Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 117 / Julho de 2007
20 Saúde infantil - E se não conseguir respirar pelo nariz?
Entrevista com a Dr.ª Luísa Monteiro, chefe de Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de D. Estefânia
Muitos de nós já sentimos, de tempos a tempos, o nariz tapado.
É uma situação incómoda, principalmente no que se refere às crianças que, em muitas ocasiões, ainda não sabem expressar-se de modo a queixarem-se de uma condição que as impede de respirar naturalmente.
«A obstrução nasal é um sintoma associado a diversas patologias e que reflecte a dificuldade de respirar através do nariz. Pode atingir indivíduos de qualquer idade e ser esporádica (de curta duração) ou crónica», esclarece a Dr.ª Luísa Monteiro, chefe de serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de D. Estefânia.
Esta condição pode assumir, dependendo da idade, alguma gravidade. «A criança, quando nasce, tem respiração exclusivamente nasal e, nos casos de malformação, com imperfuração da parte posterior das fossas nasais, surge uma verdadeira emergência, pois, o bebé até às 8 semanas de vida não tem a capacidade de respirar, em alternativa, pela boca», alerta a especialista.
Ao longo da vida, todos nós sofremos de períodos mais ou menos longos em que sentimos o nariz entupido e temos de respirar pela boca. O que nos conduz a essa situação pode ter duas origens distintas.
Segundo a médica, «as principais causas de obstrução nasal transitória são as infecções virais (constipações e gripe) ou as rinites alérgicas. Para as causas de obstrução nasal crónica, encontram-se as rinossinusites, as rinites alérgicas crónicas, os desvios do septo nasal e a polipose nasal. Nas crianças, uma causa muito frequente de obstrução nasal é a presença de adenóides aumentados de volume».
Muitos podem não dar a devida importância a esta patologia. Porém, pode afectar a qualidade de vida em vários campos.
Na verdade, «a obstrução nasal, quer aguda, quer crónica, tem um impacto negativo na qualidade de vida das pessoas, interferindo com as actividades profissionais, com a aprendizagem, com as actividades físicas e também com o sono. A obstrução nasal nocturna pode contribuir para o aparecimento de apneia obstrutiva do sono, com todas as consequências negativas sobre o sistema cardiovascular.
Contudo, raramente cursa isolada, podendo estar associada a queixas de espirros e comichão nasal, secreções nasais abundantes, diminuição do olfacto e do paladar e dores de cabeça quando já há infecção nas cavidades perinasais (rinossinusite)».
Atendendo à panóplia distinta de vários níveis de obstrução nasal, um correcto diagnóstico, por parte do profissional de saúde, pode fazer toda a diferença, quer na superação do problema, quer na adaptação que pode ter de fazer na vida, de forma a garantir a melhor qualidade possível.
«Há necessidade de esclarecer a causa da obstrução nasal em cada doente, recorrendo, por vezes, à consulta de um especialista em Otorrinolaringologia e/ou Alergologia. Estes socorrem-se, muitas vezes, de exames complementares de diagnóstico, tais como as endoscopias nasais e as tomografias computorizadas ou, ainda, as radiografias simples, bem como de provas alergológicas, dependendo de cada caso específico», sustenta Luísa Monteiro.
Apesar das soluções farmacológicas disponíveis, actualmente, a verdade é que há alturas em que são necessárias outras medidas.
Segundo a otorrinolaringologista, «muitas vezes, a obstrução nasal não é totalmente resolvida com a medicação, havendo necessidade de submeter o doente a uma intervenção cirúrgica que resolva o seu problema, podendo ser uma simples operação aos adenóides que permita, neste caso, à criança, passar a ter uma respiração nasal normal, ou operações um pouco mais complexas, tais como correcções de desvios do septo ou cirurgias endoscópicas nasais (por exemplo, nas poliposes nasais ou nas rinossinusites)».
A mudança na vida de quem se submete aos tratamentos ou às intervenções cirúrgicas é considerável, pois, «normalmente, o doente experimenta uma melhoria significativa da qualidade de vida quando é resolvida a sua situação de obstrução nasal crónica, podendo apreciar melhor as refeições, dormir melhor e desfrutar da prática de actividades físicas que anteriormente lhe provocavam muito cansaço e secura da boca», conclui a médica.
Soluções terapêuticas
Após o estabelecimento de um diagnóstico, é proposto ao doente um plano de tratamento que pode incluir medicação aplicada no nariz ou administrada oralmente:
• Medicamentos de uso local que têm acção imediata (vasoconstritores nasais) e são vendidos sem receita médica (devem ser utilizados por períodos curtos, entre cinco a sete dias);
• Corticóides e anti-histamínicos usados em spray e prescritos pelo médico. São medicamentos seguros e podem ser usados por períodos longos;
• Medicamentos antialérgicos de toma oral. São, normalmente, eficazes e os mais recentes não têm efeitos secundários (sonolência e diminuição dos reflexos) muito significativos, ao contrário dos mais antigos, pelo que poderão ser utilizados com maior segurança.
Texto: Rui Miguel Falé