Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 117 / Julho de 2007
54 Prémio Universidade de Lisboa para Odette Ferreira
O Salão Nobre da Universidade de Lisboa recebeu figuras proeminentes do meio académico, e não só, para prestarem homenagem à distinguida com o Prémio Universidade de Lisboa 2006, Prof.ª Odette Ferreira. O seu trabalho mais visível está relacionado com a SIDA, pelo seu envolvimento na descoberta do VIH-2 e por ter sido coordenadora da Comissão Nacional de Luta Contra a SIDA (CNLCS) durante quase uma década.
O Prémio Universidade de Lisboa 2006 foi entregue à professora e investigadora da Faculdade de Farmácia de Lisboa, Prof.ª Maria Odette Santos Ferreira.
Instituído com o apoio do Banco Santander Totta, este prémio visa distinguir e galardoar uma individualidade portuguesa cujos trabalhos tenham contribuído para o progresso e engrandecimento da cultura, ciência e reconhecimento do nome de Portugal além fronteiras.
O início do trabalho científico e social de Odette Ferreira remete-nos para a década de 80 quando, enquanto investigadora, e em colaboração com a equipa do Dr. José Luís Champalimaud, do Hospital de Egas Moniz, descobriu aquilo que viria a ser designado como VIH-2.
Anos mais tarde, entre 1992 e 2000, assume o cargo de coordenadora da CNLCS por nomeação directa dos ministros da Saúde, Maria de Belém Roseira e Arlindo Carvalho. Nesse projecto, entre muitas outras iniciativas, o programa de trocas de seringas nas farmácias ganhou uma grande visibilidade, sob a designação de «Diz não a uma seringa em segunda mão».
Já para o Prof. José Moniz Pereira, da Faculdade de Farmácia, e proponente do nome de Odette Ferreira para a distinção, «a atribuição deste prémio torna claro o reconhecimento, por parte da comunidade científica, da relevância da obra e da contribuição daquela investigadora para o desenvolvimento da Microbiologia e, em particular, da luta contra a SIDA, no nosso País».
Na altura dos agradecimentos, depois de receber o prémio, Odette Ferreira fez questão de mencionar a sua equipa, de incentivar outros a perpetuar o seu legado, bem como a trabalharem para deixarem a sua própria obra e para que outros, mais tarde, possam iniciar a construção do seu próprio caminho.
«É com particular emoção que vejo reconhecido, através deste prémio, o empenho e o esforço de uma equipa que, ao longo de muitos anos, foi pioneira em projectos de ensino e investigação», adiantando ainda, para as gerações vindouras, que «uma obra não é o que se faz, mas o que se deixa. O que fica para quem, depois de nós, continua o caminho e segue a linha que iniciámos no nosso projecto de vida».
Já em jeito final do seu discurso de agradecimento, apontou «armas» à área da Saúde, referindo que «em Saúde não há bons ou maus contributos. Todos são desejáveis. Uns mais efectivos, outros menos. Mas ninguém é dispensável. Espero ver o meu País cada vez mais actuante em áreas como a SIDA, a tuberculose, a saúde da mulher e da criança, a diabetes, as doenças cardiovasculares, os acidentes de viação e a oncologia».
Testemunhos:
Dr.ª Maria Cavaco Silva
«Para mim, e para a minha família, é um momento muito importante porque a minha filha tem uma ligação já muito antiga à Prof.ª Odette Ferreira porque foi a última pessoa a doutorar-se com ela. A Prof.ª Odette Ferreira já faz parte da nossa família afectiva e foi importante para todos nós, como comunidade e sociedade, esta oportunidade de a homenagear. Os portugueses têm o hábito de homenagear as pessoas depois de mortas, mas eu gosto de lhes prestar tributo enquanto vivas, para as poder cumprimentar e dizer “parabéns”.»
Dr. Aranda da Silva, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos
«É um prémio mais do que merecido pelo trabalho científico e social da Prof.ª Odette Ferreira. Como bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, estou muito orgulhoso que este prémio seja atribuído a uma farmacêutica que assume clara e publicamente que, em primeiro lugar, é farmacêutica.»
Texto: Rui Miguel Falé