outro tipo de calçado na maioria dos locais públicos húmidos (saunas, piscinas, etc.).»
Existem antifúngicos tópicos destinados ao tratamento do pé-de-atleta, sendo os principais grupos as alilaminas (terbinafina) e derivados do imidazol (clotrimazol, econazol, miconazol, sertaconazol, etc.). Substâncias como o tolnaftato e a ciclopiroxolamina também podem ser eficazes.
«Se estiver só a pele afectada, a infecção pode ser controlada com uma pomada ou creme antifúngicos. Para infecções mais difíceis, ou se as unhas também estiverem afectadas, é necessária uma terapêutica sistémica», menciona a mesma podologista, que salienta a importância das medidas de higiene orientadas para o tratamento e prevenção.
Medidas preventivas
A Dr.ª Ana Oliveira Silva, podologista, indica vários conselhos para prevenir o pé-de-atleta, alguns dos quais também adequados às onicomicoses. Anote:
– Certifique-se de que seca bem os pés depois de os lavar, especialmente nos espaços entre os dedos;
– O calor e a humidade agravam a situação; consequentemente, a transpiração excessiva (hiperhidrose) é um problema subjacente e, por isso, também deve ser tratada;
– Se for susceptível às infecções fúngicas, polvilhe os sapatos de vez em quando com um pó antifúngico;
– Utilize meias limpas de algodão todos os dias; se sofrer de hiperhidrose (excesso de transpiração), troque de meias duas vezes por dia;
– Não deve usar o mesmo calçado todos os dias;
– Use calçado arejado em tempo quente e certifique-se de que não está demasiado apertado. Os sapatos desportivos e botas de borracha não efectuam uma boa ventilação, pelo que preferencialmente só devem ser usados durante a prática de desporto;
– Use chinelos em duches ou balneários públicos;
– Corte e lime as suas unhas com regularidade. Corte-as tão direitas quanto possível (não com cantos redondos) para evitar que as unhas fiquem encravadas.
Texto: Sofia Filipe