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Artigo de Medicina e Saúde®

Nº 107 / Setembro de 2006






34 Opinião: Um passaporte para a saúde cardiovascular dos portugueses
- Prof. Cassiano de Abreu e Lima
Em cada hora morrem quatro portugueses por doença cardiovascular. A maior parte destas mortes – mais de ¾ delas – deve-se à aterosclerose, uma doença caracterizada por depósitos de colesterol nas paredes e entupimento das artérias, os vasos sanguíneos que abastecem os tecidos do nosso corpo com o oxigénio e as substâncias nutritivas indispensáveis às funções dos órgãos e à vida.


A mortalidade cardiovascular nem sempre teve esta expressão em Portugal. Em 1960 e em 1970, a mortalidade cardiovascular representava cerca 26% da mortalidade total e em 2000, orçava os 39%, um aumento de 47%. Note-se que o máximo da mortalidade cardiovascular foi registado em 1990, depois de uma subida em flecha a partir de 1970.

De 1990 para cá, a mortalidade cardiovascular tem descido lenta e gradualmente, a reflectir os progressos da medicina no tratamento destas doenças, sobretudo dos seus episódios agudos.

A aterosclerose é favorecida por várias características negativas do estilo de vida que as populações das economias de mercado tendem a adoptar como ingestão excessiva de energia alimentar, em particular de certos produtos de origem animal – de que resultam excesso de peso, obesidade e aumento do colesterol – e sedentarismo de sorte que é tentador associar, pelo menos em parte, este substancial crescimento da mortalidade cardiovascular dos últimos trinta e tal anos ao desenvolvimento económico e à melhoria das condições de vida que se seguiram ao 25 de Abril. Digamos que é o desagradável reverso da medalha do progresso económico.

A doença vascular aterosclerótica tem, fundamentalmente, duas grandes expressões clínicas consoante os territórios arteriais afectados. Uma é a doença das artérias que irrigam o coração, artérias que por se disporem como uma coroa sobre as câmaras cardíacas mais musculadas, os ventrículos, se chamam artérias coronárias; a aterosclerose destas artérias leva à angina de peito e ao ataque cardíaco, entre outras manifestações.

O ataque cardíaco pode consistir no enfarte do miocárdio com maior ou menor sobrevivência do doente (horas ou anos) ou traduzir-se pela morte súbita e inesperada de um cidadão que eventualmente nem sabe que é doente, que tem aterosclerose. A mortalidade cardiovascular devida a doença aterosclerótica das coronárias representava entre nós no quinquénio 1988-92 cerca de 20% da mortalidade cardiovascular total.

A outra expressão clínica principal da doença vascular aterosclerótica é a doença das artérias que irrigam o cérebro, dita doença cerebrovascular ou vascular cerebral, como se quiser.

Esta doença tem enorme impacte na mortalidade entre nós: no período atrás mencionado foi responsável por cerca de 55% da mesma mortalidade cardiovascular total. Note-se que esta relação entre as duas formas principais de doença aterosclerótica é inversa da que se observa nos países industrializados da Europa e da América do Norte onde a mortalidade cardiovascular dominante é a devida a doença das coronárias.

Para isto certamente contribui a enorme proporção ou prevalência de hipertensão arterial na população portuguesa. A hipertensão além de favorecer a aterosclerose e, por via desta, a obstrução arterial, enfraquece a parede destes vasos sanguíneos e, como o próprio nome indica, eleva a tensão que o sangue exerce sobre elas facilitando a respectiva ruptura, ruptura esta que no cérebro se faz com mais facilidade do que noutros territórios. O entupimento ou a ruptura de uma artéria cerebral produzem o ataque cerebral de que pode resultar a morte ou a diminuição ou a perda de funções motoras.

A hipertensão arterial afecta cerca de 42% dos indivíduos com 18 anos ou mais entre nós portugueses, segundo um estudo recente levado a cabo a nível nacional. Um outro estudo realizado no Porto em indivíduos com 45 anos ou mais revela que a prevalência de hipertensão anda à roda dos 60%!

Um rastreio de rua levado a cabo em todo o País entre Abril de 2005 e Abril de 2006 no âmbito do programa Bem-Me-Quero, um programa educacional da Sociedade Portuguesa de Cardiologia destinado a chamar a atenção para a importância da doença cardiovascular aterosclerótica na mulher, revela que a hipertensão afecta cerca de 47% das 10.885 mulheres com 18 anos ou mais observadas (média de idades 54 anos). Ou seja, a hipertensão é, entre nós portugueses um verdadeiro flagelo.

A hipertensão é, portanto, um importante factor de risco da doença aterosclerótica. E o que são factores de risco? São características e hábitos individuais que concorrem para o desenvolvimento da aterosclerose, de que outros exemplos muito importantes – além do excesso de peso, obesidade e sedentarismo, já mencionados – são o tabaco e a diabetes.

