Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 118 / Agosto de 2007
40 Opinião - Eczema: a doença inflamatória da pele mais frequente
- Dr. António Massa
A palavra eczema significa inflamação da pele, sendo que se trata da doença inflamatória da pele mais frequente. Pode também ser utilizado o nome de dermatite ou dermite que, embora sendo ligeiramente diferentes no significado da palavra eczema, são utilizadas indistintamente. Este termo de dermatite aparece, por vezes, noutras doenças que nada têm a ver com esta situação, como é o caso da dermatite herpetiforme, perioral ou artefacta.
No eczema os vasos sanguíneos estão dilatados, o que à vista desarmada se traduz em aspecto avermelhado da pele. Vemos que células próprias da inflamação saem dos vasos para a zona mais superficial da pele (a epiderme), o que resulta num edema na pele. Este edema (inchaço) produz «papos» vermelhos onde se acumula líquido que saiu dos vasos dilatados, levando à formação de vesículas, que quando são maiores do que 0,5 cm de diâmetro se chamam bolhas. Com o mau funcionamento de toda esta epiderme, esta torna-se mais espessa e pode descamar.
A lesão avermelhada pode ser acompanhada de calor. Muitas das vezes é acompanhada de prurido entenda-se comichão ou coceira, que conduz a infecção secundária e irritação, de tal forma que é necessário interromper este ciclo de forma a controlar a situação. Esta é a forma aguda sendo que na forma subaguda há um secar do soro que sai destas lesões, levando à formação de crostas, enquanto na forma crónica ou «eczema seco» a pele fica espessa, sendo vermelha seca e descamativa e por vezes levemente espessada, com tendência a abrir e formando-se fissuras também conhecidas como gretas.
Após a coceira, a pele pode espessar, o que se designa como liquenificação. A pele funciona como uma barreira quer à entrada, quer à saída de substâncias do organismo.
Se esta barreira da epiderme fica alterada, aumenta o risco de infecção que é aumentado pela coceira e pode deixar uma hiperpigmentação ou hipopigmentação, que pode levar tempo a desaparecer.
Grande parte dos problemas relacionados com os eczemas acontece muito na superfície da pele, sendo que a preservação desta é muito importante. Das múltiplas funções da pele, no eczema, encontram-se alteradas/danificadas a função de barreira, que funciona através de um filme hidrolipídico que cobre a pele, tornando-a impermeável, não permitindo portanto a entrada de substâncias que sejam potencialmente agressivas. A sua remoção permite o aumento de absorção de substâncias através da pele, podendo levar à alergia e a todo o ciclo atrás descrito, que se pode manter por longo espaço de tempo.
Neste filme hidrolipídico existem ácidos gordos não saturáveis que lhe conferem uma acção antibacteriana e fungicida. Daqui se depreende que, com a sua integridade, o risco de infecções por vírus ou bactérias esteja reduzido. A utilização muito frequente de sabões ou detergentes ou gel de limpeza conduz a danificação deste mesmo filme. Resulta assim que, para se evitar que isto aconteça, torna-se necessário, por vezes, em pessoas com pele mais seca ou fina reduzir a utilização dos produtos de lavagem a temperatura da água e a duração do banho.
Os múltiplos produtos de lavagem devem ser utilizados com parcimónia, podendo assim exercer a sua função sem contudo deteriorarem o estado da pele. É a sensação de aspereza, vermelhidão ou comichão que nos devem alertar para o facto de os podermos estar a usar em grande quantidade, acima do desejado.
Feita a abordagem dos eczemas na generalidade, quando se fala do seu tratamento, temos de avaliar em primeiro a forma como se eles se apresentam: aguda, subaguda ou crónica. Se na primeira há um predomínio de «bolhinhas», por regra de instalação súbita, que depois rebentam levando a formação de crostas, uma espécie de escamas que recobrem estas lesões e que resultam, na prática, da ruptura destas mesmas vesículas ou bolhas, cujo conteúdo solidifica.
