Artigo de Medicina e Saúde®
Nº 105 / Julho de 2006
27 Dossiê - Cerveja tem lugar na nutrição
Loira, preta, ruiva... hoje, existe uma panóplia de cervejas capazes de satisfazer diversos paladares. E, desde que consumidas com moderação, são bebidas alcoólicas que até podem ser benéficas para a saúde.
A época estival convida a «umas cervejinhas» acompanhadas de petiscos vários, entre eles os famosos caracóis. Pior é quando se abusa... Os efeitos do álcool não tardam em aparecer e, mais tarde, o fígado poderá ressentir-se.
Porém, desde que consumidas moderadamente até trazem alguns benefícios para a saúde. É o que acontece com a cerveja.
O Dr. Jean-Michel Lecerf, endocrinologista e director do Departamento de Nutrição do Instituto Pasteur de Lille, em França, foi o palestrante do Simpósio Nutrição: Um Lugar para a Cerveja?, que foi promovido pela Associação Portuguesa dos Produtores de Cerveja (APCV).
Apresentou dados científicos que indicam que a ingestão moderada de cerveja pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares, melhorar os índices de colesterol, prevenir o cancro, proteger a saúde do osso e melhorar a função cognitiva.
De acordo com o investigador, «a cerveja tem um lugar na nutrição porque, a par dos benefícios, não apresenta efeitos adversos para a saúde. Quando o seu consumo é associado a um padrão e vida saudável, que inclui a actividade física regular e uma dieta alimentar equilibrada, contribui para uma boa nutrição e para a saúde».
O fabrico desta bebida necessita de cereais (cevada), malte de lúpulo e um processo de fermentação que tem de ser devidamente conduzido.
O conteúdo nutricional médio da cerveja é o seguinte: hidratos de carbono (40 gramas/litro), álcool (cerca de 38 gramas/litro), proteínas (cerca de cinco gramas/litro); mas contém também vitaminas (B1, B6, B9, C) alguns minerais e fitonutrientes (polifenóis, fitoestrogénios).
Outro benefício do «chá de cevada» é o baixo índice glicémico, que pode melhorar a sensibilidade à insulina.
Desta forma, não está directamente envolvida na ocorrência de diabetes mellitus, excepto nos casos de consumo abusivo, com excesso de peso abdominal ou simultaneamente.
Além do mais, existe muita informação sobre os compostos fenólicos da cevada e do lúpulo, que são pró-antocianidas (catequinas) e flavonóides (xanto-humol, isoxantumol e 8-prenilnarcingenina). Estes compostos possuem efeitos antioxidantes, mas também propriedades fitoestrogénicas, as quais podem estar envolvidas na prevenção do cancro, na protecção do osso ou na melhoria da função cognitiva.
De facto, estão a surgir novas abordagens sobre o papel benéfico e nutricional da cerveja. Mas são ainda necessários mais estudos que determinem o lugar e a quantidade de cerveja para uma boa saúde.
Todavia, Jean-Michel Lecerf alertou que «o consumo excessivo de cerveja, associado com uma subnutrição, é prejudicial para a saúde. Pode, por exemplo, causar cancro, osteoporose e encefalopatia. O modo de consumo é também uma variável dos efeitos da cerveja na saúde».
Texto: Sofia Filipe