A idade é outro destes factores, sendo directa a relação entre os dois, ou seja, o risco cardiovascular aumenta à medida que a idade do indivíduo avança. Por aqui se vê que há factores de risco – como a idade - que não são modificáveis, enquanto outros o serão: deixar de fumar, ou baixar a tensão alta com tratamento adequado, por exemplo.

Os factores de risco de doença vascular aterosclerótica tendem a agregar-se, pelo que é comum um mesmo indivíduo ter dois ou mais destes factores. A importância da agregação de factores de risco é que dela resulta não um mero efeito aditivo, mas sim multiplicativo sobre o risco. A noção de risco é intuitiva: é a probabilidade de se observar um dado evento no futuro, geralmente um evento não desejado, como um incêndio ou um acidente.

Estas estimativas de probabilidade, geralmente expressas em percentagens, baseiam-se na experiência, concretamente na frequência com que os eventos ocorreram no passado.

Em termos de saúde, os eventos que nos preocupam e cujos riscos queremos conhecer e reduzir são as ocorrências de doença ou de morte. Vejamos, a título de exemplo, o caso de um homem, português e a viver em Portugal, de 55 anos, fumador, cujo colesterol está habitualmente acima de 8 mmol (mais de 300 mg/dl) e que é hipertenso, pois, a sua pressão arterial sistólica, a que também se chama máxima, anda à volta dos 180 mmHg.

O risco deste homem morrer de doença cardiovascular antes de completar 65 anos é muito elevado e pode ser estimado em 12%. Quer isto dizer em cada 100 homens com este perfil, 12, em média, morrem por doença cardiovascular dentro de 10 anos (em consequência de ataque cerebral, por exemplo). Contudo, se deixar de fumar e com os tratamentos adequados a sua pressão arterial vier para os 120 mm Hg e o colesterol para valores à roda de 5 mmol (entre 150 e 200 mg/dl), este homem vê o seu risco de morte no mesmo período de tempo reduzir-se para cerca de 1%, uma redução muito substancial.

Este exemplo pode servir para compreender os benefícios da prevenção através do controlo dos factores de risco, controlo este que deve estender-se a todos os factores presentes no indivíduo, e não apenas a este ou aquele que pelos valores que o medem é o mais impressivo. Por outras palavras: é necessário atacar globalmente os factores de risco e ninguém melhor do que o médico de família para a correcta avaliação de cada caso particular.

Por outro lado, a relação directa do aumento de risco com a idade, chama a atenção para a necessidade de as medidas preventivas começarem na infância, desenvolvendo desde muito cedo hábitos de vida saudáveis.

Não é apenas em Portugal que as doenças cardiovasculares têm esta importância enquanto causas de morte e de incapacidade, de anos de vida perdidos e de consumo de recursos, individuais, familiares e da comunidade: o mesmo se passa – em vários casos com muito maior expressão do que entre nós – na generalidade dos países de economia de mercado estabelecida ou emergente.

A pesadíssima carga das doenças cardiovasculares na Europa e a compreensão da necessidade de a reduzir, nas suas várias incidências, através de medidas preventivas são a razão de um programa europeu em curso que agrega, numa ampla convergência de esforços, a Sociedade Europeia de Cardiologia e as Sociedades de Cardiologia Nacionais, entre as quais a Portuguesa, as Fundações de Cardiologia, as Autoridades de Saúde dos Estados Membros da União, a Comissão Europeia e outras estruturas nacionais e internacionais. Este programa, a desenvolver até 2008, as suas razões e propósitos são consubstanciados na Declaração de Luxemburgo proclamada em Junho de 2005 e que a Sociedade Portuguesa de Cardiologia também subscreveu.

A Declaração de Luxemburgo chama a atenção para a importância de um conjunto de medidas inseridas em atitudes e hábitos que devem passar a definir, se não o definem já, o nosso estilo de vida:

– Abolição completa do tabaco (0);

– Actividade física adequada (pelos menos 30 minutos por
dia de marcha);

– Alimentação equilibrada e saudável, abundante em fibras vegetais (legumes, saladas, fruta, cereais), pobre em gordura animal e o mais pobre possível em sal;

– Controlo do peso, tomando como peso ideal menos de 25 kg/m2 de superfície corporal (obtemos o nosso peso por m2 de superfície corporal dividindo o peso em quilos pela altura em metros elevada ao quadrado);

– Controlo da pressão arterial (que deve estar abaixo de 140, a máxima e de 90 mínima);

– Controlo do colesterol (que deve estar abaixo dos 5 mmol, isto é menos 200 mg/dl).

Estas recomendações podem ser sintetizadas num número 0-
30-140-90-5.

Percebendo o significa deste número, fixemo-lo e façamos dele o número do nosso passaporte para a saúde cardiovascular.
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