Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 113 / Março de 2007
20 Opinião - Humanidade, o pior vírus da Terra
- Dr. Álvaro Cidrais
Deprimente, mas
realista. Na ânsia de sermos mais ricos, com muita inconsciência, fazemos ao planeta o que o vírus da SIDA faz ao corpo humano. Mata-o!
É uma demência colectiva que importa contrariar. Mas, antes, há que cuidar da saúde mental!
Já sabíamos, mas não valorizávamos! O clima está a mudar. Finalmente, ao fim de 20 anos, os órgãos de comunicação social passaram a dar a devida atenção a este problema que decorre da acção irresponsável do vírus da Terra: a Humanidade. Pelo menos foi o que demonstraram os cientistas reunidos em Paris.
Em toda a história, nunca ocorreu uma extinção de espécies como agora acontece. Mais uma vez, somos nós os responsáveis! Mas os governos ainda pouco ou nada fizeram para contrariar esta tendência.
Ao nível da saúde e da educação, apesar dos técnicos falarem sobre este assunto, as medidas continuam a não ser visíveis. Os médicos e enfermeiros ainda não reflectem nas suas práticas as preocupações que derivam deste assunto para a promoção de hábitos saudáveis! Muitos professores tratam o tema como um conteúdo de aprendizagem sobre o qual não têm qualquer responsabilidade.
Nós, os que somos pais de jovens infantes, esquecemos de lhes demonstrar, através do exemplo, o quanto podemos fazer. Por vezes, nem o simples acto de separar os lixos fazemos!
Envolvidos num sistema económico depredador de recursos, caminhamos gradualmente para o descalabro sem ter em conta as provas científicas de que ele está a ocorrer.
Preferimos esconder o problema como o fazemos em relação aos massacres de seres humanos em África e à fome que ocorre por todo esse mundo.
Desta forma, fruto do modelo de sociedade moderna que desenvolvemos, transformámo-nos numa sociedade demente, angustiada e deprimida que, envolta naquilo que imagina ser a maior base de conhecimento de todos os tempos, se torna incapaz de garantir a sua sobrevivência!
Isto sim é um verdadeiro problema de saúde… mental!
Afinal, apesar dos elevados progressos tecnológicos e científicos que nos permitiram chegar à lua e equacionar a conquista de novos planetas ou prolongar a vida até aos 120 ou 150 anos, estamos, numa acção colectiva e individual, a cavar a nossa sepultura, com requintes de malvadez para os nossos filhos e netos. Não é justo!
Mas, pensando agora na nossa escala de vida, nos próximos 15 a 20, há um outro problema preocupante que emerge: a nossa falta de saúde mental!
A afirmação não é só minha!
Em 2020, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os episódios agudos de doença mental serão a principal causa incapacitante para o trabalho, com fortes reflexos na economia europeia. É mais um sinal de falência desta estirpe perigosa de vírus do planeta Terra.
A OMS tem vindo a alertar para este problema desde 2002, colocando o tema na ordem do dia. Agora, a UE e Portugal estão a olhar atentamente para o assunto. Mas, quando existirão medidas efectivas? De que modo é que as organizações e as pessoas estão preparadas para este desafio? O que poderemos fazer?
Estas serão respostas que teremos, em princípio, no final do mês de Março, quando a Comissão Nacional para a Reestruturação dos Serviços de Saúde Mental apresentar os resultados do seu trabalho.
Mas será que a comunicação social lhe dará a devida importância? Ou teremos de esperar 20 anos até que, uma enorme conferência internacional permita falar sobre o assunto?
Dr. Álvaro Cidrais
Geógrafo e Consultor