Nos casos de eczema agudo o prurido, por regra, é intenso, e as lesões mantêm-se horas, até dois ou três dias após a exposição, continuando a aparecer eventualmente na semana seguinte. Por regra, evoluem para uma forma subaguda, com menos bolhas/vesículas, em que o controlo é mais fácil. Na forma subaguda há vermelhidão, descamação, fissuras e uma pele «levantada», com prurido ligeiro a moderado, dor e sensação de queimar.
Há vários tipos de eczema, que a descrição pormenorizada levaria só por si a ocupar varias páginas, o que não cabe neste trabalho de apresentação a patologias. Assim, vamos rever as mais frequentes.
1. Atópico – É uma situação que surge muito cedo, em crianças, sendo que nos países nórdicos e Inglaterra é muito mais frequente e mais grave que em Portugal. O eczema atópico atinge predominantemente as crianças, sendo que 80% dos nossos doentes têm até 10 anos de idade, não havendo diferença de sexo. Começa nos primeiros meses de vida e contribuem para esta situação factores genéticos, imunológicos, ambientais e ate farmacológicos, podendo ser exacerbado pela pele, que facilita a infecção e alterações climáticas.
Por regra, melhora ou desaparece com a idade, sendo pouco frequente a partir dos 5 anos. Começando por ter localização na face, posteriormente nas pregas, pode atingir todo o corpo. O eritema, a descamação e até a exulceração, em que há perda de estrutura superficial da pele, caracterizam esta situação.
2. Seborreico – No início de vida confunde-se com o atópico e progressivamente localiza-se na face, couro cabeludo, ouvidos, área pré-esternal (peito), costas e genital. O eczema seborreico, surgindo em qualquer idade, atinge predominantemente as pessoas de grupo etário dos 20 aos 30 anos.
É uma doença inflamatória crónica, sendo que muitos dos adultos apresentam nesta área uma pele oleosa, avermelhada ou amarelada, por vezes com escamas. A nível do couro cabeludo, estas escamas podem ser espessas, constituindo aquilo que vulgarmente se chama de caspa ou constituindo mesmo até um cascão, ou podem ter uma apresentação mais líquida, que vulgarmente se designa de oleosidade. Qualquer uma das situações é passível de melhorar com o tratamento, controlando assim esta afecção.
3. Desidrótico – Situação frequente que aparece predominantemente nos meses de Maio a Setembro, atinge mãos e pés, caracteriza-se por vesículas ou em certas pessoas bolhas, sendo que por vezes o prurido é intenso.
4. Eczema de contacto – Resulta do contacto da pele com determinadas substâncias externas, podendo ser irritativo ou alérgico.
O irritativo atinge qualquer pessoa e deve-se à concentração elevada da substância irritativa, como os sabões ou detergentes, ou atinge pele menos defendida e surge sobretudo em pessoas de idade ou e que se lavam com uma frequência ou duração de banho acima do desejável. A pele inicialmente fica seca, depois vermelha e muitas vezes acompanhada de prurido. No alérgico só ocorre em pessoas predispostas, ou seja, que reagem a determinadas substâncias, enquanto com outras pessoas tal não acontece. Atinge qualquer parte do corpo, com predomínio das mãos, como nas donas de casa ou cabeleireiras.
O eczema de contacto alérgico surge em qualquer parte da pele ou mucosas, como lábios ou genital, tornando-se evidente a forma do objecto ou substância a que a pessoa é alérgica. Tal facto não é tão evidente quando se trata das mãos, sobretudo na região dorsal, onde com frequência encontramos este tipo de eczema. Trata-se muitas das vezes de uma dermatose profissional, pois que o contacto com essas substâncias provoca a doença. Neste tipo de eczema é obrigatória a feitura de testes chamados epicutâneos, em que uma série de produtos são testados nas costas, permitindo a identificação da(s) substância(s) a que é alérgico .
Nalguns casos menos habituais esta situação só acontece em áreas expostas ao sol, são as chamadas dermatites de contacto fotoalérgicas. Podem contribuir para elas produtos de aplicação local, ou medicamentos administrados por via sistémica.
Dr. António Massa
Dermatologista