Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 114 / Abril de 2007
44 Obesidade - Terapêutica (in)acessível
A ADEXO conseguiu que a obesidade adquirisse o estatuto de doença crónica, mas continua a reivindicar a comparticipação do tratamento.
Até aos 23 anos, Carlos Oliveira, natural de Ílhavo, praticava muito desporto e desconhecia «na pele» os problemas originados pelo excesso de peso. Além de jogar basquete e praticar judo, tinha uma vida muito movimentada a nível profissional. O sedentarismo apareceu na sua vida desde que embarcou.
«Estive 15 anos embarcado e é difícil manter uma actividade física regular a bordo. Foi desta forma que se iniciou o meu processo de aumento de peso», afirma este capitão da Marinha Mercante, de 52 anos.
Em 1989, quando foi trabalhar para o terminal petroleiro do Porto de Sines, a balança já ultrapassava os 120 quilos. A situação agravou-se quando começou a desempenhar funções de gestão, com trabalho essencialmente de secretária.
«Atingi os 154 quilos e, com este peso, já era complicado movimentar-me. No entanto, as análises não revelavam nenhuma anomalia», conta Carlos Oliveira, actualmente a viver em Vila Nova de Santo André.
«Mas a obesidade estava a prejudicar-me de outra forma. Aliás, numa determinada altura, as patologias associadas à obesidade aparecem e de forma repentina», ressalva Carlos Oliveira, acrescentando: «Aos 46 anos, estava em risco de ter diabetes, tinha dificuldades respiratórias graves e problemas articulares. As pernas inchavam muito e tive rebentamento de microvasos.» E salienta: «Somente quando o quadro clínico é grave é que as pessoas consideram a obesidade uma doença.»
Para não deixar progredir a situação, colocou uma banda gástrica há seis anos. Perdeu 56 quilos e deixou de sofrer das doenças associadas à obesidade, mantendo agora, por prevenção, apenas o controlo da hipertensão arterial.
Doença crónica
Uma das lutas da ADEXO (Associação de Doentes Obesos e Ex-obesos de Portugal) – fundada há cinco anos por 60 doentes da Consulta de Obesidade do Hospital de Santo António, do Porto – é fazer crer à população, em especial àqueles que têm excesso de peso ou são obesos, que a obesidade é uma doença crónica e que deverá ser encarada e tratada como tal.
«Através da experiência dos nossos associados, tentamos transmitir a mensagem de que não devemos deixar atingir o limite. Até porque os tratamentos são complicados e não são acessíveis, isto é, ou a pessoa tem dinheiro e faz a terapêutica, ou inicia um processo de tratamento, integrando as listas de espera dos hospitais, que são intermináveis», informa Carlos Oliveira, que é presidente da ADEXO.
Tem cerca de 600 sócios e luta pelos direitos dos obesos. Concretizou um dos objectivos, contribuindo para que o Governo Português reconhecesse a obesidade como doença crónica, mas considera que não é encarada como deveria ser, pois o tratamento continua a não ser comparticipado.
«Gastam-se milhões no tratamento das consequências desta patologia, como as doenças cardiovasculares ou a diabetes tipo 2, mas continua-se a não investir no tratamento da causa, que é a obesidade», comenta Carlos Oliveira.
No que diz respeito à prevenção, o presidente da ADEXO indica que «existem diversas acções programadas, mas pouca vontade política para as colocar em prática. Por exemplo, o Programa Nacional de Luta Contra a Obesidade tem 23 estratégias, das quais algumas foram regulamentadas durante o ano passado, e não se vê que exista vontade de implementar ou de as colocar em produção».
Face a este impasse, o objectivo futuro desta associação é travar uma luta incessante para garantir que o tratamento da obesidade seja efectivamente comparticipado no nosso País. De acordo com Carlos Oliveira, «se é uma doença crónica, deve ter um plano de tratamento condigno, com acompanhamento específico, multidisciplinar e com avaliação prévia de cada caso. Será uma grande vitória se conseguirmos que o doente tenha uma terapêutica decente e comparticipada».
Outra finalidade da ADEXO, num futuro próximo, é tentar beneficiar os seus associados, estabelecendo protocolos com clínicas que se dedicam ao tratamento da obesidade, assim como com ginásios e outras entidades que de alguma forma possam apoiar na luta contra a obesidade.
Dia Nacional de Luta
Contra a Obesidade (19 de Maio)
Sendo que 60% da população portuguesa sofre de obesidade ou excesso de peso, não admira que uma das medidas de sensibilização fosse a criação de uma efeméride.
O Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade é assinalado no penúltimo sábado de Maio e procura fazer uma divulgação específica junto da população, através de campanhas e várias actividades (conferências, debates, ginástica, passeios, etc.).
Normalmente, reúnem-se as sociedades médicas e as associações, que estão ligadas às doenças cuja obesidade é uma das principais causas.
Contacto:
ADEXO – Associação de Doentes Obesos e Ex-obesos de Portugal
Telefone: 217 820 565 (dias úteis, das 15.00 h às 19.00 h)
Sítio: www.adexo.pt
Texto: Sofia Filipe