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Artigo de Medicina e Saúde®

Nº 116 / Junho de 2007






46 Podologia - Os pés dos peregrinos
A Associação Portuguesa de Podologia organiza, desde o ano 2000, durante a época da peregrinação a Fátima, um conjunto de rastreios como forma de apoiar os que caminham pela fé. Em várias localidades, a caminho de Fátima, existiam vários pontos de apoio.


As caminhadas em direcção ao Santuário de Fátima são, para muitos, uma manifestação suprema da sua fé. Mas o apoio que os peregrinos recebem ao longo da peregrinação pode fazer a diferença na concretização dos objectivos. A CESPU – Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário desenvolve, desde o ano 2000, um projecto de apoio ao peregrino, em vários locais estratégicos ao longo de vários caminhos até Fátima, além de mais duas unidades na cidade de Fátima.

De acordo com o Dr. Manuel Azevedo Portela, podologista e presidente da Associação Portuguesa de Podologia (APP), «são, de facto, os pés que mais padecem com as duras e longas caminhadas. Suportam microtraumatismos repetitivos, com a sobrecarga de longas caminhadas, com a dificuldade de caminhar e com a vontade de vencer. São muitos quilómetros em pouco tempo e os pés manifestam-se através do excesso de transpiração, da maceração, do edema, das vesículas e flictenas (bolhas), das queimaduras, das entorses, das rupturas ligamentares, das dores e da incapacidade de marcha».

O apoio prestado aos peregrinos, nesta área da Podologia, envolve várias estruturas, nomeadamente académicas, institucionais e profissionais. Para esta edição de 2007 da peregrinação a Fátima, a APP equipou uma unidade móvel de Podologia, assente num camião TIR.

Segundo o presidente da APP, «o apoio aos peregrinos consistiu na avaliação das patologias de que o pé é alvo, do tratamento, de forma personalizada e diferenciada, das lesões identificadas e subsequente aconselhamento aos peregrinos para cuidados a ter e tratamentos posteriores a serem tidos em linha de conta».

A acção de apoio aos peregrinos, com os rastreios, decorreu entre os dias 5 e 12 de Maio, com pontos espalhados por Vila Nova de Famalicão, Santo Tirso, Oliveira de Azeméis, Águeda, Coimbra, Pombal e Fátima. Este apoio aos caminhantes foi iniciado pelo núcleo de alunos de Podologia da Escola Superior de Saúde do Vale do Ave e desde 2004 que conta com a colaboração da APP e da CESPU.

Para já, ainda só a zona Norte do País está contemplada, mas, a prazo, Manuel Portela pretende alargar os pontos de rastreio cada vez mais a sul.

«É verdade que estamos concentrados mais na zona Norte do País. O facto de os cursos só existirem no Norte tem a sua influência. No entanto, este é um processo gradual. Quando começámos em 2000 tínhamos apenas um ponto de apoio, mas, conforme vamos crescendo, vamos ganhando experiência e capacidade logística para darmos uma resposta mais abrangente. Este ano, conseguimos passar por várias localidades e vamos trabalhar para, no próximo ano, chegarmos cada vez mais a sul», finalizou o podologista.


Cuidados a ter em caminhadas

– Consultar um podologista para avaliar e tratar previamente os pés;

– Usar meias de fibras naturais e sem costuras;

– Em caso de meias com costuras, estas devem ser calçadas do avesso;

– Usar calçado que permita a respiração do pé;

– Calçar um sapato que permita a dilatação do pé (número acima do habitual);

– Trocar regularmente de calçado de dia para dia;

– Em períodos de descanso, manter as pernas elevadas;

– Sempre que necessário, e possível, recorrer a ajuda especializada;

– Não furar as bolhas, nem aplicar pomadas ou medicamentos sem aconselhamento de um especialista.


Testemunhos:

Peregrinos
«Chamo-me Helena e vim do Canadá para vir ao Santuário. Sou cabeleireira lá. Chegar aqui, depois de tanto sacrifício, e encontrar este tipo de apoio faz-nos muito bem, pois, é o que precisamos. Depois de estarmos aqui uns minutos, saímos com mais força e com mais coragem para seguirmos o nosso caminho. É algo que faz bastante diferença.»

Voluntários
«Chamo-me Hugo Silva, estou no 3.º ano do curso de Podologia e sou o presidente do núcleo de Podologia da Associação Académica da Escola Superior de Saúde do Vale do Ave. Nós, enquanto estudantes de Podologia, sentimos uma grande gratificação em podermos dar o nosso contributo para tratar as pessoas. Lembro-me de um caso, no ano passado, de uma senhora que chegou aqui e não conseguia andar. Ao final de uma hora de tratamento, saiu pelo seu próprio pé. É a prova que somos úteis. Além desta vertente pessoal, é importante para divulgarmos a área da Podologia. É um modo de chegarmos a uma população.»


Texto: Rui Miguel Falé
Fotos: Ricardo Gaudêncio
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