Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 116 / Junho de 2007
54 Radiografia - Hospital da Trofa
Espaço alternativo para manter a saúde em dia
O Hospital da Trofa foi construído há cerca de sete anos, pouco depois da Trofa ter passado a cidade. As expectativas depositadas, quando ainda era um projecto, já foram superadas e as apostas dirigem-se agora para a ampliação do espaço físico e para o investimento em diversas áreas.
Situa-se entre Douro e Minho, no extremo do distrito do Porto, delimitando a sul e a poente os municípios da Maia e de Vila do Conde. A norte e a nascente delimita os concelhos de Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso. É, portanto, um concelho cujo nome faz jus à localização: Trofa, em árabe, significa fronteira.
Visitámos esta «fronteira» do Norte com a finalidade de conhecer melhor uma instituição que presta cuidados de saúde de reconhecido valor, na altura em que a Trofa se tornou num município autónomo, após a desanexação a Santo Tirso, em 1998.
O Hospital da Trofa surgiu em 1999 com a filosofia de que a saúde é um bem precioso a preservar, não apenas através da intervenção do Estado. Afirmava-se, pois, como uma alternativa completa ao serviço público. Afirmação que continua a fazer sentido.
«É um projecto com raízes locais, concretizado por um conjunto de vários empresários da região, que avançaram com a obra ainda com a perspectiva da Trofa aspirar a ser concelho», conta o Dr. José Vila Nova, presidente do Conselho de Administração do Hospital da Trofa.
E sublinha: «Havia um certo espírito bairrista e uma enorme vontade de contribuir para o progresso, pelo que este projecto apareceu praticamente com essa missão e a finalização do empreendimento acabou por coincidir com a concretização do desejo da Trofa se tornar município independente.»
Perfil dos utentes
Um dos objectivos iniciais seria proporcionar cuidados de saúde à população do concelho (cerca de 50 mil habitantes), através do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Porém, segundo o administrador, «não foi possível, porque o Estado está ainda hoje muito fechado às iniciativas da sociedade civil. Desta forma, o projecto teve de ser reconfigurado no âmbito da medicina privada».
Mais recentemente, o Hospital da Trofa integrou o projecto de combate às listas de espera, nomeadamente o Sigic – Sistema Integrado de Gestão para os Inscritos em Cirurgia.
Na opinião do responsável por esta unidade hospitalar, «o modelo português de saúde é ainda um monopólio público que insiste em perpetuar-se e, por isso, as convenções estão fechadas. A única que temos é o Sigic, no âmbito do qual operámos, em 2006, algumas centenas de doentes. À semelhança do que se passa com este programa, estaremos disponíveis para fazer uma articulação com o sistema público, logo que o Estado esteja interessado em estabelecer acordos». Enquanto tal situação não se verificar, os utentes do Hospital da Trofa serão essencialmente aqueles que dispõem de possibilidades para aceder ao serviço.
Actualmente, o perfil dos utentes está segmentado, nomeadamente, cerca de 30% são particulares, 40% são doentes que recorrem aos serviços através dos seguros de saúde e os restantes 30% repartem-se entre os diversos subsistemas de saúde (públicos e privados) e as seguradoras do ramo acidentes.
Certificação de qualidade
Conhecedor de inúmeras clínicas e hospitais de pequena, média e grande dimensão, o Dr. Correia Martins, director clínico, aponta a qualidade do espaço físico e a juventude dos funcionários como duas das principais características que destacam o Hospital da Trofa.
«O ambiente de trabalho é muito bom e o facto dos quadros médico, administrativo e auxiliar serem constituídos por pessoas bastante jovens fomenta a motivação e o interesse em desenvolver tudo aquilo que seja moderno», sustenta Correia Martins, que é especializado em Ortopedia.
«Há uma dinâmica muito grande, bem como uma rapidez na tomada de decisões, devido ao empenhamento dos funcionários», acrescenta este director clínico, avançando que «o hospital propõe-se melhorar ainda mais os seus processos, estando em fase final de implementação de um Sistema de Gestão de Qualidade segundo a norma ISO 9001».
Porém, é intuito da administração conquistar uma acreditação com um grau mais elevado de qualidade. A nível internacional, existem duas certificações relevantes, atribuídas pelo King’s Fund (Inglaterra) e pela Joint Commission (EUA), e o Hospital da Trofa está em negociações para ser auditado para obter esta última.
Tal desafio é, na perspectiva de Correia Martins, «excelente e muito exigente. O grau de qualidade é elevado e as auditorias demoram, por vezes, dois anos, o que implica um enorme empenhamento de todos os participantes, desde a mulher da limpeza até ao conselho de administração. Mas confere-nos uma certa referência. Por exemplo, podemos estabelecer protocolos com companhias de seguros estrangeiras de modo a que os seus cidadãos, durante a sua estada no nosso País, sejam observados neste hospital».
Panóplia de valências
No Hospital da Trofa não há tréguas no Serviço de Urgência. Funciona 24 horas/dia nas áreas de Clínica Geral e Medicina Interna e conta com o apoio das diferentes especialidades até às 22.00 h.
A Urgência Pediátrica está incluída no serviço, funcionando até às 23.00 h.
«Temos capacidade para dar resposta aos casos que nos aparecem no Serviço de Urgência. Apenas não dispomos de uma Unidade de Cuidados Intensivos, porque é mais vocacionada para os hospitais centrais, pois tem uma estrutura dispendiosa, que exige médicos e enfermeiros altamente especializados», refere o director clínico, acrescentando que «os casos de uma certa gravidade, como os politraumatizados, são de imediato encaminhados para o Hospital de S. João».
Com um cariz de urgência diferente, a Maternidade assume um papel muito importante nesta unidade hospitalar. Tem um espaço físico próprio – onde ocorrem aproximadamente 600 partos por ano – e recebe o apoio do Serviço de Neonatologia.
Hidroterapia com piscina, reabilitação cardíaca, electroterapia, termoterapia, cinesterapia são terapias, entre muitas outras, sem esquecer a fisioterapia convencional, que existem no Centro de Reabilitação deste hospital.
As consultas externas com maior afluência são as de Ortopedia e Otorrinolaringologia, bem como Urologia.
«O Serviço de Urologia está muito desenvolvido, recebe doentes de vários e hospitais e tem litotrícia, um método de tratamento das pedras no rim por ondas de choque», aponta Correia Martins, salientando também a importância da Medicina Dentária.
A aquisição de equipamento avançado para os exames de diagnóstico é uma das preocupações no Hospital da Trofa. A título de exemplo, dispõe de ressonância magnética, de um ecógrafo a 3D/4D, da última linha a aparecer em Portugal, que permite «ver» o bebé a três dimensões no útero materno.
«Recentemente, adquirimos um moderno equipamento que permite realizar a colonoscopia virtual, um exame que possibilita detectar patologias como o cancro do cólon», indica Correia Martins, apontando as diferenças entre esta técnica e a convencional:
«Para se ver o interior do intestino grosso, por norma, introduz-se um tubo no ânus para, através de uma câmara, se verificar eventuais estruturas anormais. Com a colonoscopia virtual coloca-se no ânus algo parecido com uma algália para se injectar ar no intestino e é feito uma TAC por cortes. É um método não invasivo que tem a duração de 10 minutos; mais tarde o médico perde mais de uma hora a ver o exame porque dele resultam mais de 300 cortes do intestino.»
Na área clínica, de futuro, é pretendido implementar um serviço destinado ao estudo exaustivo das vertigens.
É provável, ainda, que o Hospital da Trofa venha a ter consultas especializadas em Enurese e Cardiologia Pediátrica.
Futuro promissor
Como não poderia deixar de ser, ao longo dos últimos anos, houve algumas dificuldades, sobretudo no início. Contudo, foram ultrapassadas, sendo a viabilização um motivo de orgulho para quem dirige o Hospital da Trofa.
«Ultrapassámos todas as expectativas, quer em termos de taxa de ocupação, quer ao nível da prestação de serviços. Hoje temos uma oferta bem-estruturada e de qualidade.
Quatro anos após a abertura atingimos o break-heaven e nos últimos anos temos tido resultados positivos», evidencia José Vila Nova.
O crescimento deste hospital é notório, mas o espaço físico encontra-se já em ponto de saturação. Vai, pois, ser iniciado um processo de ampliação, em especial nas áreas de ambulatório e consultas, bem como nas salas destinadas às cirurgias.
Outro objectivo será fomentar a proximidade com a população, através da criação de mais policlínicas. Já existem na Maia, na Póvoa e em Paços de Ferreira e está para breve a inauguração de outra em Vila Nova de Famalicão.
Diz o presidente do Conselho de Administração que «estas pequenas unidades oferecem serviços de ambulatório e exames de diagnóstico mais simples. As situações mais diferenciadas de internamento e os exames mais sofisticados são feitos no Hospital da Trofa».
«É evidente», prossegue, «vamos continuar a apostar em novos serviços, no desenvolvimento técnico e nas novas áreas, de forma a proporcionar aos nossos utentes uma maior satisfação das suas necessidades».
A Casa de Saúde da Trofa – o grupo que detém as policlínicas e o Hospital da Trofa – tem ainda a intenção de edificar unidades hospitalares em outras zonas no Norte do País. O pretendido será criar uma rede de hospitais de média dimensão e de policlínicas.
Evolução do sector privado
«Enquanto hospital geral que é – e dentro da evolução do sistema privado de saúde em Portugal –, focalizamos e organizamos a nossa actividade nas necessidades dos nossos clientes, quer estejam ou não doentes», menciona José Vila Nova, continuando:
«Procuramos responder e constituir uma alternativa privada ao sistema público. Temos Serviço de Urgência, consultas de especialidade, exames de diagnóstico, entre outros serviços que vão de encontro à agenda das pessoas, com maior qualidade, personalização e eficiência.»
Ainda de acordo com o mesmo administrador, «a nova geração de hospitais privados começa já a assumir-se como uma real alternativa ao SNS. Por exemplo, o sistema privado de saúde já tem serviços que há alguns anos não existiam, como o Serviço de Urgência e cuidados intensivos.
Estamos a implementar o conceito de “Hospital Mall”, idêntico ao dos centros comerciais, onde as pessoas têm ao seu dispor uma diversidade de serviços acessíveis a qualquer hora do dia e da semana».
«Penso que vai aparecer uma nova vaga de hospitais especializados em determinadas áreas, ditas mais complicadas, como Oncologia e doenças cardiovasculares», completa José Vila Nova, que frisa que, «no geral, o sector privado já tem dimensão e vocação para se dedicar a áreas que estavam mais reservadas ao sistema público, pois, está a ganhar mais autonomia e tem uma maior maturidade».
Consultas externas
Anatomia Patológica
Anestesiologia
Cardiologia
Cardiologia Pediátrica
Cirurgia Vascular
Cirurgia Geral
Cirurgia Pediátrica
Cirurgia Plástica/Maxilofacial
Clínica Geral
Dermatologia
Endocrinologia
Endoscopia
Fisiatria
Gastrenterologia
Ginecologia/Obstetrícia
Imagiologia
Imunoalergologia
Imuno-hemoterapia
Medicina Dentária
Medicina Interna
Medicina Geral e Familiar
Neurocirurgia
Neurologia
Nutrição
Oftalmologia
Oncologia Médica
Ortopedia/Traumatologia
Ortopedia Infantil
Otorrinolaringologia
Pediatria/Neonatologia
Pneumologia
Podologia
Psicologia
Psiquiatria
Psiquiatria da Infância e Adolescência
Reumatologia
Urologia
Terapia da Fala
Imagiologia
Raio-x digital
Mamografia com Estereotaxia
Densiometria Óssea
Ecografia
Ecografia 3D/4D
TAC 6 cortes
Colonoscopia Virtual por TAC
Ressonância Magnética
ECO Doppler
Ortopantomografia
Radiologia de Intervenção
– Biopsia guiada por ECO ou TAC
Câmara Municipal preocupa-se com a saúde dos munícipes
A saúde é uma área que não é ignorada pela Câmara Municipal da Trofa, que desenvolve diversas iniciativas articuladas e estruturadas, muitas das quais envolvendo outras instituições. O intuito é promover hábitos e estilos de vida saudáveis, a ocupação salutar dos tempos livres, assim como a aquisição de competências psicossociais de forma a aumentar a auto-estima e evitar certos comportamentos de risco.
Regularmente são realizados rastreios à população em geral na área da Oftalmologia, colesterol, diabetes, tensão arterial, osteoporose, entre outros. A edilidade desenvolve, ainda, acções de informação e sensibilização sobre diversas temáticas.
A Câmara criou o Plano Municipal de Prevenção Primária das Toxicodependências, no âmbito do qual são desenvolvidas acções no sentido de fomentar hábitos saudáveis, minimizar os comportamentos de risco e promover a integração na comunidade.
Durante Dezembro último voltou a organizar rastreios de saúde no Trofabus (medição dos níveis de colesterol, glicemia e tensão arterial). Destinada aos mais idosos, trata-se de uma iniciativa levada a cabo pelo pelouro da Acção Social, que visa prevenir problemas de saúde como a hipertensão ou a diabetes.
Esta autarquia defende que alguns problemas de saúde podem dar origem ao insucesso escolar. Por isso, outro projecto concretizado na área da saúde dirige-se aos alunos do Ensino Básico do concelho. Nascido de um protocolo com a Policlínica da Trofa, objectiva proporcionar rastreios na área da Otorrinolaringologia, Oftalmologia, Cardiologia e Nutrição.
Texto: Sofia Filipe
Fotos: Jorge Correia Luís